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Movimento Nacional Fé e Política realiza Seminário sobre Conjuntura e Bem-Viver

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Luis Miguel Modino.
Publicado em Religión Digital, 21 de mayo de 2017 a las 21:45 – https://goo.gl/4pa62b

Tradução: Francisco Orofino – CEBI/Iser Assessoria

O Movimento Nacional de Fé e Política do Brasil se reuniu no final de semana (19 a 21 de maio) no Rio de Janeiro num Seminário no qual mais de 70 participantes, vindos de todas as partes do país e representando cinco Igrejas cristãs, aprofundaram o tema “CONJUNTURA: Economia, Meio Ambiente, Política e Profetismo na perspectiva do Bem-Viver”.

A situação de crise institucional que vive o país, com os constantes escândalos de corrupção atingindo os mais destacados líderes políticos e que nesta semana respingaram no presidente da República Michel Temer e no candidato da Direita nas últimas eleições Aécio Neves, que perdeu seu cargo de senador, foi o pano de fundo que direcionou as reflexões feitas nestes dias.

A atual conjuntura brasileira não é diferente da de muitos outros países, dominados por grupos financeiros que definem o futuro sócio-político no mundo atual. Não podemos esquecer, como assinalou o sociólogo Sílvio Caccia Bava, editor do Le Monde Diplomatique Brasil, que 62 famílias são donas dos mesmos recursos que possuem os outros 99% da humanidade. Esta dinâmica, onde a economia domina o sistema democrático, se traduz num aumento da desigualdade e num brutal e constante ataque ao meio ambiente que pode conduzir, num futuro não muito distante, a uma guerra pelo controle dos recursos naturais.

As grandes corporações empresariais brasileiras vivem dos juros da dívida pública que, para dar um exemplo do que isso significa, representa hoje um valor quase seis vezes maior que o orçamento destinado à saúde pública. Esta dinâmica é sustentada pelo poder legislativo pois não podemos esquecer que mais de 70% dos deputados foram eleitos com o apoio financeiro das grandes empresas, como está sendo demonstrado pelos contínuos escândalos de corrupção que vão aparecendo a cada dia.

Partindo de uma idéia presente na encíclica Laudato Sì, a pesquisadora da universidade Rural do Rio de Janeiro e participante da COP-21, Camila Moreno afirmou em sua intervenção que é fundamental pensar a ecologia e a política como algo inseparável se quisermos superar a crise ambiental de múltiplas dimensões pela qual está passando o planeta.

Para avançarmos nesta direção, a espiritualidade do Bem-Viver pode nos ajudar a recuperar a perda da relação entre a natureza e o sagrado, presente nos povos originários, inclusive na tradição bíblica primitiva e que foi destruída pelo sistema capitalista. Diante desta realidade sócio-política é necessário que os cristãos, homens e mulheres de Deus, assumam uma atitude profética de revolta em nome do Projeto de Deus, como dizia a pastora metodista Elizabeth Cristina de Andrade de Oliveira, que a partir de uma fé fortalecida na comunidade, possam mostrar um novo modo de ver a realidade.

Não podemos esquecer, como ressaltava a pastora luterana Romi Bencke, Secretária executiva do CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs) que a fé não é instrumento de opressão e de desigualdade, mas sim algo que nos iguala e nos liberta.

Na opinião da Secretária do CONIC vivemos em uma sociedade dominada pelo mercado, inclusive as próprias igrejas, o que dificulta a possibilidade de falar de igualdade e liberdade em Deus e da espiritualidade do Bem-Viver. Isto resulta que hoje fé e política sejam dominadas por uma lógica que não gera libertação e sim controle, chegando a dar-se uma simbiose entre fundamentalismo religioso e fundamentalismo de mercado, o que esvazia de conteúdo a própria democracia.

A partir desta reflexão a pastora luterana se pergunta como o Movimento de Fé e Política pode ajudar a derrubar os muros que separam Deus da Humanidade.

Neste sentido ressalta que não podemos esquecer que o projeto de Deus é de inclusão e que a religião é fonte de injustiça quando exclui ao outro em nome de idéias ou pensamentos religiosos, sendo necessário passar de praticar a fé em Jesus Cristo a assumir a fé em Jesus Cristo.

A encíclica Laudato Sì ajuda a entender a relação entre profecia e política. A partir desta tese, o professor da Universidade Católica de Brasília, Daniel Seidel refletiu sobre a atual crise política brasileira que provocou um descrédito dos partidos e instituições, uma criminalização da política e um ataque aos direitos sociais, consequência de uma economia que mata e de um sistema tecnocrático que não leva em conta o povo e explora a natureza sem medidas.

A situação sócio-política atual tem suas conseqüências tanto no campo social (colonialismo, racismo e discriminação, autoritarismo, consumismo, exclusão das mulheres …)  como no campo religioso (crise de compromisso comunitário, teologia da prosperidade, dos paramentos, do incenso, dos milagres, moralismo hipócrita, pederastia, exclusão dos pobres da Igreja, negação do protagonismo juvenil e das mulheres…)

Diante desta situação, Seidel percebe sinais de esperança na política que se expressam, entre outras coisas, nas mobilizações populares, nas ruas e nas redes sociais, nas organizações que promovem a economia solidária. Também existe essa esperança no campo da fé concretizada na figura e na profecia do papa Francisco, na tentativa de realizar a proposta do Bem-Viver, na REPAN e na reação dos bispos diante da situação política que o país atravessa. É necessário assumir a realidade de uma Igreja em saída, presente na vida social e buscar alternativas que ajudem a superar os atuais males sociais.

Os participantes, a partir destas reflexões, buscaram caminhos que ajudem a construir a sociedade do Bem-Viver. Para isso é necessário que os participantes do Movimento de Fé & Política empreendam ações e animem outros a assumir a mesma dinâmica que ajudem a superar a atual situação brasileira.

Não esqueçamos, como ressalta Pedro Ribeiro de Oliveira, que existe uma guerra de idéias na atual sociedade, e também nas igrejas, e que o Bem-Viver, assim como outros conceitos, é uma das armas que podem ser usadas. O mais importante será convencer as bases sobre a necessidade de assumir esta proposta. Para isso, o Movimento de Fé & Política deve atuar como fermento e incentivo deste processo.

É necessário, segundo Daniel Seidel, que o Movimento F&P seja uma voz profética e tenha uma ação profética que pode tornar-se realidade através das denúncias, lutas, formação e articulação, dentro e entre as Igrejas e religiões, assim como com os movimentos sociais e as juventudes, tonando-se assim fonte de resistência eclesial e político-social.

Este Seminário nacional do Movimento de F&P foi um novo passo que tem como meta o 11º Encontro Nacional de Fé & Política que será celebrado em Fortaleza, em 2019, quando então serão comemorados os 30 anos da caminhada.

O Movimento de Fé & Política não tem outro objetivo do que seguir num dos aspectos mais enfatizados pelo papa Francisco para quem “envolver-se na política é uma obrigação para o cristão” insistindo na necessidade de “imiscuir-nos na política porque a política é uma das mais altas formas de praticar a caridade porque busca o bem comum”.

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