(Uma contribuição do Iser Assessoria para a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs)
Introdução
Desde 2010, o Iser Assessoria vem realizando seminários para oferecer uma reflexão que colabore para o discernimento em torno da caminhada das CEBs. A partir de 2015, procuramos aprofundar a nossa contribuição para o processo de articulação das comunidades no Brasil, bem como para qualificar o serviço de assessoria. Exercendo um papel de “assessoria externa”, visualizamos limites e possibilidades que certamente não dão conta de todo o processo, mas podem oferecer uma reflexão acumulada, feita por muitas pessoas que caminham com este modelo de organização da vida eclesial.
Ao longo destes anos, foram publicados pelo Iser Assessoria textos que já indicam desafios e perspectivas (bibliografia ao final). A presente síntese deseja apontar para aquilo que consideramos fundamental para os próximos anos. O processo desencadeado pelo Sínodo (2021 a 2024) – como deseja o Papa Francisco -, continuará com a contribuição do Documento Final e tudo o que foi recolhido em escutas e proposições nestes três anos.
A experiência dos seminários regionais (por grande região), o seminário nacional e finalmente o seminário “CEBs e Juventudes” (29/11 a 01/12/2024), que buscou inaugurar um diálogo intergeracional na perspectiva do poder na Igreja e na sociedade, acumulou um conjunto valioso de análises e perspectivas que iremos sintetizar aqui.
Usando a tradicional ferramenta metodológica VER, JULGAR e AGIR, buscaremos captar aquilo que os participantes ofereceram ao longo dos seminários. Não se trata de um relatório, mas da interpretação da equipe do Iser Assessoria.
- VER: as CEBs vivem e sobrevivem
Inegavelmente não se pode mais configurar a caminhada das CEBs como outrora, sobretudo nos Encontros Intereclesiais. A própria dinâmica destes grandes encontros revela certa distância entre o cotidiano das comunidades e o próprio evento. Evidentemente que eles representam um momento de grande importância na caminhada, mas não esgotam aquilo que está acontecendo nas bases. O objetivo aqui não é “ver” os Intereclesiais, mas aquilo que os diversos participantes dos seminários – pessoas vinculadas de alguma forma à articulação e assessoria de CEBs – relataram.
Um dos eixos centrais da caminhada das CEBs é a relação “fé e política”. Embora tal eixo não defina, de forma absoluta, o que seja uma CEB, há de se levar em consideração que a conjuntura altera também os mecanismos de participação. Como a Igreja não está fora da realidade, evidentemente ela sofre a interferência dos acontecimentos históricos.
Tem sido frequente que setores do cristianismo, sobretudo católico, afirmem que as “CEBs morreram”. Tal afirmação, mais do que a constatação de um fenômeno, parece revelar mais a intenção de “matar” as CEBs do que lamentar o seu desaparecimento. Os depoimentos das pessoas que participaram dos seminários revelaram uma perseguição a setores que procuram manter as CEBs como estrutura de Igreja. Porém, como, nos seminários, estiveram presentes participantes de diversas regiões do Brasil, o que se verificava era a força das comunidades para resistir às investidas visando eliminar as CEBs do contexto eclesial.
A relação “fé e política” aparece como o principal elemento da crítica dos que não apreciam as CEBs. Embora se possa fazer uma análise crítica desta relação e, de fato, encontrar inconsistências, ao longo dos seminários percebemos que a questão chave passa pelos mecanismos de participação nas estruturas de decisão nas dioceses. Foi possível verificar, bem antes da convocação do Sínodo sobre a sinodalidade, que coordenações, conselhos, equipes pastorais etc., foram sofrendo uma mudança na forma como tais ferramentas funcionavam. Em algumas situações, tais ferramentas se tornaram completamente inoperantes. A autorreferencialidade, isto é, a centralização das decisões pela hierarquia, ganhou força e estes espaços, mesmo que existam, configuram-se mais como momento de avisos do que de discernimento sobre a ação pastoral. O clericalismo se tornou um “câncer” de difícil tratamento, usando a expressão do Papa Francisco.
Verifica-se na autorrerencialidade um grave erro teológico, isto é, colocar a Igreja no lugar do Reino de Deus, uma centralização de um “poder sagrado” que menospreza a teologia do batismo. Assim sendo, o clero pode se tornar, como vem se tornando, com boas exceções, graças a Deus, uma figura de fundamental importância para o reconhecimento da “vontade de Deus” exercida por um mecanismo de obediência cega aos ministros ordenados, diminuindo sensivelmente o seu papel de servidor da unidade e do Projeto de Jesus Cristo no meio do povo. Por isso, fala-se de clericalismo, pois o problema não está no clero em si, mas no exercício do ministério ordenado de forma autoritária. E, evidentemente, mesmo o laicato pode se tornar uma ferramenta importante para a manutenção do clericalismo.
