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“A gente pede a Deus que a pandemia não chegue nas áreas indígenas, porque eles estão totalmente desassistidos” Entrevista com Dom Edson Damian
Por Luis Miguel Modino

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

A situação da Amazônia diante da pandemia do COVID-19 está sendo motivo de preocupação para o mundo e para a Igreja. O Papa Francisco, no Regina Coeli da Solenidade de Pentecostes, invocava “o Espírito Santo para que dê luz e força à Igreja e à sociedade na Amazônia, duramente provada pela pandemia”. O Santo Padre afirmava que “muitos são os contagiados e os falecidos, inclusive entre os povos indígenas, particularmente vulneráveis”. Os números recolhidos pela REPAM, falam de 155.592 casos confirmados e 7.449 falecidos até 29 de maio, 1861 casos e 473 falecidos dentre os povos indígenas.

No Brasil, a diocese com a porcentagem mais elevada de indígenas, mais de 90%, é São Gabriel da Cachoeira. Seu bispo é Dom Edson Damian, que desde o início da pandemia tem se integrado no comitê local de enfrentamento e combate ao coronavírus, colocando a disposição diferentes espaços da diocese. Por enquanto, uma boa notícia é que a porcentagem de óbitos ainda não é muito elevada. Os casos, se concentram nas cidades de São Gabriel e Barcelos, enquanto as comunidades do interior estão se esforçando em controlar a pandemia.

Os povos indígenas podem ser considerados entre “os mais pobres e indefesos daquela querida região”, como tem falado neste 31 de maio o Papa Francisco, quem os encomendava a Maria, Mãe da Amazônia, fazendo um chamado para que “não falte a ninguém a assistência de saúde”. O próprio bispo reconhece sentir “medo diante de um vírus tão avassalador e que em pouco tempo se espalho no mundo inteiro”. Ele lembra do Papa Francisco, especialmente da oração que ele fez no dia 27 de março numa Praça de São Pedro deserta, e também de “Charles de Foucault, que é o homem da fraternidade universal”, que será canonizado nos próximos meses.

O bispo afirma que “há evidencias que o governo não está à altura de coordenar esta tarefa em meio a uma pandemia que está causando perdas de milhares de vidas humanas e grande sofrimento para as famílias”, lembrando as propostas muito urgentes feitas pelos bispos da Amazônia. Frente a essa falta de capacidade, Dom Edson Damian, destaca a necessidade de aprender com os povos indígenas, sempre “desprezados, descartados pela cultura ocidental, etnocêntrica e dominadora”.

É tempo de assumir a Evangelii Gaudium e a Laudato Si, segundo o bispo de São Gabriel da Cachoeira, de “nos perguntar o que é essencial que a Igreja retome”, ainda mais num Brasil onde “é coisa de doer o coração e partir a alma, as imensas desigualdades sociais deste país”. Ele resume a missão eclesial em “testemunhar com coragem e alegria Jesus Cristo, ligar o Evangelho com a vida, e engajar-se em todas as instituições e movimentos para defender os direitos humanos dos pobres e cuidar da nossa casa comum”.

Qual é a situação dos povos indígenas em São Gabriel da Cachoeira diante da pandemia de coronavírus?

Aqui há muitos casos de pessoas atingidas pela COVID-19, mais de 1.600 casos notificados aqui em São Gabriel e mais de 400 em Barcelos, mas o que surpreende é a relação entre a alta taxa de contaminados e o baixo número de óbitos, comparando com as outras regiões do nosso país. Foram até ontem 21 óbitos em São Gabriel e 13 em Barcelos. Por enquanto, nos assusta o número de pessoas contaminadas, mas os óbitos são poucos.

Qual a causa em relação com esse baixo número de óbitos? Existe subnotificação, como acontece em alguns lugares?

Um aumento no número das pessoas contaminadas está havendo na verdade aqui, e em relação aos mortos, até agora, que a gente saiba, foram apenas dois nas comunidades ribeirinhas distantes, porque eles quando a situação fica mais complicada, eles são trazidos de helicóptero ou de pequenos aviões até a cidade.

Como é que os povos indígenas estão reagindo?

No início houve um grande cuidado, aqui em São Gabriel, e foram tomadas boas medidas preventivas para impedir a chegada do vírus, foram suspensos todos os barcos e aviões que transportavam as pessoas de Manaus para a região, e também vigilância nas balsas que trazem alimentos e combustíveis. Mas algumas pessoas chegaram clandestinamente e não se submeteram ao isolamento. Os dois primeiros casos foram anunciados no dia 21 de abril, houve tristeza e indignação. Eu lembro que uns dias antes, a primeira vítima do coronavírus foi um taxista em Barcelos.

