Por Luis Miguel Modino
O clima sinodal vai se fazendo cada vez mais visível na Igreja da Amazônia, trazendo para a dimensão celebrativa um Sínodo que quer fazer realidade novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, e que celebrará sua assembleia sinodal no Vaticano de 6 a 27 do próximo mês de outubro. A festa de Pentecostes tem sido momento para que diversas dioceses da região fizessem presente o Sínodo para a Amazônia.
Em Manaus, onde mais de cem mil pessoas se reuniram no Sambódromo, segundo o G1 da Rede Amazônica, a presença dos povos indígenas que com seus cantos e danças traziam presente sua cultura e espiritualidade, ajudou os presentes a refletir sobre a importância do Sínodo para a Igreja e a sobrevivência do Planeta. Enquanto um grande banner com o logo e o tema do Sínodo era introduzido, os presentes eram convidados a refletir sobre a necessidade de que “toda nossa Igreja tenha amor pela nossa natureza, pela nossa Amazônia”.
De fato, a Arquidiocese de Manaus quis aproveitar esta festa de Pentecostes, que é a que mais fieis congrega ao longo do ano na capital amazonense, para lembrar que “o Sínodo vem para trazer as lutas dos nossos povos indígenas, pela terra, pela justiça, pela liberdade, pelos sonhos e esperanças, é um caminho para uma Igreja mais ecológica”. De fato, desde a Igreja de Manaus se vê necessário “conhecer e defender nossa Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados, odiados pelos grandes projetos que destroem a terra e destroem a vida”.
Neste caminho a Igreja de Manaus conta com o apoio e proteção de Maria, sob a invocação de Nossa Senhora da Amazônia, “que transmite no coração de todos nós como ser Igreja, como ser missionários nesta terra, que nos ensina a respeitar as nossas diversidades”, como era lembrado aos participantes da solenidade de Pentecostes.
A defesa dos povos tem sido tradicionalmente uma preocupação para a Igreja da Amazônia, que com profecia tem denunciado as diversas situações que semeiam morte, numa região onde a vida, tão exuberante, se vê cada vez mais ameaçada por uma injustiça cada vez mais presente e evidente. De fato o evento de Pentecostes tem servido para denunciar as consequências negativas da Reforma da Previdência, fazendo um chamado a escutar a voz da Igreja e de seus pastores, que na última assembleia do episcopado se mostrava contraria à reforma em uma nota ao Povo de Deus.
Na homilia, Dom Sérgio Castriani, arcebispo de Manaus insistia em que “na força do Espírito somos um povo livre, que sabemos de onde vem, conhece sua dignidade e quer permanecer unido”, um elemento chave esse da unidade para poder enfrentar as situações de morte presentes, que se manifestam no sofrimento de tantas pessoas que tem se tornado vítimas do sistema, diante do qual a Igreja quer mostrar um rosto samaritano, comprometendo-se na defesa dos “migrantes vítimas da fome e da perseguição”.
Querendo fazer memória da situação dos presídios de Manaus, onde recentemente aconteceu um novo massacre que custou a vida a mais de 50 detentos, Dom Sérgio afirmava que “queremos sair desta lógica de vingança e do encarceramento como único caminho para lidar com quem errou”, uma situação diante da qual “nós recusamos acreditar num sistema que só leva à morte”, enfatizava o arcebispo local.
A celebração de Pentecostes em Manaus, que neste 2019 tinha como lema “Espírito Santo, liberta-nos pelo Direito e pela Justiça”, sempre faz referência à Campanha da Fraternidade. Desde essa perspectiva, Dom Sérgio Castriani, afirmava que “nós queremos uma sociedade onde os direitos sociais não sejam deixados de lado quando está em jogo privilégios que fazem da distribuição de renda uma vergonha nacional”. Nesse sentido, ele refletia sobre o que deveria significar a política, pois “quando a política se torna serviço ao povo, quando o poder significa busca de soluções para os mais pobres, aí está agindo o Espírito de Deus”.
Nessa dimensão do exercício da política, o arcebispo de Manaus enviava uma mensagem aos políticos cristãos, que segundo ele, “não é o quem defende os direitos da Igreja, mas aqueles que se fazem voz dos pequenos e excluídos, defendendo os direitos humanos e os direitos constitucionais conquistados a duras penas”. Pois isso, Dom Sérgio insistia que “a campanha da Fraternidade nos fez olhar os mecanismos e as estruturas de poder que possibilitam ações concretas em favor dos pequenos e pobres, que são as políticas públicas, se quisermos ser fieis às inspirações do Espírito, que nos faz ver a situação precária em que vive nossa gente temos que participar da elaboração e execução de políticas públicas”, uma urgência cada vez mais evidentes, como tem reconhecido diferentes bispos nos últimos tempos.