Setor São Mateus, na Cidade de São Paulo, lançou material para grupos que querem trabalhar com População em situação de Rua

Na sociedade do consumo e do descarte humano, um grupo marginalizado e invisibilizado, têm seus direitos ainda mais violados de forma permanente pelo poder público. Além da violência sofrida pela sociedade. Estamos falando da População em situação de Rua, esse público vem crescendo a cada dia com altos índices de desemprego dos últimos dois anos.

A profecia se faz presente através de grupos que, seguindo os passos de Francisco, decidem ir ao encontro das pessoas que vivem em situação de rua.

Disponibilizamos aqui o material para Grupo de Reflexão ou Grupo de Rua que tem o intuito de preparar os grupos que desejam acolher à luz do Evangelho esses marginalizados. Esse material foi preparado pelo Padre Francisco Reginaldo Henrique de Miranda, Paróquia Santíssima Trindade – Setor São Mateus – Região Belém – Cidade de São Paulo.

Segue o material na íntegra!  

GRUPO DE REFLEXÃO OU GRUPO DE RUA  

PRIMEIRA PARTE – ORIENTAÇÕES GERAIS PARA PARTICIPANTES DE GRUPOS DE REFLEXÃO OU GRUPO DE RUA

  1. A IDENTIDADE E O OBJETIVO DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

1.1. O que é um Grupo de Reflexão ou grupo de Rua?

1.2. O que queremos com os Grupos de Reflexão? Quais são os nossos objetivos?

* Comunidades onde todos participem, tenham voz e vez

* Onde todos os serviços são repartidos e assumidos por todos e entre todos.

* Onde se celebra a fé e a vida.

* Onde há partilha, entre-ajuda, igualdade, corresponsabilidade, testemunho.

* Onde “todos tenham vida e vida plena.”

1.4. Por que acreditar nos Grupos de Reflexão?

* a escolha e o preparo de lideranças; a formação de pequenos grupos; a organização do povo em vista da libertação, da promoção e defesa da vida; a luta pelo Reino de Deus.

* Organizar o povo e libertá-lo das garras do Faraó (Ex 3, 7-12).

* Conquistar a terra prometida e construir uma nova sociedade (Js 1, 1-9; 4, 14-17).

1.5. Por que os Grupos de Reflexão acontecem nas casas?

(At 5,42; 20,20). A maior e mais perfeita revelação de Deus se dará no céu, na casa do Pai, onde “há muitas moradas” (Jo 14,2).

1.6. Que relação existe entre o Ministério da Visitação e da Bênção e os  Grupos de Reflexão?

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICO-PASTORAL DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

