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Falece o Padre Ticão, ícone na luta por direitos na Zona Leste
Por Luis Miguel Modino

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

O ano começava na Zona Leste de São Paulo com uma notícia que ninguém esperava, o falecimento do Padre Antônio Luiz Marchioni, o Padre Ticão. Ele foi um dos grandes colaboradores do cardeal Paulo Evaristo Arns e de Dom Angélico Bernardino, o bispo da Zona Leste, que o chamava “o Trator de Deus da Zona Leste”, na tentativa de fazer realidade uma Igreja sustentada nos princípios do Concilio Vaticano II, uma Igreja Povo de Deus.

Um dos nomes mais destacados dos movimentos e pastorais sociais das últimas décadas, o Padre Ticão dedicou sua vida sacerdotal, que se estendeu por 42 anos, a fazer uma Igreja pobre e para os pobres, em saída, presente nas lutas do povo por educação, moradia, saúde, por direitos e políticas públicas, algo tradicionalmente desrespeitado na periferia de São Paulo. Quem conheceu o padre Ticão, tem mostrado nas últimas horas testemunhos do que ele representou.

Em 2010, o padre Ticão, junto com outros quatro padres da diocese de São Miguel Paulista, da qual fazia parte desde a divisão da arquidiocese de São Paulo, deu início à Igreja Povo de Deus em Movimento – IPDM, onde segundo Eduardo Brasileiro, um dos representantes brasileiros na Economia de Francisco, “conheci a energia magistral do Ticão de conduzir reuniões, de sua mediação impecável e de seu modo singular de driblar a velha política e conquistar direitos para o povo”, pois segundo Brasileiro, “Ticão viveu sua vida sendo de todos”.

O padre Ticão conseguiu que na Zona Leste fossem construídas 35 mil casas populares na Zona Leste de São Paulo, segundo afirma o Regional Sul 1 da CNBB numa nota de condolências. O texto assinado pelos bispos que formam a presidência, afirma que “Pe. Ticão é personagem dos mais conhecidos na Zona Leste da Capital paulista e deixa um valiosíssimo legado, graças ao seu envolvimento e sua liderança junto aos movimentos populares, especialmente o de Moradia, com vistas à mobilização e à luta para a conquista de moradia para o povo”. Junto com isso, o texto destaca seu “trabalho de cuidado da saúde e prevenção de doenças”, e seu “esforço de inclusão e valorização das pessoas idosas, por meio de centros de convivência para idosos”, assim como “o trabalho com pessoas portadoras de deficiência e a luta por uma Universidade na Zona Leste”.

Os bispos do estado de São Paulo têm insistido no “trabalho de formação de lideranças, articulação e mobilização, promovendo e valorizando os fóruns populares” desenvolvido pelo padre Ticão, que definem como “um sacerdote com esse grau de dedicação ao povo pobre da periferia. Gastou sua vida perseguindo os mais nobres ideais: um verdadeiro pastor segundo o coração de Jesus Cristo”, alguém que sempre esteve no meio dos pobres, “razão de ser de seu contagiante idealismo e seu eloquente testemunho cristão”.

Na mesma linha, Fernando Altemeyer Junior, define o padre Ticão como “pastor e amigo do povo, em todas as horas e lugares. Interlocutor sábio diante de qualquer governo ou autoridade. O povo sempre em primeiríssimo lugar. Homem de Deus e profeta do Evangelho. Cuidava com esmero do estudo e cultivo da Palavra de Deus”. Para alguém que pode ser considerado como um dos grandes estudiosos da Igreja do Brasil, o recentemente falecido, mostrava “suavidade e firmeza permanentes, particularmente com os pequeninos”.

O padre Júlio Lancellotti, pároco da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, também tem se manifestado diante da morte do padre Ticão, afirmando que ela é “a perda de um modelo de Igreja, comprometida com o povo, a mudança, a transformação, com o Evangelho”. Desde o mundo político, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, se manifestou dizendo que “2021 começa com a triste notícia do falecimento do Padre Ticão. Grande defensor da população mais carente da Zona Leste de São Paulo. Um guerreiro na luta pela diminuição das desigualdades sociais. Descanse em paz”. Também mostrava seu pesar o deputado federal de São Paulo pelo PT, Paulo Teixeira, que definia o padre Ticão como “uma pessoa a frente do seu tempo, um visionário, além de um religioso acolhedor e realizador”, destacando suas múltiplas conquistas ao longo de tantos anos, alguém que “desde o firmamento ele continuará a nos convocar para as lutas por um país mais justo”.

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