Na realidade das comunidades espalhadas ao longo do Rio Negro e seus afluentes houve poucos casos notificados, mas a gente teme que poderão aparecer mais, devido às aglomerações que aconteceram na cidade para receber o beneficio social dos 600,00 reais. Não havia distanciamento nas filas, ninguém de máscara, alguns poderiam ter contraído o vírus e poderão espalha-lo nas aldeias. Tudo é muito próximo e muito partilhado, e não usam máscaras os nossos indígenas.

Ainda ontem, o médico coordenador do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Alto Rio Negro, informou-nos que as comunidades estão se cuidando, não aceitando visita de pessoal de outras comunidades e principalmente de não índios. Algumas comunidades até colocaram placas lá, não estacione aqui, não pare aqui na comunidade. Nos polos base do DSEI tem presença permanente de equipes de enfermagem e médicos que passam temporariamente. Mas os nossos parentes indígenas, eles estão fazendo uso intensivo da medicina caseira, com ervas medicinais, e eles dizem que está impedindo a contaminação e, quem sabe, até a cura dos contaminados. Usam muito limão, gengibre, mangarataia, jambu, boldo, cidreira, alho, e outras plantas medicinais, sem esquecer os benzimentos dos pajés. Eu inclusive, estou usando essas medicinas caseiras e tomando muito chá.

São Gabriel tem organizado um comitê de crise onde participa a diocese. Como esse comitê está ajudando no combate da COVID-19 na região?

Em São Gabriel tem o fórum interinstitucional, que congrega as principais instituições locais, que acostuma reunir-se para enfrentar problemas e buscar soluções conjuntas. Ele nasceu depois da morte do advogado Pedro Yamaguchi Ferreira. O pai dele, deputado federal, Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, veio aqui e incentivou para que se formasse esse fórum interinstitucional. Se conseguiram bons projetos do governo federal. A partir desse nosso fórum surgiu o comitê de enfrentamento e combate ao coronavírus.

São realizadas reuniões quase que diárias na casa dos saberes da FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), onde a gente acompanha os dados da epidemia, o que cada instituição está fazendo e como pode colaborar. Desde o início a diocese participa, eu estou presente, e colocamos a disposição do DSEI a casa de encontros da diocese, situada a dois quilômetros da cidade, num espaço muito agradável e aprazível, para colocar as pessoas que precisam, justamente os indígenas afetados pelo vírus. Eles recebem acompanhamento médico e também medicinal.

Também, há poucos dias, colocamos a disposição um hospital que foi durante muito tempo administrado pelos salesianos e salesianas, e servia para outras finalidades. Agora está sendo transformado em hospital de campanha. Aqueles atingidos pelo vírus que estão precisando de cuidados especiais, eles saem da casa de encontros da diocese e vem para este local, que é do lado da diocese. Os que precisam de cuidados ainda maiores são levados para o hospital que é administrado pelo exército, com recursos federais, estaduais e municipais, onde existem 14 ventiladores e outros recursos para terapia semi-intensiva. Os doentes graves, em condições de serem transportados, são levados para UTIs em Manaus.

A boa notícia é que no dia 25 chegou uma equipe dos Médicos sem Fronteiras, que são um surpreendente presente de Deus. Eles já estavam ajudando em Manaus e escolheram dois municípios do interior do estado, São Gabriel e Tefé. Eles vão permanecer oito semanas para ajuda complementar daquilo que mencionei acima. São médicos, enfermeiros, e outras pessoas que ajudaram a enfrentar a COVID em outros países. Por tanto, são pessoas que já tem muita experiência no combate ao coronavírus, e também trarão medicamentos e outros materiais necessários. É uma equipe muito preparada, nos impressionou pela capacidade que eles têm, e certamente irão nos ajudar. Eles disseram que em 15 dias já terão montado esse hospital de campanha aqui no prédio da diocese.

Pessoalmente, como bispo da diocese, como está vivendo este momento, quais os sentimentos que tem presentes nas últimas semanas?

Quem não sente medo diante de um vírus tão avassalador e que em pouco tempo se espalho no mundo inteiro. Além do medo, o sentimento de vulnerabilidade, ninguém pode se sentir imunizado, pois não há vacinas e nem outro medicamento que tenha efeito imediato. Eu me senti muito solidário com o querido Papa Francisco durante a inesquecível oração que realizou ao entardecer do dia 27 de março, no deserto da Praça de São Pedro, símbolo impressionante da nossa vulnerabilidade, da nossa precariedade.