2.1. Fundamentação bíblica

  1. a) Moisés, no deserto, agrupou o povo em tribos, isto é, em grupos, em comunidades. Assim o tribalismo vem a ser um jeito de superar o egoísmo e o isolamento. As doze tribos representam a unidade. O que fundamenta a tribo é a união, a vida em comum, a partilha. Trata-se da busca do ideal de uma sociedade igualitária, segundo o projeto de Deus. Respeitadas as devidas proporções, nossos grupos e comunidades também procuram inspirar-se nesta experiência do Povo de Deus, quando ensaiam, no cotidiano da vida, o ideal de uma nova sociedade caracterizada por relações fraternas e igualitárias, pela solidariedade, a partilha e corresponsabilidade nas decisões e na entre-ajuda.
  2. b) Toda a história do povo de Israel está marcada pelo sentido da vivência de comunidade. Nenhuma pessoa se entende como gente fora da vida em comunidade. Cada membro do povo se considera um representante de todo o povo e assume em si mesmo, em seus compromissos de vida, todas as grandezas e fraquezas do povo.
  3. c) Jesus segue as tradições de seu povo. Viveu 30 anos no grupo familiar de Nazaré, onde crescia em idade, sabedoria e graça. Nesse grupo se deu a inculturação do Filho de Deus. Através do trabalho, da vida em família, da vivência comunitária, da freqüência à sinagoga, da participação na vida de seu povo, Jesus aprendeu a ser humano, foi crescendo em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos seres humanos e preparando-se para a sua missão.
  4. d) Logo no início de sua vida pública, depois de ungido pelo Espírito Santo no seu batismo, Jesus constitui o grupo dos Doze Apóstolos e, através deste grupo, que é a semente da Igreja, dá continuidade à evangelização. Jesus evangeliza através de um grupo (Mc 1,9-20; Mt 10,1-33; Mt 28,16-20, Lc 10).
  5. Ao despedir-se deste mundo, Jesus não deixa um livro escrito, nem um sistema organizado de evangelização, mas deixa um grupo de pessoas – os Doze e outros discípulos e discípulas –, com a missão de evangelizar.
  1. e) Na Parábola da Videira e dos Ramos, Jesus mostra que ninguém faz nada sozinho, isolado. Um ramo separado do tronco seca, morre. Juntos, ligados uns com os outros e no tronco, os ramos produzem muitos frutos: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,1-8).
  2. f) Pedro e os Doze, Maria, mãe de Jesus, os parentes de Jesus, seus discípulos e discípulas, estão reunidos quando recebem o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, e passam então a anunciar em grupo o Evangelho do Mestre, confirmando assim o jeito de Jesus evangelizar (At 2,14).
  3. g) Nos Atos dos Apóstolos (2,42-47), temos o relato de um grupo bem formado: “perseveravam na doutrina dos Apóstolos… viviam unidos e tinham tudo em comum… unidos de coração… vendiam seus bens e repartiam entre si… louvavam a Deus e cativaram a simpatia do povo”.
  4. h) O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, segue a mesma metodologia evangelizadora de Jesus, isto é, forma grupos, cria comunidades, nas quais deixa coordenadores bem formados para animar os grupos. Paulo formou evangelizadores e fundou grupos de evangelização. Tais grupos são conhecidos como “Igreja doméstica”. Paulo usa muito a expressão: “a Igreja que se reúne em tua casa” (1Cor 16,19).
  5. i) Nos primeiros tempos da Igreja, os encontros se realizavam nas casas, como grupos de oração e reflexão (1Cor 16,19; Rom 16,3-5; Col 4,15; Atos 2,46). As casas são o lugar de reunião, visto que o Templo fechou suas portas a Jesus, aos Doze e a Paulo. A casa de Deus não é mais, para eles, um templo, uma construção, mas é o próprio grupo que se reúne. Este grupo é a Igreja de Deus. A Igreja começou com o relacionamento das famílias entre si.
  6. j) Este conjunto de grupos reunidos nas casas forma a chamada “Igreja local”, isto é, o conjunto de vários grupos de uma cidade ou região (At 13,1; 1Cor 16,19; 2

Cor 8,1; Ap 1,4; 2,1.8.12.18; 3,1.7.14). A Igreja local (que podemos hoje chamar de rede de comunidades, paróquia ou diocese, conforme o nível a que nos referimos) é sempre um conjunto de grupos. Por sua vez, a comunhão das Igrejas locais forma a Igreja Universal. Portanto, os grupos não são isolados. Estão unidos na mesma e única Igreja de Cristo. A Igreja Universal é o Corpo de Cristo, formado de membros, isto é, de grupos. O Corpo de Cristo, a Igreja, é formada a partir de três dimensões: grupos, Igreja local (CEB’s, paróquia e diocese) e Igreja Universal.

2.2. Fundamentação trinitária

  1. a) O Deus dos cristãos é comunidade. Nosso Deus, em seu mistério trinitário, é uma comunidade, uma família, uma equipe, um grupo. Deus é comunhão, convive e age em grupo eternamente. Deus decide tudo em grupo, em equipe, porque tudo o que a Trindade Santa faz é comum às Três Pessoas Divinas. Deus não vive separado, não é solitário, não é isolado, não é individualista. Deus é “Eu-Tu-Nós”. Esta unidade de Deus, sua vida em comunhão é o fundamento da Igreja, uma vez que Jesus pediu: “Pai, que todos sejam um” (Jo 17, 21).
  2. b) Deus, que é comunhão, criou o homem e a mulher para a comunhão. “Desde o início a pessoa humana é, por natureza, um ser social” (Gaudium et Spes 12).

Deus vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal. Ao criar o homem e a mulher, inscreve neles a capacidade de comunhão (Familiaris Consortio 11). Ser imagem e semelhança de Deus é viver em comunidade, em grupo, em comunhão, é refletir na terra a realidade da vida trinitária de Deus no céu: “assim na terra como no céu”.

  1. c) Aprouve a Deus chamar os homens e mulheres à participação de uma vida e assim constituí-los num só povo, num corpo (Ad Gentes 2). Deus é modelo daquilo que nós devemos ser como Igreja e como sociedade (Catequese Renovada 202). Cada Pessoa Divina, na Trindade, não existe para si, mas para as outras duas, com as outras duas, nas outras duas. O que é próprio das Pessoas Divinas é a comunhão, o dom de si, o relacionar-se. Na Trindade, Deus vive uma vida onde tudo é comum. O viver de Deus é um “ser-em-equipe”, em grupo. Assim deverá ser a Igreja, povo de Deus. Daí a nossa preocupação com a “unidade na diversidade” e o nosso compromisso com uma vida em comunhão, em equipe…
  2. d) A maior glória da Trindade é vivermos em comunhão, em grupo, como ela vive.

