Sínodo para a Sinodalidade 2024

Padre Pedro Brassesco: O caminho sinodal é a expressão de uma conversão pastoral

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

D’O Lutador.

“O Papa, é claro, não está inventando nada de novo, sabemos que este estilo de ser Igreja é próprio do primeiro milênio da vida da Igreja, e fundamentalmente tem sido promovido pelo Concílio Vaticano II. Aí vemos características muito fortes desta proposta.”

Na semana passada, o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) nomeou um novo secretário adjunto. Ele é o padre Pedro Brassesco, que acompanhará o padre David Jasso, que até agora exercia esta função.

Sacerdote da diocese de Gualeguaychú, na província argentina de Entre Ríos, onde nasceu, foi formado sacerdote e começou seu ministério sacerdotal há 13 anos. Um ministério que ele vem desempenhando em diferentes paróquias da diocese, mais recentemente em Ibicuy, uma cidade muito pequena, uma missão que ele combinou com seu serviço como subsecretário da Conferência Episcopal Argentina durante os últimos sete anos e meio.

Em sua diocese de Gualeguaychú, ele foi Delegado para Comunicações. Anteriormente ele trabalhou como delegado diocesano das Obras Missionárias Pontifícias e como secretário nacional da União Missionária Pontifícia até iniciar seu trabalho na Conferência Episcopal Argentina. Ele também é Secretário Executivo da Comissão Episcopal para as Missões da Conferência Episcopal, um serviço que ele agora está encerrando.

Antes de entrar no seminário ele se formou em comunicação social, trabalhando na área de jornalismo por 11 anos. Sua experiência em comunicação o ajudou a poder colaborar em diferentes áreas da comunicação eclesial.

Leia abaixo a entrevista realizada por Luís Miguel Modino.

O senhor está dando um salto da Igreja argentina para a Igreja latino-americana e caribenha, em um momento em que o CELAM está consolidando seu processo de renovação e reestruturação. Que desafios envolve esta nova caminhada que o senhor está empreendendo?

Em primeiro lugar, o desafio de assumir esta tarefa sempre como um serviço, um serviço baseado no que se pode contribuir, sobretudo na área da visão pastoral, da visão em que me formei. Esta reestruturação do CELAM também tem o objetivo de dinamizar a presença da Igreja latino-americana, mas acima de tudo do ponto de vista pastoral.

Por outro lado, implica também o desafio do crescimento e enriquecimento pessoal através do contato com as diferentes realidades de nosso povo que peregrina na América Latina e no Caribe, sobretudo a partir de suas particularidades culturais e da forma como vivem sua fé. Especialmente os desafios colocados pela Igreja após a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, com vistas ao Evento Guadalupano de 2031 e ao Jubileu da Redenção de 2033. Poder colaborar com a caminhada da Igreja nesta perspectiva.

É um desafio pessoal, que, naturalmente, a gente sempre se sente pequeno diante dos pedidos da Igreja, dos pedidos de Deus, mas também se sabe que é Deus quem nos dá a força e a energia para podermos realizar a tarefa que Ele nos confia.

O senhor fala da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe que será realizada dentro de poucos dias. Poderíamos dizer que esta grande novidade, que seria um exemplo prático da Igreja Povo de Deus do Vaticano II, poderia marcar a maneira de ser Igreja na América Latina e, finalmente, em toda a Igreja universal, nas próximas décadas?

Em primeiro lugar, deve ser visto como um certo processo, não apenas como o evento da própria assembleia, a partir do que já foi feito e será feito precisamente de 21 a 28 de novembro no México, e em conexão com todo o continente, mas como um processo que está nos dando uma nova identidade como Igreja em termos de assumir a dimensão do caminho sinodal como o caminho próprio da Igreja neste momento.

Nisto é muito importante ver mais do que o evento em si como o processo que está acontecendo e deixando sua marca nas comunidades. Será um desafio para as comunidades, as dioceses, as comunidades paroquiais, assumirem este estilo que a Igreja nos propõe para este momento. Não apenas, repito, para assumir os frutos da Assembleia em termos de ações ou linhas pastorais em cada um dos desafios, mas também como um estilo para poder tomar decisões e caminhar juntos como Igreja.

Haverá um olhar atento da Igreja em todo o mundo sobre como tudo isso está se desenvolvendo na América Latina e no Caribe, especialmente a partir do desafio lançado pelo Sínodo de 2023, que já começou precisamente na fase diocesana, e que terá como experiência anterior, de alguma forma, o que temos feito no continente americano.

Qual a importância do Papa Francisco, alguém próximo e conhecido em sua maneira de agir para a Igreja argentina e latino-americana, nesta forma de avançar proposta pelo CELAM e pela Igreja latino-americana e caribenha, através da Assembleia Eclesial, e pela Igreja universal, com o Sínodo sobre a Sinodalidade?

Obviamente, o Papa é o grande promotor deste caminho sinodal. Como Bispo de Buenos Aires, como Cardeal da Argentina, ele sempre foi um promotor de atitudes e processos, mais do que da busca de resultados concretos. E isto ficou muito marcado em suas propostas iniciais como Sumo Pontífice em relação à conversão pastoral. O grande desafio é precisamente que, o caminho sinodal é uma metodologia, uma expressão de conversão pastoral que deve acontecer nas comunidades, para poder levar adiante a missão da Igreja, que é proclamar o Evangelho até os confins da terra.

O Papa tem promovido e proposto este caminho para a Igreja, e as Igrejas também estão gradualmente adotando-o como seu próprio estilo. O Papa, é claro, não está inventando nada de novo, sabemos que este estilo de ser Igreja é próprio do primeiro milênio da vida da Igreja, e fundamentalmente tem sido promovido pelo Concílio Vaticano II. Aí vemos características muito fortes desta proposta.

O Papa, evidentemente, é apresentado como a cabeça, de certa forma, como o pastor que nos guia, que muitas vezes também vai em nosso meio, que às vezes nos empurra ao longo do caminho sinodal.

Poderíamos dizer que assumir isto na vida prática das igrejas locais, das dioceses e paróquias, e certas resistências que se percebem por vezes na hierarquia, é este um grande desafio para que este caminho, este modo sinodal de ser Igreja, possa continuar a avançar e consolidar-se?

É uma das dificuldades possíveis, sobretudo, como diz o Papa, às vezes temos um senso muito arraigado de “sempre foi feito desta maneira”. Acreditamos que as fórmulas que aprendemos, e que provaram ser válidas no passado, continuam a ser válidas o tempo todo. Olhando para a realidade, percebemos que esta mudança de época exige que sejamos fiéis ao anúncio do Evangelho, à transmissão da tradição da Igreja com uma nova metodologia e uma nova forma para ser aceita por todo o povo de Deus.

Os desafios serão sempre, de alguma forma, quebrar esta barreira, os obstáculos que surgem, que são a resistência, de pensar que devemos continuar sempre da mesma maneira. Temos que ser fiéis à mensagem de Jesus, mas temos que ver as formas de transmitir essa mensagem em cada época. Esta é uma era em que estamos descobrindo cada vez mais nossa identidade, nosso ser filhos de Deus, nossos direitos, nossas possibilidades de participação.

E isto implica que, de alguma forma, como está acontecendo na Igreja, devemos ser capazes de enfrentar estes desafios. Um dos desafios será sempre tentar quebrar nossos padrões internos, ouvindo o que o povo de Deus nos diz e à luz do que Deus nos mostra como sua vontade para realizar a missão, que é proclamar o Evangelho e tornar Cristo conhecido por todos.

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