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Votemos pela Vida!

Carta aberta aos Irmãos e Irmãs da minha Igreja Cristã Católica e a quem possa interessar

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

“Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)

Irmãos e Irmãs – à luz da razão iluminada pela Fé – vamos refletir sobre o momento histórico que o Brasil vive hoje. O momento é gravíssimo. O Brasil encontra-se numa encruzilhada perigosíssima, à beira de um abismo. Que o Espírito Santo nos ilumine e nos dê a verdadeira sabedoria para discernirmos o que é melhor para o nosso país. Os responsáveis para que o Brasil não caia no abismo somos todos e todas nós, cada um e cada uma de nós, e teremos que prestar contas a Deus.

Antes de tudo, lembro que não existem partidos “cristãos” ou “católicos”. Só existem partidos, que (como todas as realidades temporais) são autônomos, ou seja, têm “consistência, verdade, bondade e leis próprias” (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje – GS 36). Os partidos não têm de prestar contas a nenhuma Igreja.

A Igreja Católica, portanto, não tem partido, mas tem projeto que é o projeto de Jesus de Nazaré: a Boa Notícia do Reino de Deus, ou, em outras palavras, a Sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver, que é um Mundo Novo.

A realidade social do Brasil hoje é essa. De um lado, temos um candidato a Presidente da República, apoiado por um grupo de partidos políticos, que defende um Governo ditatorial (fascista). Vejamos uma amostra daquilo que o candidato diz:

“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta nós deu uma fraquejada e veio uma mulher”. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff. Eu voto sim”. “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. “Pinochet devia ter matado mais gente”. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. “Não te estupro porque você não merece”. “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados” (resposta para Preta Gil, sobre o que faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra ou com homossexuais). “A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos” (sobre o Massacre do Carandiru). “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater” (quando FHC segurou uma bandeira com as cores do arco-íris). “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!” (declaração ao ser entrevistado pela repórter Manuela Borges, da Rede TV. A jornalista decidiu processar o deputado após os ataques). “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida” (justificou a frase: ‘quando ela voltar – da licença-maternidade – vai ter mais um mês de férias, ou seja, trabalhou cinco meses em um ano’) (https://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/344232/Bolsonaro-%C3%A9-um embuste.htm).

“E eu também defendo a pena de morte. Se levar o cara para a cadeira elétrica, ele nunca mais vai matar, nem vai assaltar” (https://br.blastingnews.com/politica/2017/02/bolsonaro-reafirma-posicao-favoravel-a-pena-de-morte-e-reducao-da-maioridade-001495307.html).

Enfim, reparem! “Existe outro megapicareta chamado Dom Paulo Evaristo Arns, que teve a cara-de-pau de publicar carta aos leitores do Jornal Folha de São Paulo – assinada por mais 155 desocupados e vagabundos como ele – criticando minha possível eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos”.  “Esse D. Paulo Evaristo Arns deve se recolher a sua insignificância, ao seu trabalho demagogo” (durante discurso no plenário da Câmara, em março de  1998) (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc20039828.htm).

Frases como essas (é só uma amostra) – que Incitam ao estupro, à injúria, à xenofobia, à homofobia e à discriminação racial, que fazem a apologia da tortura, do uso indiscriminado de armas, da violência e da morte, que defendem a pena de morte (o Papa Francisco nos lembra que a pena de morte não se justifica em hipótese alguma), que insultam pessoas como Dom Paulo Evaristo – revelam um ser humano que só pode ser ou mentalmente desequilibrado ou conscientemente mau (diabólico).

De outro lado, temos um candidato a Presidente da Republica, também apoiado por um grupo de partidos políticos que – apesar de limites e de erros cometidos por alguns políticos desses partidos (errar é humano) – abre caminhos e oferece espaços para que possamos lutar por um projeto de sociedade justa e igualitária, uma sociedade de irmãos e irmãs, que é o Reino de Deus na historia ou a Sociedade do Bem Viver e do Bem Conviver.