A existência cristã é uma “existência trinitária”. Formar Grupos de Reflexão é um compromisso trinitário (Catecismo da Igreja Católica 253-256).

  1. e) A Igreja, que brota da Trindade, será uma comunidade de diálogo, de grupo, de união, de participação. Será, portanto, uma Igreja ministerial, ecumênica, solidária, transformadora. Viver em comunhão, em grupo, é a glória de Deus e a salvação da pessoa humana. “Que todos sejam um como nós somos um” (Jo 17, 21). A Trindade é a gramática na qual se lê toda a história da salvação. A Trindade é a gramática da vida em grupo, em comunidade. A glória de Deus está na nossa comunhão, nos Grupos de Reflexão, de oração e de vivência.
  2. f) Quem se isola, não vive a dimensão trinitária da fé, coloca a Trindade no exílio e vive o monoteísmo do Antigo Testamento, não o monoteísmo trinitário do Novo Testamento. Nossos Grupos de Reflexão devem ser o espelho da Trindade, um jeito humano de viver a vida da Trindade, em comunhão e participação.
  3. g) O cristão vive em comunidade sob a ação do Espírito Santo, princípio invisível de unidade e comunhão, como também da unidade e variedade de estados de vida, ministérios e carismas. (Puebla 638).

2.3. Fundamentação eclesiológica

  1. a) A Igreja é o povo de Deus, que manifesta sua vida de comunhão e serviço evangelizador em diversos níveis e sob diversas formas (Puebla 618).
  2. b) Em torno do bispo e em perfeita comunhão com ele, devem florescer as paróquias e as comunidades cristãs, como células vivas e pujantes da vida eclesial (Documento de Santo Domingo 55).
  1. c) A paróquia, “comunidade de comunidades”, família de Deus, fraternidade animada pelo Espírito de Unidade, é a Igreja que se encontra entre as casas dos seres humanos; é uma rede de comunidades (SD 58). Vivendo e trabalhando inserida na realidade, a paróquia acolhe as angústias e esperanças dos homens e mulheres de hoje (GS 1), anima e orienta a comunhão, a participação e a missão do povo de Deus.
  2. d) A paróquia tem a missão de evangelizar, celebrar a liturgia, realizar a promoção humana, fazer progredir a inculturação da fé nas famílias, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nos grupos e movimentos apostólicos e, através deles, em toda a sociedade (SD 58).
  3. e) É preciso renovar as paróquias mediante pequenas comunidades eclesiais, com a formação de leigos e leigas, fazendo planos de conjunto em áreas homogêneas (SD 60).
  4. f) As CEBs são a expressão do amor preferencial da Igreja pelo povo simples. Nelas se expressa, se valoriza e se purifica a religiosidade popular e se possibilita um compromisso concreto com a transformação do mundo (Puebla 643). Fomentam a adesão a Jesus Cristo, procuram uma vida mais evangélica, questionam as raízes de uma sociedade egoísta, individualista e consumista, e explicitam a vocação para a comunhão e participação. Elas são o sinal da vitalidade da Igreja, instrumento da formação e evangelização, um ponto de partida válido para uma nova sociedade (Redemptoris Missio 51).
  5. g) Nas pequenas comunidades cresce o relacionamento a participação na Eucaristia, a comunhão com os pastores e um maior compromisso social. Nelas se acentua o compromisso com a família, com o trabalho e a comunidade local.

A multiplicação das pequenas comunidades é um fato eclesial relevante, caracteristicamente novo (Puebla 629 e 640). As pequenas comunidades são a esperança da Igreja (EN 58).

