ColunistasIrmã Eurides Alves de Oliveira, ICM

Levante Feminista contra o feminicídio

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

“Nem pense em me matar, quem mata uma mulher, mata a humanidade”

No mês passado escrevi sobre as CEBs como espaço de feminismo comunitário e convocava todas e todos a um maior envolvimento e compromisso com a luta contra o patriarcado, o capitalismo e as múltiplas formas de violência contra as mulheres. Seguindo com esta urgente e necessária tarefa, faço deste espaço veículo de divulgação e mobilização do Levante Feminista, pela vida das mulheres e pelo fim do feminicídio no Brasil.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil ocupa o quinto lugar entre os países que mais matam mulheres. O Mapa da Violência 2015 revelou que no período de 1980 a 2013 foram assassinadas 106.093 mulheres por sua condição de gênero, a maioria por seus companheiros. Um femigenocídio sangrento que tem se intensificado após o golpe de 2016 e se agravado com a pandemia do Coronavírus. Dados revelam que no primeiro semestre de 2020 este crime de ódio contra as mulheres aumentou 19%. Período em que foram assassinadas 648 mulheres, a grande maioria negra e periférica. A cada cinco minutos uma denúncia de violência contra mulher foi registrada. O cronômetro da violência revela, durante a pandemia no Brasil, a ocorrência de um feminicídio a cada nove horas e a cada dois minutos uma mulher é agredida.

Esta realidade precisa ser mudada. É urgente conter não só a pandemia da Covid-19, mas também a pandemia feminicida, essa matança das mulheres em larga escala. Isto só é possível com uma grande e unificada mobilização política e social de mulheres e homens contra o patriarcalismo capitalista, aceito e naturalizado socialmente em nossa terra de Santa Cruz.

Esta é a proposta do Levante Feminista Contra o Feminicídio, uma campanha nacional lançada pelos diversos coletivos de mulheres no dia 25 de março de 2021, por ocasião da memória dos três anos do feminicídio político de Marielle Franco.

 “Nem pense em me matar”, em torno desta expressão, as mulheres de todo o País estão unidas no  Levante Feminista, com o objetivo de dar um basta aos feminicídios e toda forma de agressão e violência contra as mulheres. Uma mobilização, que se apoia na ideia de que “quem mata uma mulher, mata a humanidade”, a campanha denuncia o machismo, a misoginia, o racismo, o fundamentalismo religioso, a omissão do Estado e exige proteção da vida das mulheres neste contexto de pandemia, que as tem tornado  mais vulneráveis à violência.

Com centenas de coletivos, organizações e movimentos organizados em praticamente todos os estados da federação, o Levante é uma organização aberta, plural e horizontal. Pretende ser uma campanha estendida por dois anos ou mais, com ações pontuais e localizadas, focadas nas realidades específicas das regiões, e uma permanente e ampla mobilização nacional de sensibilização e informação da sociedade, de denúncia, pressão e monitoramento dos casos de violências e/ou feminicídios.

O Levante Feminista quer colocar este tema/realidade em pauta em todos os espaços: nas casas, nos grupos e comunidades, nas conversas de botecos, nas paradas de ônibus, nas ruas e praças do país, nas mídias sociais e em todos os meios de comunicação possíveis; quer denunciar e combater a política de militarização do governo, o estado miliciano e genofeminicida, contestando os decretos das armas e a espetacularização da violência de gênero e do racismo, afirmando sem titubear que o feminicídio é um crime de ódio e não de paixão, e muito menos de defesa da honra.

A campanha busca envolver mulheres e homens no enfretamento desta guerra sangrenta contra os corpos e o empoderamento político das mulheres, a fim de alcançar o objetivo da campanha que, como tem afirmado a filosofa Marcia Tiburi, uma das criadoras da proposta do Levante:“… é estancar esse banho de sangue que vem sendo promovido pelo machismo e pela espetacularização da violência contra as mulheres e a impunidade”.

Devido ao necessário isolamento social em decorrência da Covid-19, que tem impossibilitado as ações presenciais, a campanha está em ebulição nas redes sociais, com a realização de atividades diversas nos estado e municípios, organizadas pelas mulheres que vivem e conhecem a realidade específica do feminicídio em cada lugar. Para isso, estão sendo criados materiais de comunicação, exaltando a imagem dos girassóis amarelos, símbolo do Levante, que figura como sinal de esperança e celebração da vida. E através da hashtag #NemPenseEmMeMatar, busca-se disseminar a ideia de que a violência contra a mulher é um problema que afeta a humanidade inteira.

Uma importante ação do Levante é o manifesto público pelo fim do feminicídio intitulado: Quem  mata uma mulher mata a humanidade, que já conta com mais de 40 mil assinaturas em todo país, cuja meta é ultrapassar 100 mil. Conheça-o, assine-o, debata seu conteúdo e divulgue-o em nossas CEBs, grupos, pastorais e movimentos sociais e eclesiais. www.change.org/levantefeminista2021. Para mais informações e para compartilhar o material visite a página do Levante Feminista nas redes socais (Facebook, Instagram, Twitter…). Faça parte! coloque um lenço amarelo em sua janela, imprima o cartaz da campanha e coloque no mural, coloque na sua foto de capa ou de perfil!

Espero ter despertado em você o interesse, o desejo e o compromisso de avançar na vivência do feminismo comunitário, assumindo esta proposta como caminho de superação das violências contra as mulheres. E animadas e animados pela ousadia das mulheres bíblicas que, neste tempo pascal, nos iluminam e desafiam a sermos  protagonistas da ressurreição de Jesus, que é insurreição contra todas as forças da morte. Vem para o Levante com a gente, vem!

 

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