Sem discernimento não há sinodalidade

Por Luis Miguel Modino

A polarização foi instalada como uma realidade cada vez mais presente em nossa sociedade, que obviamente tem repercussões na Igreja. Vivemos em um mundo onde tudo está interligado e isso deve nos levar a entender a nova dinâmica social. A violência, que se manifesta especialmente em atos de intolerância, quer ser imposta como o novo parâmetro, causando aplausos entre os co-religiosos, que demonstram sua raiva em várias manifestações.

No campo eclesial, isso dificulta a sinodalidade, que sempre nos leva a caminhar juntos, mesmo com quem pensa diferente. Para isso é necessário conhecer a realidade e discerni-la desde um desejo de comunhão, que possibilitará a instalação de novas realidades e dinâmicas como caminho a seguir.

Estamos nos últimos dias do Sínodo para a Amazônia, que está sendo celebrado no Vaticano de 6 a 27 de outubro. Uma grande diversidade de vozes, vindas do território, mas também de outras realidades sociais e eclesiais, tentaram encontrar novos caminhos para a Igreja e uma ecologia integral, tudo a partir do olhar e da escuta atenta daquele que, finalmente, depois de fazer seu próprio discernimento, decidirá como realizar esses novos caminhos, o Papa Francisco.

A assembleia sinodal do Sínodo para a Amazônia, em um desejo explícito do Papa Francisco de realizar uma Igreja onde todos caminhamos juntos, tem sido um lugar onde vozes repetidas confirmaram que se podia falar sem medo e que, em princípio, não havia temas tabu. Isso já é um avanço, porque, pelo menos, oferece mais elementos que possibilitam um melhor exercício de discernimento.

A coisa diferente sobre este Sínodo que estamos vivendo é que ele teve como base um longo e extenso processo de escuta. Durante muito tempo, as vozes de muitas pessoas foram reunidas, mostrando a imensa riqueza social, cultural e religiosa que envolve o território amazônico, muita vida que foi trazida a Roma como elemento fundamental do discernimento sinodal. Quem está dentro da sala sinodal, seja um padre, auditor ou perito sinodal, faz isso em nome dos povos e da Igreja da Amazônia, ansiosos por encontrar esses novos caminhos.

Os diferentes pensamentos, na medida em que são fruto do discernimento, enriquecem, mas para isso é necessário permanecer, ouvir a voz de Deus, que nos é comunicada por meio de sua Palavra, e a partir daí, encontrar o caminho a seguir. Não podemos esquecer que a Igreja, que é santa e pecadora, deve ser a presença de Deus no meio de seu povo, ao qual ao longo da história se manifestou e acompanhou. Ele é um Deus que sempre falou através de seus enviados, especialmente através de seu Filho, e que hoje quer falar através do Sínodo para a Amazônia, na medida em que este é um Sínodo da Igreja, convocado pelo Papa, resultado de um discernimento anterior, que se prolongou ao longo do tempo e que deve influenciar o futuro.

Não podemos dizer que estamos diante do momento decisivo do Sínodo, mas devemos reconhecer que estamos em um momento importante, porque o documento final, que não é vinculativo, pode ser de grande ajuda no discernimento subsequente do Papa Francisco, que como um bom filho da espiritualidade inaciana, fará nos próximos meses, e certamente, em profundidade. Nunca se esqueça de que juntos somos mais e iremos além, isso é viver a sinodalidade, que nos enriquece e nos aproxima do que Deus quer, que vivamos em comunhão, que todos sejamos um.

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