  1. h) Evangelizar em comunhão fraterna é condição para o sucesso da missão. Cristo mandou que todos se amassem como ele amou. A fraternidade parte de um Deus-Comunhão e de um Deus que se faz irmão, para que todos sejam um. O testemunho cristão é essencialmente comunitário. Jesus envia seus discípulos “dois a dois” e ele mesmo vive em comunhão com seus Apóstolos. A comunhão fraterna era o ideal das primeiras comunidades cristãs, que queriam ser “um só coração e uma só alma”. Fraternidade que não se expressava apenas nos bens materiais, mas também nos bens espirituais. Caridade fraterna que se deve manifestar entre os próprios evangelizadores, e entre todos os que crêem no Cristo (CNBB, Diretrizes gerais…, 1999-2002, Doc. 61, n.15). Portanto, a vida de fé em grupos, em comunidade, inspira-se no testemunho da Igreja cristã primitiva.
  2. i) Com estes grupos, a Igreja se apresenta em pleno processo de renovação da vida da paróquia e da diocese, mediante uma catequese que é nova não apenas na sua metodologia e no uso de meios modernos, mas também na apresentação do conteúdo, que é vigorosamente orientado no sentido de introduzir na vida motivações evangélicas em busca do crescimento em Cristo (Puebla 100).
  3. j) A Igreja no Brasil procura concretizar essa fraternidade no espírito da experiência comunitária, reconstruindo na sua base aquele tecido de pequenas comunidades eclesiais, ligadas, com profundos vínculos de fraternidade, sempre abertas, no meio social em que vivem, à solidariedade com o povo (CNBB, Diretrizes gerais…, 1999-2002, Doc. 61, n.17).
  1. k) “A grande comunidade eclesial expressa sua vida em comunidades concretas através da comunhão na fé, vivida, celebrada e testemunhada. A nova evangelização busca criar novas comunidades e exige profunda revisão nas estruturas comunitárias” (CNBB, Diretrizes gerais…, 1999-2002, Doc. 61, n.20).
  2. l) É preciso que, nas Igrejas particulares e especialmente no meio urbano, se reconheça a possibilidade de diversas formas de vida comunitária, integração e associação dos fiéis, sem querer impor um único modelo de comunidade eclesial. No contexto urbano, o fiel é exposto a um número muito grande de solicitações e tem relações com diversos meios profissionais, culturais e residenciais. Nesse contexto, a pastoral não pode ser uniforme ou ligada exclusivamente a um único centro de agregação (CNBB, Diretrizes gerais…, 1999-2002, Doc. 61, n.283).

2.4. Fundamentação pastoral

  1. a) Muitos dos fiéis batizados não são evangelizados. As crianças que fazem a Primeira Comunhão Eucarística não perseveram, os jovens crismados somem da Igreja. Não podemos continuar sendo Igreja que se limita a distribuir sacramentos, sem a devida evangelização. Daí a razão pastoral dos Grupos de Reflexão como um dos meios de evangelização.
  2. b) Nesses grupos, pequenas células das comunidades e da paróquia, a Igreja vai acontecendo nas ruas, nas casas, nos bairros e condomínios. Não estaremos construindo templos de pedra ou madeira, mas comunidades vivas.
  3. c) Através dos Grupos de Reflexão, temos um novo modo de ser Igreja: é a Igreja missionária, que sai às ruas. Sim, a Igreja vai às ruas, às casas. Vai ao encontro do povo, lá onde o povo está. Não podemos permanecer na sacristia, nem na secretaria paroquial. A Igreja tem que estar mais perto do povo. Em vez de ficar reclamando que o povo não vem às missas, às nossas reuniões, etc., nós é que temos de ir ao encontro do povo, ir aonde o povo está. Os verbos ir, sair, partir, caminhar, tão próprios da atividade missionária, são muito usados no livro do Atos para falar da atividade missionária das primeiras comunidades cristãs.
  4. d) Nos Grupos de Reflexão, há continuidade da catequese, facilita-se a catequese em família, acontece a catequese de adultos, os ministérios vigoram, o encontro é personalizado, os problemas podem ser resolvidos com diálogo, eficiência e praticidade.
  5. e) A cultura urbana favorece muito o anonimato e o individualismo. Mas, no fundo do coração, as pessoas querem comunhão. O ser humano moderno não suporta a solidão, nem a massificação, mas almeja a comunhão, o encontro, o diálogo, a comunidade. Os Grupos de Reflexão oferecem oportunidade de encontro e associação, amizade e entre-ajuda.
  6. f) É preciso procurar ver como as pequenas comunidades, que se multiplicam sobretudo na periferia e nas zonas rurais, podem adaptar-se também à pastoral das grandes cidades do nosso continente (Puebla 648).
  7. g) Nos anos recentes, especialmente em face das grandes paróquias urbanas, caracterizadas por uma baixa prática religiosa e o anonimato dos fiéis, reinvidica-se a transformação da paróquia em comunidades de dimensões humanas, possibilitando relações pessoais fraternas (CNBB, Diretrizes gerais…, 1999-2002, Doc. 61, n.285).
  8. A METODOLOGIA DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

3.1. Princípios da metodologia participativa

O grupo de reflexão é um jeito ou uma forma diferente de educar, conscientizar e realizar a formação dos cristãos. Não segue os métodos da escola tradicional, onde um sabe e ensina, outro não sabe e aprende.

