Carlos JardelColunistas

Apedrejamento: é pecado e crime expor a intimidade de padres homossexuais

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Por mais que algum padre homossexual venha ser hipócrita e falso moralista, do tipo que utiliza o poder da batina e do presbitério para proferir discursos homofóbicos e condenar ao inferno as relações homoafetivas, não pode ser considerado correto o fato de alguém expor ao público suas relações secretamente amorosas que, obviamente, só dizem respeito ao próprio e a Deus. Fazer isso é atentar contra a caridade cristã e discorrer na absoluta contramão da Misericórdia e dos demais valores do Evangelho de Jesus Cristo.

Antes, para que não haja má interpretação: nem todo padre homossexual é hipócrita e falso moralista. A imensa maioria é muito mais comprometida com as causas do Reino de Deus do que alguns sacerdotes heterossexuais, que fazem por vezes jus aos “sepulcros caiados” da Bíblia.

Além de não ser uma atitude cristã, expor inquisitivamente os segredos pessoais de quem quer que seja, é crime! Conforme diz o artigo 146 do Código Penal Brasileiro: “é crime molestar alguém [e padre é alguém] invadindo-lhe a esfera de privacidade ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por qualquer outro motivo reprovável”. A pena para quem nisso incidir é de “02 (dois) a 04 (quatro) anos de detenção”.

Tratando do tema na dimensão religiosa, lembra do episódio bíblico da mulher adúltera, prestes a ser apedrejada, levada ao mestre Jesus? Então: sempre que um homossexual tem suas relações secretas expostas criminosamente, através das redes sociais e de outros meios, esse episódio bíblico drasticamente se atualiza. Porque convoca para o ‘apedrejamento virtual’, para a execução sumária da reputação humana, para o absurdo e mais completa ato de violação do 5º mandamento da Lei de Deus: Não matar!

Por quais motivos alguém jogaria no esgoto da Internet e da sociedade homofóbica as fotos intimas de padres homossexuais nos seus relacionamentos secretos que não seja apenas pelo prazer da vingança pessoal, preconceito ou tão somente pelo exercício da homofobia?

É para se perguntar onde parou o “quem dentre vós não tiverdes pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7) e o “Sedes misericordiosos como é o vosso Pai (Lcv 6,36)”? Pois, é uma situação que empurra para as profundezas da depressão o individuo exposto, que também é filho amado de Deus e que, obstante a qualquer coisa, precisa ser tratado com a dignidade que Jesus ensinou a dar e ter.

Trago para a reflexão os casos específicos de padres por terem recentemente pipocado nas redes sociais do Brasil, principalmente em grupos de WhatsApp, fotos íntimas de membros do Clero brasileiro vivenciando momentos de relações homoafetivas. Também porque é o tipo do assunto que a desonestidade conduz aos crimes de pedofilia na Igreja. Por isso é preciso afirmar: nem todo padre homossexual é pedófilo! Os que são, logicamente, precisam ser denunciados aos setores da Justiça para serem responsabilizados por seus crimes, bem como precisam ser afastados do Clero. 

Por fim, a própria Igreja Católica precisa fazer mea-culpa, pois muitas dessas agressões são frutos do fundamentalismo, do conservadorismo e do clericalismo, fortemente alimentados na sociedade por significativa parte do próprio Clero, que empodera o preconceituoso e o homofóbico.

Definitivamente as relações secretas homoafetivas de padres não são o mal da Igreja. O mal da Igreja é não combater o mau-caratismo dos seus e colocar armas nas mãos dos seus próprios algozes. 

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