Nosso guru esteve nos primórdios das articulações nacionais. Foi um entusiasta da articulação pastoral nacional e latino-americana. Sonhou e ajudou a sistematizar a proposta de evangelização da juventude para o continente. Na década de 1980 esteve mais próximo das específicas (Pastoral da Juventude Estudantil, Pastoral da Juventude Rural, Pastoral da Juventude do Meio Popular). Acreditava na importância de evangelizar a juventude a partir de seu meio específico. Com seu jeito intenso, muitas vezes até questionou e confrontou a Pastoral da Juventude (PJ). E mais uma vez Hilário nos testemunha que é nos momentos difíceis que se reconhecem os grandes amigos. Na medida em que o cenário nacional mudava, ele se tornou “voz dos sem voz”. Defensor de quem estava esquecido. Com a imprudência típica dos apaixonados defendeu com seus textos, assessorias, postagens e falas uma proposta pastoral-pedagógica, um projeto político e teológico que ele não só acreditava, mas que fez de sua vida um grande testemunho: uma Igreja pobre e serva, uma pastoral da juventude orgânica constituída a partir de pequenos grupos, que vivem a relação fé e vida num itinerário de educação que entende a pessoa humana como um ser integral, num protagonismo juvenil onde o acompanhamento tem um lugar fundamental.
Em sua relação com a Palavra de Deus nos brindou com dois presentes. A partir da década de 1990 sistematizou um estudo sobre os jovens na Bíblia que desembocou em duas obras. Um conjunto de roteiros de reunião de grupo de jovens intitulado O Jovem na Bíblia e uma parte do livro Gritos silenciados, mas evidentes, que trata das pessoas jovens que se destacam na Bíblia. À luz das perguntas daquele momento e com os pés e o coração nos contextos eclesiais da PJ e das CEB’s, Hilário foi relendo os textos bíblicos entrevendo posturas e utopias. Assim, pessoas jovens do Antigo e do Novo Testamento foram apresentadas desde sua juventude.
No início do terceiro milênio nos presenteou com as intuições provocativas sistematizas em o Divino no Jovem neste livrinho, antes que o Documento 85 da CNBB e bem antes da Cristus Vivit do Papa Francisco nos ensinou a entender a juventude como uma realidade teológica: namoro, amizade, descoberta, festa, entre outras dimensões da juventude foram vistas como sinal de Deus. Ao olhar para as pessoas jovens podemos encontrar e acolher a Palavra de Deus. Assim, a juventude é Palavra de Deus endereçada para a Igreja e toda a sociedade na escuta, acolhida e convivência com os e as jovens podemos nos aproximar de uma Palavra de Deus que não encontramos em outro lugar. Há algo de genuíno dito nos e nas jovens.
Desta forma, Hilário ajudou os jovens a lerem a Palavra de Deus presente na Bíblia e em suas vidas. Desafiou a Igreja em suas estruturas a acolher a Palavra de Deus presente nos jovens. Com uma intensidade impressionante assessorou, ouviu, escreveu e incentivou a fazer o mesmo caminho. A exemplo de seu fundador, Santo Inácio de Loyola, quis viver “a maneira dos apóstolos”, contribuindo no discernimento dos que estavam ao seu redor, se preocupando mais com o Evangelho do que com “o próprio pescoço”.
Penso que ele deve estar, do céu, feliz com o rebuliço que causou estes dias. Sua páscoa nos aguçou a memória – e isso ele fez a vida toda. Como não lembrar deste “coração de menino cheio de esperança, voz de pai amigo e olhar de avô”. Hilário vive em tantos olhos que ele ensinou a ver o mundo – e a ver Deus no mundo. Hilário vive nos corações que ele ensinou a amar a Jesus, o Reino, os jovens, os pobres. Naqueles que aprenderam com ele a viver estes amores numa só paixão. Hilário vive silenciosamente em toda esperança teimosa de uma Igreja jovem, pobre e serva. Junto com Dorcelina, Dom José Mauro, Padre Gisley, Padre Florisvaldo, Lourival, Walderes e tantos outros e outras numa bela roda de conversa no céu segue tramando caminhos, acreditando nos jovens, torcendo para que estes dias nos ajudem a ver em partes o que eles veem face a face.
Por Ir Joilson Toledo
Ir Marista, Assessor da PJ na arquidiocese do Rio de Janeiro.