Nos grupos se realiza uma evangelização inculturada e uma educação libertadora, uma metodologia participativa, que se caracteriza pelos seguintes princípios:

Todos sabem. Cada um vivencia e transmite experiências pessoais importantes. Em cada pessoa existe um saber, muitas vezes diferente do saber dos outros.

Ninguém ensina ninguém. Juntos nos educamos, aprendemos e crescemos, num relacionamento franco, igualitário, democrático e fraterno.

A pessoa é feita para o diálogo. No grupo treinamos a arte do diálogo, que exige respeito, acolhida e escuta à pessoa do outro. Valoriza-se o saber de todos. Acontece a partilha e a troca de idéias, experiências, conhecimentos e sugestões.

A pessoa é sujeito e nunca objeto. O grupo é o espaço de liberdade para a pessoa expressar-se e agir com autonomia. O grupo favorece a criatividade e as diferentes iniciativas. Nele, educa-se para a liberdade na corresponsabilidade.

O ponto de partida é sempre a realidade. Começa-se com as perguntas e as preocupações da vida. Nos encontros do grupo de reflexão partimos dos fatos concretos da vida e da realidade das pessoas, da comunidade e da sociedade. Olhamos para a realidade.

Reflexão, ação e oração caminham juntas. Liga-se a fé com a vida, a teoria com a prática.

No grupo é muito importante a celebração. Celebra-se a fé e a vida, o compromisso com os irmãos e irmãs, as conquistas, as tristezas, alegrias e esperanças do grupo e da comunidade.

É muito importante o uso de símbolos. Eles facilitam a compreensão dos temas tratados, e de gestos e atitudes que servem para aumentar o afeto e o carinho entre os participantes.

3.2. O método do grupo de reflexão

Método significa caminho, estrada, que ajuda a chegar aonde se quer, a alcançar a meta, o objetivo proposto. O método é o fio condutor, é o sal que dá sabor, a luz que ilumina, o fermento que faz crescer a vida do grupo. Método é o jeito de animar e dinamizar o grupo de reflexão.

Os encontros dos Grupos de Reflexão partem da vida, para chegar a “mais vida”, com nova visão, novo compromisso, novas atitudes, novos sentimentos, nova prática.

Trata-se de um método de evangelização a partir da realidade onde as pessoas vivem, trabalham, se movimentam. O grupo de reflexão segue mais ou menos este caminho: ver – julgar – agir – celebrar.

  1. a) O momento do ver: É a hora de olhar para a vida, para os fatos e acontecimentos, os problemas e as preocupações das nossas famílias e comunidade, do nosso país e do mundo. Ver com os olhos e o coração. Ver a realidade, como Jesus via no seu tempo. Por exemplo: ao ver a multidão de pessoas doentes e famintas, Jesus moveu-se de compaixão (Mt 14,14; Mt 15,29-32).
  2. b) O momento de julgar: É a hora de iluminar a realidade com o olhar de Deus, com um olhar mais profundo. É a hora em que se faz uma reflexão e análise desta realidade à luz da Palavra de Deus ou da Igreja, para descobrir:

– Por que estas coisas acontecem?

– Como Deus vê e julga estes fatos e acontecimentos?

– O que a Palavra de Deus tem a nos dizer sobre isso?

– O que precisa ser corrigido, mudado, para caminharmos na direção do projeto de Deus?

Para os cristãos, a realidade deve ser julgada a partir dos princípios evangélicos, que apresentam como valores máximos a pessoa humana, a vida, a justiça, a misericórdia, a solidariedade, o amor ao próximo…

  1. c) O momento do agir: É a hora de assumir ações concretas, com o objetivo de interferir na realidade para transformá-la, tornando-a mais de acordo com a vontade de Deus. É o compromisso com a mudança do nosso modo de ser, pensar e agir. É o compromisso com a participação na comunidade, com as ações e organizações que nela existem, para enfrentar os problemas coletivos…

Diante da realidade do seu tempo, onde o povo era vítima da exploração, da doença, da miséria, da fome, Jesus assume uma prática libertadora que recupera a vida e a dignidade das pessoas: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).

Pelo seu agir e sua maneira de atender as necessidades do povo, Jesus revela o amor que o Pai tem pela humanidade. O agir cristão, evangélico, tem em vista a transformação radical do ser humano, das famílias e comunidades, da cultura e da sociedade. Tem por objetivo a realização do Reino do Pai.

