ColunistasFrei Marcos Sassatelli, op

O Ser humano histórico-social (1)

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

(Continua a série de artigos sobre o Ser humano)

Para o Ser humano, “ser-no-mundo” historicamente, significa, antes de tudo, “ser-no-mundo” socialmente (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religiosamente). O Ser humano histórico “é-na-sociedade”, “é-sociedade”. Trata-se de uma sociedade que influencia e condiciona dialeticamente o indivíduo. O Ser humano histórico é socialidade na individualidade e – como veremos – individualidade na socialidade. A dimensão da socialidade é constitutiva do Ser humano histórico.

Mais especificamente, o Ser humano histórico é numa sociedade historicamente determinada, ou seja, numa formação social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religiosa): uma totalidade social estruturada num dado momento histórico, uma realidade concreta, empírica (Cf. MENDONÇA, N. Domingues, O uso dos conceitos. Uma questão de interdisciplinariedade.  Vozes, Petrópolis, 19852, p. 63).

Uma sociedade historicamente determinada torna-se um sistema social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religioso), isto é, um conjunto de estruturas sociais (sócio-econômico-político-ecológico-culturais-religiosas) diversas, dialeticamente interligadas, interrelacionadas, interdependentes e interatuantes, como partes que se mantêm articuladas entre si. Modificar uma das partes significa modificar o conjunto (Cf. Ib., p. 40).

Um sistema social não se reduz à soma de suas partes; não é uma simples justaposição de indivíduos humanos. É um sistema de interação humana estrutural, é algo de objetivo, que independe da consciência e da vontade dos indivíduos. 

Por sua vez, todo sistema se constitui de subsistemas. Por exemplo, o sistema social (em sentido estrito), o sistema econômico, o sistema político, o sistema ecológico e o sistema cultural-religioso, são subsistemas do sistema social (em sentido amplo); o sistema capitalista é um subsistema do sistema econômico; o sistema legislativo e um subsistema do sistema político (que é chamado também de regime político), e assim por diante. Um subsistema pode às vezes, ser subsistema de dois ou mais sistemas, que se sobrepõem apenas parcialmente. O sistema mercantilista, por exemplo, é subsistema tanto do sistema econômico, quanto do sistema político. Um sistema pode ainda ser considerado, numa outra situação, um subsistema (Cf. Ib., p. 40-41). 

Embora com diferentes enfoques, na análise do conceito de sistema, “as ideias de conjunto, organicidade, e funcionamento se apresentam como constantes e permitem a dialética entre o que é diverso, mas simultaneamente interdependente entre si, contudo formando um todo complexo ou unitário” (Ib., p. 41). 

Ver, pois, uma formação social como sistema é um instrumento de análise, ou seja, uma forma analítica de perceber uma realidade concreta. 

O sistema social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religioso) é entendido, por sua vez, como uma estrutura de relações humanas objetivas. De fato, o significado de estrutura vincula-se à ideia de sistema. A estrutura é “a forma pela qual se articulam as partes de um sistema, como o tipo de relação e combinação que estas partes mantêm entre si e com o todo, como também o tipo de relação e de combinação do todo com as partes” (Ib., p. 47). 

O conceito de estrutura, portanto, se inter-relaciona com o de sistema. Em certo sentido, o sistema é uma estrutura e a estrutura é um sistema. 

A noção de estrutura é ligada à de conjuntura. A conjuntura é a maneira como a estrutura se manifesta (se concretiza) em determinado momento histórico. “A conjuntura é entendida como o estado momentâneo da estrutura, a maneira como num determinado momento os fatores se combinam para influenciar os acontecimentos. O termo conjuntura é empregado para designar o conjunto de elementos que mudam com mais frequência, quando comparados ao conjunto de elementos que são mais estáveis dentro do sistema” (Ib., p. 52). 

(Continua no próximo artigo)

Editora Lutas Anticapital, Marília – SP, 2023 (p. 384)

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Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 10 de novembro de 2023 

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