
“A Ética da Libertação é assumida como uma perspectiva e uma alternativa; ambas – perspectiva e alternativa – partem de uma situação concreta, de uma realidade histórica”, lida – analisada e interpretada – desde os Pobres. Essa situação concreta é, para nós, a América Latina e o Caribe (mas vale também para a situação concreta da África, da Ásia e da Europa). Delas – perspectiva e alternativa – “a Ética da Libertação recebe seus elementos essenciais e assume, a partir desta situação, os problemas universais do Ser humano e da sociedade” (Caldera, A. S. Filosofia e Crise. Pela Filosofia latino-americana. Vozes, Petrópolis, 1984, p. 25).
Na realidade, a Ética da Libertação (toda Ética é da Libertação: liberta de tudo aquilo que impede a Vida) faz parte da Antropologia filosófica e/ou teológica da Libertação.
Na primeira série de artigos sobre a Ética da Libertação, as reflexões teológico-pastorais são vividas e tematizadas em torno do eixo: O Ser humano.
Neste – o primeiro da série – apresento um quadro geral, que é, ao mesmo tempo, um roteiro, dos temas que serão desenvolvidos posteriormente:
- O Ser humano “no-mundo” (“no-espaço” e “no-tempo”): a “mundanidade” (“espacialidade” e “temporalidade”) do Ser humano e de todos os seres.
- O Ser humano “com-o-mundo” (“com-o-espaço” e “com-o-tempo”): a “mundanidade” (“espacialidade” e “temporalidade”) consciente, própria do Ser humano, ser pluri-dimensional e pluri-relacional (ser de relações).
- “Com-o-mundo material e vivente” e “com-os-outros” (semelhantes).
- “Com-o-Outro absoluto” (Deus).
- O Ser humano histórico: a “historicidade” do Ser humano.
- O Ser humano social: a “socialidade” do Ser humano histórico.
- O Ser humano individual: a “individualidade” do Ser humano histórico.
- O Ser humano corpóreo: a “corporeidade” do Ser humano individual.
- O Ser humano bio-psíquico: a “bio-psiquicidade” do Ser humano individual.
- O Ser humano espiritual ou pessoal: a “espiritualidade” ou “pessoalidade” do Ser humano individual.
- O Ser humano meta-histórico: a “meta-historicidade” (“meta-socialidade” e “meta-individualidade”) do Ser humano.
- O Ser humano meta-histórico “já e ainda não” no mundo (no espaço e no tempo): a meta-historicidade relativa.
- O Ser humano meta-histórico “além da morte” na eternidade: a meta-historicidade absoluta (plena).
Termino com uma oração: “Assim como aqui (em assembleia) nos reunistes, ó Pai, à mesa do vosso Filho em união com a Virgem Maria, Mãe de Deus (e nossa), e com todos os santos e santas, reuni no Mundo Novo, onde brilha a vossa paz, os homens e as mulheres de todas as classes e nações, de todas as raças e línguas, para a ceia da comunhão eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Oração Eucarística VIII).
Na sociedade e – mais ainda – na Igreja precisamos acabar com as classes. Todos e todas (incluindo a comunidade LGBTQIA+) – mesmo sendo pessoas humanas únicas e diferentes (cf. a Teoria da Evolução de Darwin) – somos iguais em dignidade e valor.
Todos e todas somos filhos e filhas do mesmo Pai-Mãe que é Deus. Todas e todos somos irmãos e irmãs em Cristo.
É este o projeto de vida – de sociedade e de mundo – de Jesus de Nazaré: a Boa Notícia do Reino de Deus. É este o Projeto de Vida Popular (verdadeiramente fraterno, comunitário, socialista). Por fim, é este o Projeto de Vida humano, ético e cristão.