  1. d) O momento de celebrar: É a hora da oração de súplica, de pedido de perdão, de oferecimento, de louvor, de ação de graças. É a hora de celebrar:

– A fé e a vida,

– A Palavra de Deus refletida e vivida,

– O compromisso pessoal e comunitário ou do grupo,

– As alegrias, esperanças e lutas,

– As vitórias do dia-a-dia de nossa vida.

É importante que celebremos e rezemos com símbolos, gestos, preces, salmos, com muita fé, devoção e criatividade.

Este método participativo, que segue os passos do ver, julgar, agir e celebrar, baseia a formação e a evangelização na reflexão, no estudo, na discussão, na oração e na ação. É muito importante, porque:

– desperta a consciência crítica frente à realidade,

– tira do comodismo,

– compromete com a prática da Palavra de Deus e com os nossos irmãos e irmãs na transformação da sociedade e na construção do Reino de Deus.

  1. O BOM ANDAMENTO DO GRUPO DE REFLEXÃO

4.1. Condições para o bom andamento do grupo:

Para que se alcance o objetivo e o bom funcionamento do grupo, deve-se atender a alguns princípios básicos:

4.2. Ações práticas dos Grupos de Reflexão

Além das reuniões para reflexão e oração, os Grupos de Reflexão podem se ocupar de outras atividades, como:

4.3. Um modelo de roteiro dos encontros

Este é um roteiro básico. Podem-se criar outros momentos a partir dele. Os materiais que forem usados, já vêm organizados mais ou menos a partir deste roteiro, especialmente os que são produzidos na Arquidiocese.

Este roteiro auxilia o grupo que quer continuar se reunindo para refletir algum assunto, e não sabe como preparar o tema, o encontro. Isso acontece, por exemplo, quando o grupo termina de realizar os encontros propostos pelos livretos da Arquidiocese, e ainda não chegaram os livretos para o momento seguinte. Ou quando o grupo quer se encontrar no tempo que vai do Natal até o início da Quaresma. Em vez de somente rezar o terço, o grupo deve manter-se como grupo de reflexão, onde a Palavra de Deus fica no centro de tudo.

O roteiro é o seguinte:

  1. DIFICULDADES QUE OS GRUPOS ENFRENTAM

Em todos os grupos, não são poucos os problemas que vão aparecendo ao longo do caminho. Vejamos algumas dessas dificuldades que os grupos enfrentam:

Quais dessas dificuldades estão presentes no seu grupo? O que fazer para superá-las? 

  1. OS FRUTOS DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

As pessoas que participam, mostram que os Grupos de Reflexão estão produzindo muitos frutos na vida das pessoas e nas comunidades cristãs. Vejamos alguns desses frutos. Os Grupos de Reflexão…:

SEGUNDA PARTE – ORIENTAÇÕES PARA OS ANIMADORES E ANIMADORAS DE GRUPOS DE REFLEXÃO

  1. A MISSÃO DOS ANIMADORES E ANIMADORAS DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

A evangelização é missão e responsabilidade da Igreja toda. Todos os/as batizados/as são chamados a evangelizar. Os cristãos leigos e leigas devem ter consciência de que são sujeitos da evangelização e, para isso, exige-se deles uma adequada formação e profunda espiritualidade.

No exercício de sua liderança, junto aos Grupos de Reflexão, os animadores e animadoras estão realizando um trabalho evangelizador e missionário, estão anunciando a Boa-Nova da Salvação e do Reino de Deus.

O ministério do/a animador/a é um serviço em vista do bom andamento do grupo e do crescimento dos seus participantes, na fé e no compromisso com Deus e com os irmãos e irmãs.

1.1 Quem é o animador, a animadora?

* os pés no chão,

* os olhos na realidade,

* a Bíblia na mão,

* o coração na comunidade.

1.2. O papel do animador/a

Cabe ao animador/a realizar os seguintes serviços – Sempre:

Nunca deixar o grupo sem rumo.

Antes do encontro:

(aniversários, doenças, mortes, nascimentos…).

Durante o encontro do grupo:

1.3. Qualidades e atitudes de um bom animador/a de grupo

1.4. Como superar as dificuldades?

Quando falta preparo, formação, metodologia e jeito de conduzir o encontro:

Quando o animador/a acumula lideranças:

Quando falta uma visão clara de política geral e partidária:

Quando há fofocas:

Quando falta clareza sobre a finalidade do grupo:

Quando alguém só quer rezar e não quer seguir o livrinho ou então não quer refletir:

Quando falta a participação dos homens e dos jovens:

Quando alguém desvia o assunto:

encontro.

