Chamados à ação, a uma Igreja em saída
A pessoa de Francisco e o modo de pastorear a Igreja que ele nos oferece têm-nos servido de inspiração e de testemunho para muito daquilo que estamos buscando e tentando construir eclesialmente, seja em âmbito interno, naquilo que tocam as estruturas, seja em âmbito de missão, e, como base de tudo isso, pensando na proposta do próprio Papa, uma Igreja em saída. Podemos dizer o mesmo em relação à sociedade, pois Francisco retoma às intenções do Vaticano II e propõe um diálogo autêntico e livre, em que os grandes dramas e tramas humanos, as grandes causas e problemas sociais atuais são tratados e aproximados da missão da Igreja.
Uma característica que percebemos na sua Exortação Evangelii gaudium (EG), por exemplo, é o modo como ele aborda o conteúdo da expressão evangelizar. Ele diz que se trata de uma ação de alegria, que resulta de uma sensação que contagia todo o nosso ser e que, por essa razão, transborda e vai ao encontro do outro, da outra, e de todas as realidades, à todas as periferias [existenciais e sociais]. Esta alegria não vem de um simples entusiasmo humano ou de mera experiência, por mais importantes e reais que elas sejam, mas nasce de um encontro vivo e real com Jesus Cristo, o ressuscitado. É um encontro que marca o nosso ser e a experiência que se produz modifica a nossa estrutura, naquilo que somos e naquilo que somos chamados a ser, pois passamos a ver de forma diferente. Este ver, que aparece nas narrativas bíblicas da ressurreição e que aqui é trazido como uma ação que permite esta experiência, é muito mais que olhar, ele abre novos horizontes e possibilidades.
A partir deste encontro, nós passamos a dar nova razão e sentido às experiências que trazemos e somos motivados por um novo ar de esperança, que faz tudo parecer novo (EG 11). E isso, mesmo diante das adversidades e tribulações, das condições concretas que nos cercam, já que esta é uma alegria que nos coloca diante de uma realidade transcendente que se faz valer pelo imanente da história, por aquilo que é real e concreto, com toda a sua problemática e questões urgentes, diante de toda dor e sofrimento, de questões de vida e de morte, pois não há fuga, mas presença, vivência e anúncio. Esta nova sensação produzida pelo encontro na fé, que faz brotar esta alegria, esta força de esperança, não pode ser confundida com alienação ou simplesmente êxtase religioso, mas sim de um brotar da fé que se faz compromisso, que implica postura e que avança para uma esperança responsável, cativa, crítica e criativa. O ressuscitado que encontramos não é outro senão o crucificado. Ele nos deixou um caminho de seguimento que nos convida a um Reino, ao serviço, ao cuidado do outro e a construção do bem comum; e esta experiência, este entendimento, isto é, esta percepção, é vital para o cristão.
Esta é a fonte da alegria que deve estar presente no olhar do evangelizador, de todo cristão. É a alegria diante de um futuro que nos chama a novas realidades e, ao mesmo tempo, nos compromete com aquilo que está a nossa frente, com situações e pessoas concretas, com dores e sofrimentos, angústias e esperanças; situações limites que não se pode ignorar, pois elas nos obrigam a um olhar prioritário.
Todos somos chamados a esta ação, a uma saída. Ela deve ser real e concreta.