Campanha da FraternidadeColunistasFrancisco Orofino

Campanha da Fraternidade Ecumênica
Reflexão bíblica sobre o Lema da CFE

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Para congregar as igrejas cristãs no Ano Jubilar de 2000, pela primeira vez foi feita a proposta de uma Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE). O tema foi “Dignidade Humana e paz – Novo milênio sem exclusão”. A CFE foi uma realização em parceria entre a CNBB e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). Esta experiência se repetiu em 2005 (Solidariedade e paz – Felizes os que promovem a paz); 2010 (Economia e Vida – Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro) e em 2016 (Casa Comum, nossa responsabilidade – Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca). Neste ano de 2021 teremos então a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica.

A Comissão do CONIC escolheu como Tema da CFE 2021 “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. O Lema, tirado da Carta aos Efésios, é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). O Objetivo Geral da CFE 2021 é convidar as comunidades de fé e as pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, através do diálogo amoroso testemunhando a unidade na diversidade.

O Lema da 5ª CFE é tirado da Carta aos Efésios: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). Para uma melhor compreensão da mensagem deste Lema, precisamos ler todo o trecho onde ele se insere (Ef 2,14-15):

Pois ele é a nossa paz.

De ambos os povos fez um só.

Derrubou o muro de separação.

A inimizade, ele a suprimiu na sua carne,

A lei dos mandamentos expressa em preceitos.

A partir dos dois criou em si mesmo um só homem novo.

Fundou a paz.

Temos nesta passagem um pequeno hino dirigido ao Cristo Salvador. A ação salvadora de Jesus é que nos traz a verdadeira paz. O sacrifício na cruz derrubou tudo aquilo que separava os “dois povos”, criando uma unidade que agora convive em paz.

A Carta aos Efésios é uma carta circular dirigida aos cristãos da Ásia Menor (atual Turquia), cujo centro era a cidade de Éfeso. É o mesmo ambiente que gerou o evangelho de Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos. Esta carta circular, num estilo de homilia, é considerada hoje como o primeiro grande tratado cristão sobre a Igreja. Ela é uma grande síntese de toda a mensagem paulina, feita depois da morte do grande apóstolo Paulo. O enfoque da Carta aos Efésios aponta para o surgimento de uma reflexão eclesiológica que busca unificar e solidificar a Igreja, capacitando-a a enfrentar os desafios colocados pelas repressivas políticas imperiais. Nesta proposta eclesiológica, o enfoque maior da mensagem está no reforço das casas e das famílias. Além de ser o espaço maior de identidade de uma pessoa naquela época, a casa da família era também a “Igreja” doméstica, a comunidade, onde os fiéis comungavam a vida e a fé. No entanto, percebemos aqui um passo adiante. Todas estas pequenas igrejas devem se perceber pertencendo a uma entidade que as congrega numa unidade: a Igreja. Mais tarde, nas cartas de Inácio de Antioquia, esta Igreja será definida como “universal” ou “católica”. A Igreja Católica, tal como afirmamos na oração do Credo, é a congregação de todas as pequenas igrejas existentes dentro do mundo conhecido, chamado de “Oikumene” (Mt 24,14; Lc 2,1; Ap 3,10).

Na primeira parte da Carta (Ef 1,1 até 3,21) o tema central é fundamentar esta grande Igreja, cuja cabeça é Cristo. Deus elegeu a Igreja como sucessora da Comunidade judaica. Assim como Israel surgiu no processo de libertação do Êxodo, um povo que se formou através da libertação da escravidão e da travessia do deserto, assim a Igreja surgiu no processo de êxodo de Jesus Cristo. A antiga qahal judaica é agora a ekklesia de Cristo. As pessoas que acolhem esta proposta de Deus em Jesus Cristo, entram na Igreja através do batismo (Ef 2). O batismo arrebata as pessoas do poder das trevas e as coloca em união com o Cristo (Ef 2,1-10). Nasce assim o novo povo santo de Deus. Da opção batismal nascem novas criaturas, em uma nova realidade de salvação. Neste novo gênero humano, todas as divisões devem ser superadas. Só então haverá a paz (shalôm) que vem de Deus. O apóstolo Paulo se revela o grande instrumento de Deus na construção desta Igreja que é chamada a reunir, nela mesma, todos os povos, línguas e nações (Ef 3).

Mas para que isso aconteça, a Igreja deve enfrentar e vencer um enorme desafio pastoral: como construir esta unidade superando as divisões existentes entre cristãos vindos do judaísmo com os cristãos vindos do paganismo? São dois povos tão diferentes! Para que haja a paz e a unidade fundadas na mensagem de Jesus Cristo, os “muros de separação” (Ef 2,14b) devem ser derrubados. Para vivermos a proposta do lema da CFE deste ano, precisamos derrubar estes “muros de separação” que impedem a convivência entre as várias propostas cristãs.

Esta meditação da Carta aos Efésios traz um grande desafio para o momento que vivemos hoje. Em nossas condições atuais, vemos uma grande divisão entre as várias igrejas de Cristo, separadas e em grande rivalidade, num processo de mútua exclusão, onde cada uma delas, definindo-se a partir de si próprias, apresentam-se como a “única e verdadeira Igreja de Cristo”. Assim a proposta de uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, animada pela passagem da Carta aos Efésios, talvez permita que apareçam cristãos, homens e mulheres, que defendam dar o nome de “Igreja” não às várias denominações que fragmentam o Evangelho de Cristo, mas ao conjunto de todas as pessoas, espalhadas pelo mundo todo que, fiéis ao batismo, passem a invocar o Cristo superando todas as barreiras institucionais e canônicas. Pode ser que assim se cumpra a Palavra de Jesus: haverá um só rebanho e um só Pastor (Jo 10,16).

 

 

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