Quando o grupo está desanimado:

Quando o grupo é pequeno:

Quando o grupo é muito grande:

Quando ministros, catequistas, lideranças, diáconos, padres criticam ou não apoiam os grupos:

1.5. Como tratar os diferentes tipos de participantes dos Grupos de Reflexão?

É função do/a animador/a estar atento/a à diversidade dos participantes do grupo, sabendo que todos têm qualidades que ajudam no crescimento do grupo, e têm limites que podem ser superados. Vejamos alguns tipos de participantes e a maneira como trata-los:

Quando o TIPO é: O ANIMADOR age assim:

Perguntador/a: Só atrapalha. Quer a todo custo impor a sua opinião.

Não deve responder e nem posicionar-se. Deve perguntar o que o grupo está achando.

Cabeçudo/a: Não aceita argumentos. Não entende e não quer entender a opinião dos outros. Deve pedir-lhe como favor pessoal que aceite a opinião do grupo, e prometer-lhe que depois discutirá o assunto com ele/ela.

Mudo/a: Ou o assunto não lhe interessa, ou já está cansado/a, ou está totalmente por fora, ou é tímido/a. Deve motivá-lo/a, perguntando-lhe o que está achando da discussão e pedir sua opinião.  Nunca humilhá-lo/a.

Falador/a: Fala de tudo, o tempo todo, fugindo do tema. Tenta promover-se a si mesmo. Com delicadeza, deve cortar-lhe a palavra: “Desculpe, mas estamos fora do tema, e há outros que querem falar.”

Tímido/a: Tem boas idéias, mas tem dificuldade de expressá-las.

Deve ajudá-lo/a, através de perguntas simples; e fazer elogios, quando merece. Isso ajuda a criar confiança.

Distraído/a: De repente começa a falar de qualquer coisa, sem se lembrar do assunto do encontro. Deve cortar-lhe a palavra com jeito, recordando-lhe o tema e pedindo sua opinião.

Detalhista: A pessoa que se enrola com pequenos detalhes, e não deixa o grupo caminhar. Com bom humor, deve mostrar-lhe que os detalhes são importantes, mas não tanto. Os detalhes podem ficar para outra hora.

Seguro/a: Sempre disposto/a, disponível, seguro/a de si e de sua posição no grupo. Gosta de ouvir e aceita opiniões. Participa bem. Deve pedir sempre sua opinião e agradecer sua contribuição. É uma grande ajuda no grupo.

Profundo/a: Fala pouco, mas participa. Quando fala, vai à raiz da questão. Não perde tempo em detalhes. Não deve deixar que os demais se sintam julgados por ele. Evitar que o grupo comece a depender de suas opiniões.

Prático/a: Não liga muito para a teoria. Seus exemplos são da vida concreta, do real, muito simples. Ajuda o grupo a aterrissar. Deve ajudá-lo a superar o simplismo, integrando o teórico e o prático. Deve lembrar a importância do estudo e da reflexão.

Legal: Consegue fazer rir com facilidade e contagia o grupo com seu otimismo. Alivia as tensões. Deve aprender a valorizar esta pessoa, sem que o grupo vire bagunça.

Super-otimista: Sempre encontra o lado bom das coisas e das pessoas. Defende os mais fracos. Gosta de elogiar. Deve valorizar este otimismo e ajudá-lo a perceber que há coisas negativas, que precisam ser vistas, para serem corrigidas.

  1. OS 10 MANDAMENTOS DA ESPIRITUALIDADE DO ANIMADOR, DA ANIMADORA, E DA COORDENAÇÃO DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

Todo animador/a de grupo ou de comunidade é um mensageiro da paz e da Boa- Nova da salvação em Jesus Cristo. É um enviado por Deus, para anunciar o Evangelho ao grupo, à comunidade. Evangeliza pela palavra e pelo testemunho de vida. Para que as pessoas acreditem na sua mensagem, algumas atitudes são indispensáveis. A pessoa que exerce o ministério da animação de algum grupo de reflexão deve cultivar os seguintes mandamentos da espiritualidade dos cristãos leigos e leigas:

