O Beabá do Sínodo Pan-Amazônico

Por Roberto Malvezzi (Gogó)

“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Esse é o lema do Sínodo Pan-Amazônico que acontecerá em outubro de 2019, em Roma. Sínodo vem do grego e quer dizer “caminhar juntos”.

Então, faço alguns esclarecimentos sobre o Sínodo, já que faço parte como “olho de fora” do núcleo de assessoria da REPAM-Brasil (Rede Eclesial Pan-Amazônica), que colabora de forma decisiva na preparação do Sínodo.

Primeiro, em 2014 foi criada a Rede Eclesial Pan-Amazônica. Os fundadores são o Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM), Conferência dos Religiosos da América Latina e Caribe (CLAR), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas. Já havia iniciativas anteriores nessa linha, porém, mais na dimensão episcopal. A REPAM abrange as bases da igreja e outros setores da sociedade interessados numa Ecologia Integral.

Essa criação deriva da posição do episcopado Latino-americano, definida no documento de Aparecida, que entende que “Jesus nos fala a partir da Amazônia”, isto é, seus povos e toda a exuberância da criação. É o princípio evangélico dos “sinais do tempo”.

A REPAM abrange o Brasil e os demais oito países nos quais há o bioma Amazônia: Bolívia, Equador, Colômbia, Peru, Venezuela, República da Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Essa última não é um país, mas um território francês no continente da América do Sul. O propósito é criar uma Igreja em Rede, de povos, instituições, igrejas, que defendam os povos e a natureza amazônica.

O Papa Francisco, que foi um dos redatores do documento de Aparecida, decidiu convocar um Sínodo para toda Igreja da Amazônia, mas que é um Sínodo da Igreja Universal. Por isso, além de aproximadamente 140 bispos da Amazônia, haverá mais pessoas de outros lugares do mundo.

A REPAM não é o único grupo a preparar o Sínodo, mas cumpre um papel destacado por decisão de Roma. O próprio Francisco esteve em Puerto Maldonado, Peru, exclusivamente para ouvir os povos originários. Ele disse que ali começava o Sínodo. Ouvir quem nunca foi ouvido, talvez seja esse o elemento mais incomodante para muitos setores da sociedade.

Como preparação para o Sínodo, sobretudo a REPAM-Brasil, realizou uma série de seminários pelos mais diversos pontos da Amazônia, dialogando a realidade local com a encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco. Só no Brasil foram feitos 16 seminários regionais e um 17º nacional. Porém, outros países também realizaram intensamente esses debates, reunindo povos indígenas, ribeirinhos, universidades, comunidades eclesiais, pessoas de outras religiões, enfim, todos que se preocupam com uma ecologia integral.

Posteriormente chegou de Roma um questionário para colher as mais diversas opiniões dos povos sobre a Igreja que queremos e o que fazer para uma Ecologia Integral. A síntese desse questionário está em andamento e será enviado a Roma. Foi formada uma equipe de preparação do Sínodo com 20 pessoas do América do Sul e mais um grupo de Roma. Com esse material nas mãos – as dioceses também tiveram que fazer suas consultas -, será elaborado o texto base do Sínodo em Roma.

No fundo, Francisco quer fazer da Amazônia uma referência para a Igreja Universal e também para a defesa da Casa Comum, a Terra. A impressão que ele passa é essa: o que acontecer com a Amazônia, acontecerá com o planeta Terra; o que acontecer com a Igreja da Amazônia, acontecerá com a Igreja Universal.

Vivemos num Brasil delirante, onde as insanidades recriam até manicômios. Porém, não há qualquer mistério a respeito desse Sínodo.

Matéria publicada no blog do Roberto Malvezzi em 11 de fevereiro de 2019. https://robertomalvezzi.com.br/2019/02/11/o-beaba-do-sinodo-pan-amazonico/

 

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