Achei inesquecíveis as palavras que ele diz logo no início, “a semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento”. A seguir o Papa faz como que una análise da situação e ele compara a pandemia com as aberrações do nosso tempo. Como ele diz, “avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente”.

Junto com isso cresce no mudo inteiro, cresce em todos nós, a solidariedade, a fraternidade, a gente deve lembrar que somos uma mesma humanidade, que estamos todos no mesmo barco. Como é importante nesses dias a fraternidade universal. Há poucos dias, a gente recebeu com alegria a notícia da canonização de Charles de Foucault, que é o homem da fraternidade universal. Só acharemos uma saída dessa situação todos juntos, e numa situação difícil, desesperada como a nossa, é importante saber que o Senhor Ressuscitado está conosco no barco, e que podemos nos agarrar e seguir em frente com a esperança que nunca decepciona.

Os bispos da Amazônia, a REPAM e as organizações indígenas, têm advertido sobre a possibilidade de uma tragédia humanitária e ambiental diante do COVID-19. Tendo em conta a situação vivida em São Gabriel da Cachoeira, o senhor pensa que é possível isso acontecer?

A gente pede a Deus que não aconteça, e pelo que a gente percebe por aqui, não há sinais de que algo mais grave possa acontecer. Estamos prevenidos para tudo, mas é importante a gente se dar conta de que os nossos povos indígenas tem baixíssima imunidade. Além disso, marcados por tantas doenças trazidas pelos não índios que vieram para cá. Eles estão fragilizados também pelas continuas malárias, dengues, e outras doenças tropicais. É por isso que a gente fica agradecido a Deus e pede que não chegue nas áreas indígenas, porque eles estão totalmente desassistidos.

Além disso, aqui em São Gabriel, uma população grande, com 45 mil habitantes, um hospital com 14 respiradores, mas nenhuma UTI. Nós esperamos agora, com os médicos sem fronteiras que chegaram, eles estarão aqui e agirão para nos ajudar nesse sentido também.

O que o senhor pediria como bispo de São Gabriel, também como presidente do Regional Norte1 da CNBB, ao governo federal, estadual, e também para a Igreja do Brasil, diante da realidade que está sendo vivida na Amazônia e na diocese?

A nossa Igreja da Pan-Amazônia já se manifestou, escrevemos juntos um documento. É claro que os documentos não repercutem muito neste momento, mas eu acho que aí está feito um análise da situação e aquilo que a Igreja pede, ali são feitas propostas muito urgentes. Eu ajudei a escrever em parte aquele documento, e naqueles itens finais, as propostas que a Igreja faz para o governo nas suas diferentes instituições, elas continuam atualíssimas.

Os bispos apresentamos 13 medidas urgentes, que partiam da necessidade de salvar vidas humanas e do fortalecimento de políticas públicas, em especial do Sistema Único de Saúde (SUS). Junto com isso repudiar discursos que desqualificam as estratégias científicas, restringir a entrada de pessoas em todos os territórios indígenas, realizar testagem na população indígena, fornecer os equipamentos de proteção individual e proteger os profissionais de saúde. Também garantir a segurança alimentar e fortalecer as medidas de fiscalização contra o desmatamento, mineração e garimpo, assim como garantir a participação nos espaços de deliberações políticas e rejeitar projetos governamentais que prejudicam a Amazônia e seus povos.

Além disso, nós estamos estarrecidos diante do governo federal, é impressionante diante da tragédia, que já levou quase trinta mil pessoas, e com imensos atingidos, e o nosso governo não se preocupa com isso, mas com outras coisas. Há evidencias que o governo não está à altura de coordenar esta tarefa em meio a uma pandemia que está causando perdas de milhares de vidas humanas e grande sofrimento para as famílias. É uma afronta para todos nós ver o presidente da República e seus ministros ameaçarem prender governadores e prefeitos porque não fazem aquilo que eles querem, prender os ministros do Supremo Tribunal, mostrar interesse em destruir as leis de proteção ambiental, destilaram ódio às populações indígenas, quilombolas. É hora de uma grande unidade de todos nós para salvar a democracia, salvar a Constituição, e gritar por uma saúde que esteja à altura de atender essas necessidades urgentíssimas do povo de todo o Brasil.

Acabamos de celebrar a Semana Laudato Si, e o senhor sempre destacou a grande capacidade de preservação do meio ambiente que os povos do Rio Negro têm desenvolvido ao longo da história. Tem quem relaciona esta pandemia, e adverte sobre futuras pandemias ainda mais graves, com a falta de cuidado da casa comum. A Semana Laudato Si, o cuidado da casa comum, deve ser um motivo a mais para aprender com os povos indígenas no cuidado da casa comum?

