No dia 14 de setembro de 2019 cerca de 100 pessoas participaram da Assembleia, que contou coma presença de D. Gabriel Marchesi, atual bispo referencial das CEBs na CNBB e do Professor Alder Calado, de João Pessoa (PB)
Na mística de abertura foram lembradas as ações em defesa do meio ambiente, a propósito dos incêndios na Amazônia e no Pantanal e em outras partes do mundo; o perigo do aquecimento global; a resistência para preservar os direitos sociais; os povos negros e indígenas; as famílias.
A seguir o Professor Alder Calado iniciou a reflexão, dizendo que a mãe terra está em dores, não dores do parto, mas das queimadas e sofrimento das plantas, dos animais. A natureza achará solução, talvez com o fim dos seres humanos. A vida da gente está em risco. Somos chamados a seguir o que o Espírito nos diz nas palavras e escritos do Papa Francisco. Na encíclica Laudato Si’ ele diz que vivemos uma crise socioambiental. Somos chamados a ser luz, neste tempo de desafio, que é pior do que na Ditadura Militar. Houve mais resistência durante a Ditadura, do que agora. Qual é a causa desta crise?
Como cristãos comprometidos com o Reino de Deus, precisamos desenvolver nossa missão nos movimentos sociais / populares, que eram mais fortes nos anos 60 até 90. Precisamos retomar as lutas contra o desmonte, o retrocesso das reformas trabalhistas e previdenciárias. Não precisamos reinventar a roda, mas lembrar as metodologias / ações que já deram certo. Como reagir?
Reunir e alimentar a fé das pequenas comunidades, os conselhos populares, os círculos culturais, bíblicos; reforçar a sociedade civil, criar laços contra violência que atinge as mulheres, quilombolas, povos indígenas. Tem uma força das minorias abraâmicas. Os movimentos sociais da cidade e do campo já foram mais fortes. Houve avanços no campo da Reforma Agrária. Um limite dos governos petistas foi acreditar que a mudança viria apenas com a vitória nas eleições. Os sucessos não vêm de cima para baixo, mas de baixo para cima.
Hoje existem novas lutas como o Grito da Terra (ambiental), que nos impele a fazer mudanças no comportamento cotidiano, ou as lutas da comunidade LGBT.
Dom Gabriel (Bispo de Floresta): Vivemos um clima de medo, de sensação de incapacidade, que não tem nada a fazer, de enfrentar os desafios. Parece que estamos sem esperança. Devemos retomar a esperança, a força que Deus colocou em cada um de nós. Deus é um Deus da Vida, tenta salvar as vidas. Como Deus age no mundo? Ele age por meio de nós, que devemos cumprir a nossa missão de cuidar da Criação, que fomos criados como imagem de Deus. Estamos livres para escolher como vamos agir na história da humanidade, para criar um mundo de fraternidade, de justiça, de amor, ou seja, a salvação de Deus. Lembra o tema do Intereclesial das CEBs em Porto Velho (Rondônia) em 2009: CEBs: ecologia e missão. E a frase que marcou aquele encontro: gente pequena, fazendo coisas pequenas, conseguem coisas extraordinárias. Devemos ser protagonistas no mundo, a favor da vida, em todas as suas formas. Não devemos ter medo das dificuldades, mas ter coragem. Deus está com a gente todos os dias, até o fim do mundo. Vocação e Responsabilidade.
O Documento do Puebla. Os Bispos da América Latina realizaram cinco Conferências: 1ª Rio de Janeiro – Brasil 1955; 2ª Medellín – Colômbia 1968; 3ª Puebla – México 1979; 4ª Santo Domingos – República Dominicana 1992; 5ª Aparecida SP – Brasil 2007. A Igreja produziu Documentos com as resoluções de cada Conferência. O tema de Puebla foi Evangelização no presente e no futuro da América Latina. Naquela época havia ditadura em vários países da América Latina, sem respeito aos direitos humanos. A Igreja foi calada pelo governo, igual como o governo atual está com medo do Sínodo da Amazônia. A solução foi criar as comunidades eclesiais de base, a palavra de Deus seria a luz do nosso caminho, em busca do Reino do Deus (viver no amor), agora, pelos discípulos de Jesus, que somos nós. O mundo prega o contrário, o consumismo – comprar coisas novas, para ter maior PIB e lucro que fica com os capitalistas.
Em Puebla a Igreja da América Latina fez uma opção preferência pelos pobres. A partir do método Ver-Julgar-Agir: ver a realidade (pobreza, injustiça, etc.); julgar a realidade a luz do Evangelho; buscar ações que promovam a
libertação do pecado e de tudo que fere a dignidade da pessoa humana, pessoal e social. Jesus viveu como pobre. Devemos evangelizar para que todos tenham Vida Digna.
