ColunistasPadre Francisco Aquino Júnior

Páscoa nossa de cada dia

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

Jesus foi assassinado em nome da lei (Jo 19,7). Morreu como maldito (Dt 21,23). Mas Deus o ressuscitou dos mortos, confirmando sua vida/missão e abrindo para nós um caminho autêntico e eficaz de salvação: lavar os pés uns dos outros (Jo 13,13-15); fazer-se próximo dos caídos (Lc 10, 25-37); socorrer os pequenos em suas necessidades (Mt 25, 31-46). Essa é a forma de participarmos de sua vida/missão (Jo 13,35) e, por ela, participamos da vida divina e manifestamos a glória de Deus no mundo.

A celebração do Mistério Pascal é inseparável da vida nova em Cristo Jesus. Não por acaso, os encontros com o Ressuscitado sempre geram um dinamismo missionário (Lc 24, 33-35; Jo 20,19-22). E não por acaso, a liturgia do Tempo Pascal retoma sempre as catequeses batismais: morrer com Cristo para o pecado e renascer com ele para uma vida nova (Rm 6,3-11; Cl 3,1-4). Mais que um rito que remete a um acontecimento passado, a Páscoa é a celebração da vitória de Jesus Cristo sobre o poder da morte que se manifesta na vida daqueles/as que, n’Ele, com Ele e como Ele, no poder do Espírito, passam no mundo fazendo o bem, curando, libertando (At 10,38). Como bem cantamos em nossas celebrações: “A Páscoa não é só hoje, a Páscoa é todo dia. Se eu levar o Cristo em minha vida, tudo será um eterno aleluia”. É a Páscoa nossa de cada dia…

O anúncio da Ressurreição do Senhor não pode ser um discurso abstrato/vazio. Nem pode se reduzir a mero desejo/voto de algo que não existe. Precisa ser concretizado em nossa vida. Temos que mostrar/comprovar em nossa vida e em nosso mundo sua vitória sobre o poder da morte e a força salvadora e recriadora do seu Espírito.

Ela se mostra e pode ser comprovada em muitas situações:

  • na força (impotente, mas perseverante) com que tantas pessoas enfrentam enfermidade, abandono, solidão e até violência;
  • no amor de tantas mães por seus filhos com deficiência, dependência química, vítima do tráfico e até agressivos com eles: impotente, mas nunca rendido;
  • na dedicação cotidiana e silenciosa de tanta gente (familiares, vizinhos, amigos, conhecidos e até desconhecidos) a pessoas necessitadas e vulneráveis;
  • nas mais diversas formas de diaconia aos pobres e necessitados exercidas por comunidades cristãs e grupos religiosos dos mais diversos;
  • na indignação sentida e expressa de tanta gente contra toda forma de preconceito, discriminação e violência;
  • na criatividade dos pobres para garantir o pão/sustento de cada dia e na solidariedade que ainda são capazes de realizar, repartindo o pouco que têm;
  • na alegria (sorriso, humor, festa, música, dança etc.) sempre presente na vida do nosso povo, mesmo em meio às dificuldades e aos sofrimentos;
  • nas muitas lutas e organizações populares: camponeses, indígenas, negros, sem teto, catadores de material reciclado, população em situação de rua, mulheres, população LGBTQIA+, pessoas com deficiência, idosos etc.;
  • na resistência aos discursos de ódio, aos atentados contra os direitos humanos, à defesa da tortura, da pena de morte, da guerra etc.;
  • na arte que expressa, canta e convoca ao respeito à vida humana, ao cultivo de relações fraternas e ao cuidado da Casa Comum;
  • nas igrejas, grupos e movimentos religiosos que vivem e propagam a fraternidade, paz, a justiça e o cuidado da Casa Comum;
  • e em tudo/todos que protege e promove a vida e a paz…

Tudo isso é sinal (limitado/ambíguo, mas real/eficaz) da vitória de Cristo Jesus sobre o poder da morte em nossa vida e em nosso mundo, ao mesmo tempo em que nos convoca a aspirar, buscar e alcançar essas coisas que manifestam e antecipam entre nós a vida nova do Ressuscitado: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto” (Cl 3,1). Vivamos, pois, do Ressuscitado e como ressuscitados. Sejamos sinais/portadores de ressurreição no mundo. Anunciemos com nossa própria vida a Páscoa do Senhor. Que ela se concretize e se manifeste na páscoa nossa de cada dia…

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