  1. EscutarTer capacidade de escuta e de diálogo. Saber relacionar-se e valorizar as pessoas na sua diversidade, descobrindo os seus valores. Não se sentir superior a ninguém. Ter convicções profundas, mas não se considerar dono/a da verdade.
  2. Acolher e cultivar a ternuraConsiderar cada pessoa como centro de tudo. Acolher a todos sem fazer distinção de pessoas. Cultivar o cuidado, o carinho e a ternura no relacionamento com o grupo e com a comunidade.
  3. Solidarizar-seEstar atento/a aos problemas de sua comunidade, do seu grupo, sem cair em atitudes paternalistas ou autoritárias. Ter uma grande sensibilidade humana e social, com um forte sentido da justiça e da verdade.
  1. ResistirAgüentar firme os momentos difíceis, sem desistir. Fazer-se presente quando precisam dele/a, porque sabe que sua missão não tem horário. Não pecar por omissão e nem ser covarde e medroso/a.
  2. Ter paciência e esperar – Saber que a paciência é uma das virtudes mais

importantes do/a animador/a. Caminhar com o povo e colocar-se no ritmo de sua história. Saber esperar com paciência o que vai acontecer: “Deus tarda, mas não falha”. Olhar com esperança para o futuro.

  1. Crer no Deus da vida – Experimentar a fé em Deus e o amor profundo e pessoal a Cristo, como sustento pessoal. Saber que sem fé não há missão. Tirar da fé a paixão pela missão de evangelizar.
  2. Amar na gratuidade – Ser uma presença amiga e gratuita. Não se deixar levar por interesses pessoais. Ser capaz de amar e doar-se, sem esperar recompensa. Encontrar Deus e Jesus Cristo especialmente nos pobres, nos que sofrem, já que eles são os preferidos de Deus. Percorrer com eles os caminhos do Evangelho, amando, como Jesus, até o fim.
  3. Rezar sem desanimar – Cuidar para não tornar-se como muita gente quebrada e desnorteada, por não rezar e não abastecer as forças, as utopias e sonhos, no coração de Deus. Alimentar a própria fé com a oração diária. Aprender, na oração e na escuta da Palavra de Deus, a construir o Reino, com paciência e coragem.
  4. Assumir a cruz – Viver a palavra de Jesus: “Quem quiser meu ser meu discípulo, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). Saber que na vida cristã não há outro caminho possível para percorrer. Saber que a missão nasce e cresce aos pés da cruz, que a persistência e a paciência são frutos de uma cruz aceita com alegria.
  5. Ser coerente – Apoiar a própria credibilidade no testemunho de vida, até as últimas conseqüências. Seguir o exemplo de Jesus, que faz o que diz: “Eu, vosso Mestre e Senhor, vos lavei os pés; também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais também vós” (Jo 13,14-15).
  6. MISSÃO E TAREFAS DA COORDENAÇÃO DOS GRUPOS DE REFLEXÃO

É necessário que em cada Paróquia e em cada Comunidade haja uma equipe de Coordenação dos Grupos de Reflexão, para dar assistência e apoio e animar os grupos.

Essa equipe de Coordenação terá que estar convicta do valor dos Grupos de Reflexão, ter clareza de suas finalidades e entender sua organização e seu funcionamento.

Para poder exercer sua missão de articular e animar os grupos, a equipe de coordenação deverá ter formação permanente, participar de cursos de liderança, escolas bíblicas e teológicas.

Cabe à coordenação realizar as seguintes tarefas:

* estudo de cada novo livrinho;

* troca de experiência;

* formação;

* avaliação do andamento dos grupos;

* planejamento de ações conjuntas.

Estas várias ações não são apenas da coordenação. Seus primeiros responsáveis são os párocos, diáconos e demais agentes de pastoral da paróquia. Somente com o trabalho conjunto destes com a equipe de coordenação é que os Grupos de Reflexão alcançarão seus objetivos.

Conclusão

A organização e o acompanhamento dos Grupos de Reflexão e a formação dos animadores e animadoras é, para nós, uma prioridade.

Temos uma certeza: na medida em que se fortalece a fé e o ministério dos/as animadores/as, crescem e se fortalecem os grupos e com isso um novo jeito de ser Igreja.

Esse novo modo de ser Igreja vai levar o povo a uma melhor participação na ação pastoral e evangelizadora. Isso fará com que as pessoas vejam com os próprios olhos, pensem com a própria cabeça, amem com o próprio coração, falem com a própria língua, andem com os próprios pés e construam sua própria história. E, sobretudo, ajudará as pessoas a fazerem uma real experiência de Deus e de seu amor por cada um de seus filhos e filhas. Desse jeito, o povo vai, aos poucos, construindo o Reino de Deus, que é “um novo céu e uma nova terra. ” (Ap 21,1).

Por fim: toda a orientação reunida neste caderno partiu da convicção de que nós acreditamos na importância e no valor dos Grupos de Reflexão e nesse novo jeito de ser Igreja, que estamos construindo a partir deles.

Padre Francisco Reginaldo Henrique de Miranda

Região Belém – Arquidiocese de São Paulo

 

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