O Sínodo para a Amazônia, segundo Diego Aguiar, foi um Sínodo para conhecer a riqueza do bioma e dos povos, para reconhecer suas lutas e resistências, para conviver com a Amazônia e o modo de ser de seus povos, para defender a Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados. Um Sínodo que começou no encontro do Papa Francisco com os povos indígenas em Puerto Maldonado – Peru, e que depois foi se desdobrando no Conselho pre-sinodal, equipe de assessores, documento preparatório, escutas Sinodais, assembleias territoriais, grupos de reflexão, encontros de bispos, Documento de trabalho, Assembleia Sinodal, Documento Final e Exortação Apostólica.
Dessa Assembleia Sinodal participaram 283 pessoas, dentre eles 185 padres sinodais com direito a voto, mas também teve um grupo de 36 mulheres, 21 religiosas e 15 leigas. Uma delas foi Rose Bertoldo, quem dizia que “não tivemos direito ao voto, mas deixamos registrado para o Papa”. No percurso da Assembleia Sinodal, foi feito um pedido por escrito ao Papa das mulheres participantes da Assembleia. A auditora sinodal destacava o grande simbolismo da presença dos mártires na sala sinodal, memória de “uma Amazônia que guarda a vida de tantas mulheres e homens que derramaram seu sangue na defesa da vida, do território”.
A religiosa foi apresentando como foi acontecendo a Assembleia Sinodal, que “aconteceu de uma forma muito orante”, destacando a presença continua, liberdade, proximidade e simplicidade do Papa Francisco, que segundo ela “gostava das conversas gratuitas, olhava na plateia para identificar de onde as pessoas falavam, muito atento a tudo o que acontecia, intervia quando percebia que o grupo não avançava”. O Assembleia Sinodal teve seus desdobramentos fora da sala sinodal, na tenda da Casa Comum, nos tantos grupos que estavam presente, nos jornalistas que fizeram com que o mundo acompanhasse a assembleia, segundo Rose Bertoldo, que destaca que “o legado deste sínodo ficará para a história da Igreja”.
A auditora sinodal apresentou o Documento Final, que o Papa autorizou sua publicação no fim da Assembleia Sinodal, e assumiu na introdução da Querida Amazônia. Um documento estruturado em torno à conversão pastoral, cultural, ecológica y sinodal, destacando os elementos presentes no documento. Ela ressaltava a grande importância das mulheres na Assembleia Sinodal, relatando diferentes testemunhos nesse sentido. Ao mesmo tempo, seguindo o tema do seminário, apresentava os processos, caminhos e perspectivas presentes no Documento Final do Sínodo.
O Sínodo para a Amazônia é fruto de um longo processo histórico, segundo Dom Leonardo Ulrich Steiner. Os bispos do Brasil foram refletindo ao longo de vários anos sobre a necessidade de um encontro para refletir sobre a Amazônia e sua realidade, algo que se concretizou no encontro de Belém, em 2016, onde os bispos da Amazônia brasileira fizeram um pedido oficial ao Papa. Junto com isso, Dom Leonardo, lembrando a época em que ele era Secretário Geral da CNBB, lembrava que “cada vez que o Papa nos encontrava, sempre nos perguntava, vocês estão cuidando da Amazônia, a Amazônia está dentro do meu coração”.
Desde 2015, com a Laudato Si, a questão da Amazônia veio a tona na vida da Igreja, segundo o arcebispo de Manaus, quem afirma que “depois todas as dinâmicas sinodais foram criadas”. Ele destaca a preocupação muito grande de que a questão da Amazônia se torne uma questão para toda a Igreja e para todo o mundo, reconhecendo que devagar está acontecendo isso. Voltado para o momento atual, “na pandemia a Amazônia correu o mundo na sua deficiência, nas suas dificuldades, mas correu o mundo também como cultura, como povos indígenas, ribeirinhos, mostrando a preocupação de muitos para com a Amazônia”.
Segundo o arcebispo, “já vemos muitos bancos, empresários, querendo projetos para a Amazônia, mas devemos estar muito atentos para ver que projetos são esses, se são projetos para cuidar a Amazônia, ou são de novo projetos de lucro”. Uma questão fundamental, segundo Dom Leonardo é a formação para todos na Igreja, enfatizando a necessidade da formação dos padres a partir da realidade, deles compreender a teologia, a eclesiologia a partir da sua realidade. Ele abordava algumas questões presentes na reflexão sinodal como a ministerialidade, o tema das diaconisas, enfatizando que o Papa se comprometeu a renovar a comissão que estuda esse tema, algo que já existiu na história da Igreja. Junto com isso, um tema muito presente no debate eclesial durante o proceso sinodal, como foi a ordenação de homens casados, algo que aparece no Documento Final, um documento “que vai exigir muito de nós e que foi assumido pelo Papa em Querida Amazônia”.
Ao falar de Querida Amazônia, o arcebispo de Manaus destacava que ela recolhe as ressonâncias do diálogo acontecido no processo sinodal. Segundo ele, a exortação mostra a importância da encarnação, insistindo em que “é um documento para a Igreja toda, que quer interpelar, um documento muito aberto, não se trata de um documento só eclesial, aborda questões que abrangem todas as pessoas”. Nesse sentido, Dom Leonardo afirma que a Laudato Si fez com que “muitas pessoas de boa vontade estão muito atentas às questões da casa comum”. Por isso, Querida Amazônia é “uma exortação dirigida a todo mundo, que leva em consideração toda a questão da casa comum”.
Falando dos sonhos, ele insiste em que não são sonhos irrealizáveis. Do sonho social, o arcebispo destacava que ele quer incluir a todos e a tudo, que é preciso indignação e pedir perdão pela realidade que nós temos hoje, consequência das agressões à Amazônia. O sonho social também enfatiza o sentido comunitário, não deixar ninguém de lado, integrar a todos, a través do diálogo e a escuta. Segundo Dom Leonardo, o sonho cultural, faz um chamado a cuidar da diversidade cultural e cuidar das culturas, a repensar o estilo de vida, a viver desde o respeito, não se impor, aprender com as culturas dos povos originários, muito ameaçadas.
No sonho ecológico deve ser enfatizado o cuidado da casa comum, compreender que tudo está interligado, que na medida que vamos agredindo a casa comum, a vamos desmontando, segundo o arcebispo, que enfatiza a importância do cuidado das relações, afirmando que o Papa fala de profecia da contemplação, de sermos atingidos pela beleza, pela grandeza da natureza para termos uma nova relação. Finalmente, no sonho eclesial, o elemento fundamental é uma fé inculturada, assentada, que leve em consideração todos os elementos, como a Igreja tem ido fazendo ao longo da história. Para Dom Leonardo, o anuncio da fé deveria ser inculturado, também a espiritualidade, a liturgia, que os povos consigam expressar sua alma religiosa, uma inculturação dos ministérios. Ao mesmo tempo, destacava a importância que o Papa dá às mulheres, sua participação na vida da Igreja.