Sem dúvida alguma, os povos indígenas, que vivem há milhares anos aqui na Amazônia, eles sabem conviver com o meio ambiente sem destruir, e além disso, é uma tristeza perceber que esses povos indígenas, que tem tanto a ensinar, eles sempre foram desprezados, descartados pela cultura ocidental, etnocêntrica e dominadora. É por isso que a Laudato Si, o Sínodo para a Amazônia e a exortação do Papa, Querida Amazônia, são importantíssimas, porque valorizam tudo aquilo que os índios já sabem e nos ensinam, valorizar essas culturas do bem viver. Com isso se reforça essa ideia da integralidade, onde recordamos as sábias palavras do Papa Francisco: “é uma ilusão pensar que numa sociedade doente, permaneceríamos saudáveis”.

Os índios nos ensinam essa vivência em harmonia com o todo, as plantas, os rios, os animais, os minerais, e é isso que torna possível uma vida saudável, seja física, seja psíquica, espiritualmente. Aprendemos com as comunidades indígenas que somos parte de um tudo, e não patrões de tudo o que existe, não superiores, mas guardiões, responsáveis pelo cuidado, pela continuidade da obra da Criação de Deus. Os povos indígenas são os guardiões da floresta, dizem que nesta região, aqui da bacia do Rio Negro, menos de 3% das florestas foram derrubadas, a floresta está de pé, e isso é uma lição para todo o Brasil.

Os cientistas nos advertem de que 17% da Amazônia já foi destruída, se chegar ao 20% a Amazônia não se refaz mais, e aí se instala um desequilíbrio que vai afetar o mundo inteiro. A começar que não existirão mais os rios voadores, que levam as chuvas para o Sudeste o Brasil, para o Cone Sul, serão os primeiros a sentir o drama da seca, da falta de água. Então, como é importante o que os nosso índios nos ensinam. As áreas da Amazônia melhor preservadas são aquelas que são as terras indígenas, tão ameaçadas agora por esse ministro do meio ambiente que quer, na calada da noite, aproveitando o drama do coronavírus, para passar muitas leis e possibilitar a invasão das terras indígenas.

De cara ao futuro, como sociedade, mas também como Igreja, o Papa Francisco nos chama a construir a sociedade e a Igreja da pós-pandemia. Segundo seu olhar, quais deveriam ser os elementos fundamentais para construir a sociedade e a Igreja da pós-pandemia?

Quando a tempestade da COVID-19 começar a refecer, nós devemos assumir com vigor os dois documentos proféticos do nosso querido Papa Francisco, a Evangelii Gaudium e a Laudato Si. O Papa nos aponta, nos indica, com uma clareza meridiana e evangélica, como deverá ser uma Igreja em saída, que também assume com uma coragem evangélica fomentar o cuidado da casa comum. Já começamos a nos perguntar o que é essencial que a Igreja retome, regenere, e permite que o Espírito de Pentecostes assuma como missão especial.

Se Cristo está caminhando conosco, e esta mesmo neste momento trágico, para onde Ele quer nos levar. O amor por Jesus, que só merece ser amado apaixonadamente, como nos dizia Charles de Foucauld, nos conduzirá sempre para amar e servir a todos, começando com o amor preferencial pelos pobres, pelos excluídos, nas periferias geográficas e existenciais. É a Igreja enlameada, que vai vir das periferias, onde estão os últimos, os esquecidos, os abandonados, aqueles que a gente descobriu com essa história dos 600,00 reais. Quantos milhões de brasileiros que nem certidão de nascimento têm, é coisa de doer o coração e partir a alma, as imensas desigualdades sociais deste país.

Além disso, a COVID confirma a Laudato Si, que reúne a espiritualidade de Francisco de Assis com a melhor ciência sobre o cuidado da nossa Irmã, Mãe Terra. Uma das características mais notáveis da Laudato Si é o diálogo com a ciência moderna. Desde o início, o cuidado pastoral do Papa Francisco com a pandemia, levou em consideração as recomendações dos cientistas, dos médicos especialistas. Por fim, o mundo pós COVID-19 exigirá que os católicos, todos nós, assumamos com responsabilidade a fé e a missão como discípulos missionários do Senhor Crucificado e Ressuscitado. Na Igreja e na sociedade, as comunidades cristãs missionárias deverão testemunhar com coragem e alegria Jesus Cristo, ligar o Evangelho com a vida, e engajar-se em todas as instituições e movimentos para defender os direitos humanos dos pobres e cuidar da nossa casa comum.

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