Depois desta reflexão os participantes foram divididos em grupos para estudar partes do Documento de Puebla, responder a perguntas e depois apresentaram na plenária o resultado do estudo. Os assuntos trabalhados foram: Mensagem aos Povos da América Latina; o Povo de Deus – Fé e Política; O que é evangelizar; Igreja Missionária a Serviço da Evangelização na América Latina – Opção preferencial pelos pobres; As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); e Evangelização e religiosidade popular
Findo o intervalo do Almoço, D. Gabriel fez algumas observações a respeito do trabalho dos grupos. Comparação entre os tempos de Puebla dos anos 70 e agora. Os bispos da América Latina tiveram a coragem de refletir / avaliar o papel da Igreja no mundo da América Latina: fazer uma Evangelização Libertadora, que significa conversão pessoal e social. O que leva a compromisso com a transformação social, contra as estruturas injustas, que não são vontade de Deus. Nos últimos anos parece que a Igreja (nós) perdeu a coragem de fazer uma avaliação / revisão de vida, do seu papel no mundo. Acrescentar a conversão ambiental.
Na Evangelização é necessário Comunhão e Participação. Comunhão dentro da Igreja / partilha – unidos na mesma caminhada, solidariedade com o outro; estrutura não hierárquica; co-responsabilidade do clero e dos leigos;
Participação na Igreja e na sociedade (democracia) – redistribuição das responsabilidades com os pobres e jovens.
A Igreja (Povo de Deus) é uma semente (ou instrumento) do Reino de Deus (justiça e amor). O Reino de Deus é maior do que a Igreja. A Igreja deveria anunciar e ajudar fazer florir o Reino de Deus. A Igreja deveria estar no mundo, não fugir do mundo, como Jesus estava no mundo. Parábola: fermento no pão não fora do pão como a Igreja no mundo, não fora do mundo. Ressurreição de Jesus: devemos dar perdão dos pecados para todos. Antes do Concílio Vaticano II, dizia que a Igreja era dividida entre clero e leigos. Pós Vaticano: a Igreja é composta por batizados, ordenados e não ordenados, para servir. Carta de São Paulo aos Efésios, os serviços diferentes; comunhão de corresponsabilidade. Os serviços diferentes se complementam. O padre não precisa fazer tudo, priorizar o trabalho pastoral, não administrativo que é papel dos leigos.
O que é evangelização libertadora? Não é apenas dizer palavras, ler trechos da Bíblia; é testemunhar pela nossa vida. Exemplo de São Francisco de Assis que falou: ide evangelizar (através de ações libertadora / testemunhar); se precisar, usar também palavras.
Opção preferencial pelos pobres, não apenas pelas CEBs mas pela Igreja inteira. Como Jesus agiu naquela época? É descrito nos Evangelhos, como ele foi ao encontro dos pobres. Como Jesus agiria agora? Filipenses 2 – a humildade de Jesus, se identificou como os mais pobres, ficou em último lugar. A exemplo de Jesus – não podemos desprezar os pobres.
As CEBs: estão mudando o jeito de ser Igreja? Fé e Vida devem estar ligadas. As CEBs são Comunidade: Hoje parece o individualismo está por cima da vida em comunidade. Dizemos Pai Nosso, e não meu Pai. A importância do encontro dos irmãos (vida em comunidade) em vez da celebração religiosa na televisão. AS CEBs são Eclesiais: o centro é Jesus Cristo, a leitura da palavra de Deus, a prática dos círculos bíblicos. As CEBs são de Base: temos que voltar para as bases, os pobres, excluídos, marginalizados – jovens, dependentes químicos, idosos; em função do / em serviço do Reino de Deus. Cântico: Eu Acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor.
Evangelização e religiosidade popular. Falta a evangelização – o povo prioriza apenas o batismo e as festas – novenas, procissões, etc., não a catequese / educação / formação religiosa, a partir do Evangelho.
O Documento de Pueblo inicia com um pedido de perdão – pela falta da dignidade humana; a contradição entre o que pregamos e as ações: a falta de amadurecimento da fé, respeito à dignidade humana.
Devemos amar as pessoas e usar as coisas; em vez disso: Usamos as pessoas e amamos as coisas.
Leitura do evangelho do domingo, dia 15 de setembro: O Filho Pródigo. Que Igreja queremos ser? Fechada Julgadora ou acolhedora? Fé de amor de Deus, não uma fé de medo de ser enviado para inferno.
Oração do Pai Nosso para encerrar o encontro.