Em poucas palavras, estamos diante de um Projeto de Morte e um Projeto de Vida.  “Hoje estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Estou colocando diante de vocês o caminho da vida e o caminho da morte” (Jr 21,8). “Eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolham, portanto, a vida” (Dt 30,19).

Diante de uma situação gravíssima como a que estamos vivendo hoje, a Igreja, em todas as suas instâncias de serviço – nacionais, regionais e locais – não pode se omitir e deixar de cumprir, em nome do Evangelho, sua missão profética. O silêncio e a omissão são um pecado gravíssimo, do qual os responsáveis terão de prestar contas a Deus.

Dia 15 deste mês de outubro, as Pastorais Sociais, as Pastorais do Campo e outras Entidades da CNBB divulgaram a Nota Pública “Democracia: mudança com Justiça e Paz”, destacando a Importância da preservação e defesa do Estado Democrático, no 2º turno das eleições presidenciais, no dia 28 deste mesmo mês.

(Assinam a Nota: Caritas Brasileira, CBJP – Comissão Brasileira Justiça e Paz, CCB – Centro Cultural de Brasília, CIMI – Conselho Indigenista Missionário, CJP-DF – Comissão Justiça e Paz de Brasília, CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil, CPT – Comissão Pastoral da Terra, CRB – Conferência dos Religiosos/as do Brasil, FMCJS – Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, OLMA – Observatório De Justiça Socioambiental Luciano Mendes De Almeida, Pastoral Carcerária Nacional, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral Operária, SPM – Serviço Pastoral do Migrante).

A Nota é uma valiosa contribuição na defesa da Democracia e dos Direitos Humanos. mas pergunto: Onde está a CNBB? Por que – devido à gravidade e urgência da situação – não envia uma Mensagem, assinada pela Presidência da Entidade, à Igreja Católica do Brasil (Comunidades, Paróquias, Dioceses e demais Instituições), exortando a todos e todas a votarem pela Vida? A CNBB é – talvez – a única Entidade que nesse momento pode salvar o Brasil do abismo. Por que o silêncio e a omissão? Não se trata de uma questão partidária, mas de uma questão humana e ética, de uma questão de Vida ou Morte, sobretudo para os trabalhadores/as e para todos os pobres e excluídos/as da sociedade. A nossa frágil democracia corre riscos gravíssimos.

Alguns bispos com suas Igrejas, se posicionaram de maneira muito clara – sem rodeios diplomáticos e farisaicos – a favor do Projeto de Vida. Infelizmente, porém, a grande maioria dos bispos com suas Igrejas e a própria CNBB preferem o silêncio e a omissão, que – na prática – é conivência com o Projeto de Morte.

É com muita dor e muita indignação que – como cristão, católico, religioso dominicano e padre – denuncio esse silêncio e essa omissão da Igreja como sendo uma covardia e um crime que clama diante de Deus. Nesse momento histórico, a Igreja Cristã Católica (sem falar das outras) tornou-se a Igreja de Pilatos que lava as mãos, ou – pior ainda – a Igreja de Judas que trai Jesus nos Pobres.

A visita – no dia 15 deste mês – de dom Antônio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, ao candidato do Projeto de Morte e a retribuição da visita – no dia 17 – desse mesmo candidato ao cardeal arcebispo de Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, representa hoje o beijo de Judas a Jesus. É uma verdadeira traição!

Os cristãos e cristãs católicos e católicas que votam pelo Projeto de Morte, não podem participar da Ceia do Senhor, que é Vida, comunhão de Vida. “Vocês não podem beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1Cr 10,21). “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe a própria condenação” (Ib. 11,27-29).

Meus Irmãos e minhas Irmãs, apesar do silêncio e da omissão de muitos bispos e da própria CNBB – que são hoje uma das faces do pecado estrutural de nossa Igreja Cristã Católica – não percamos a esperança!  A justiça de Deus tarda, mas não falha! Meditemos!

Peçamos a Deus a verdadeira sabedoria e as luzes do Espírito Santo! Votemos pela Vida!

O Irmão de vocês, Frei Marcos.

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Foto: Pátria Latina

Goiânia, 17 de outubro de 2018

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