Consequentemente, muitas lideranças foram sendo expurgadas e/ou substituídas por pessoas que obedeciam cegamente a ordens vindas de cima. Evidentemente, não se pode generalizar esta afirmação. Tampouco significa que lideranças de CEBs não cometam equívocos e que, em certa medida, também reproduzam comportamentos clericalistas. Mas a questão chave não está nisso e, sim, em garantir a centralização das decisões nas mãos dos que possuem o “poder sagrado”, isto é, o clero. Sem discernimento evangélico profundo, foi-se colocando a razão do não apoio às CEBs por conta da atuação política, por conta da proximidade das CEBs com ideologias de esquerda, afirmando que as lideranças precisariam ser “neutras” em tais questões. Porém, o que se verifica é que quem faz a crítica tem mergulhado nas ideologias de extrema direita, chegando ao ponto de pregar ódio e violência, fazendo de forma grosseira o que tanto criticam nas CEBs. Ora, sabe-se muito bem que não existe neutralidade em sociedade. Não tomar o lado de quem sofre é uma omissão vergonhosa e não neutralidade.
Abriu-se um espaço vertiginoso para uma pastoral midiática de massa, com os seus youtubers de diversos matizes, fundamentados numa teologia do medo, da ameaça, do falso moralismo, ao mesmo tempo em que buscavam apagar a história de homens e mulheres que chegaram a dar a própria vida pelo Evangelho. Utilizando-se da desinformação, demonizam a ação de muitos, com conceitos que a grande maioria não domina, tais como o “comunismo”, e produzem fidelização sob esta lógica.
Ora, em tal contexto, as CEBs certamente perderam força, mas não significa que se possa celebrar o funeral delas. Algumas vezes foram abortadas, isso sim. A chegada do Papa Francisco possibilitou uma retomada, pois a pastoral de comunidades é fundamental para enfrentar os desafios do mundo de hoje. Assim sendo, vamos relembrar alguns fundamentos teológicos e eclesiológicos que apontam para a necessidade de contar com as CEBs no caminho da evangelização.
- JULGAR: CEBs, fidelidade ao Caminho de Jesus de Nazaré.
Trata-se aqui, como já indicado, de um texto sintético. Nas indicações bibliográficas, aparece fundamento suficiente do que será lembrado nestas linhas.
As CEBs sempre caminharam em comunhão com a Igreja. Seria leviano afirmar que não houve contestação de ações pastorais entendidas como contrárias ao Projeto de Jesus de Nazaré, mas este é um debate travado mesmo fora das CEBs. O ponto nevrálgico é a questão hermenêutica em torno do Concílio Vaticano II, de como se interpreta a visão de Igreja para a realidade do mundo de hoje e que foi bem formulada no documento Lumen Gentium (LG).
Constata-se em todo o processo de articulação das CEBs uma clara intenção de caminhar em comunhão com a Igreja. Em todos os encontros se procura, de algum modo, dialogar com a institucionalidade. Nos seminários sempre há presença de clérigos, incluindo bispos. No último Intereclesial, na diocese de Rondonópolis (2023), a presença em torno de 60 bispos deixou evidente este caráter.
As pessoas que participaram dos seminários relatam a intenção de caminhar juntos. Muitas vezes, são as estruturas diocesanas que não acolhem tal intenção. Por outro lado, há um sério risco de transformar reuniões, encontros e seminários em “muro das lamentações” em torno da experiência de não ser apoiados pela Igreja.
Mas, contraditoriamente, o magistério reconhece a eclesialidade das CEBS faz tempo. Citando apenas os Papas Paulo VI e Francisco, eles confirmam que as CEBs são Igreja. No caderno “CEBs – Igreja em saída”, em todos os artigos, de uma forma ou de outra, pode-se verificar este fundamento, com ampla citação de textos do magistério.
Contudo, o grande fundamento se encontra no Caminho de Jesus de Nazaré. No livro “CEBs, fundamentos e desafios” (citação ao final, incluindo link para acesso). Carlos Mesters e Francisco Orofino mostram, com profundidade, como a perspectiva comunitária é fundamental para o cristianismo nascente. Alguém poderá objetar afirmando que o mundo mudou e, portanto, a lógica comunitária dos primeiros tempos não se aplica mais como solução para a crise civilizatória que estamos passando. Ora, o que se tem verificado é justamente o contrário. Muitos setores da sociedade hodierna têm apontado justamente a vivência comunitária como solução. No caderno “CEBs e Mundo Urbano”, o Iser Assessoria procurou contribuir mostrando como é preciso recuperar a sociabilidade como um elemento chave para enfrentar os desafios do mundo urbano. A Igreja Católica, mesmo realizando tal reflexão há bastante tempo, ainda não conseguiu dar resposta a este desafio. A paróquia é uma estrutura que, se fechada em uma perspectiva piramidal, produz mais individualismo do que capacidade de partilha e fraternidade. Muitas vezes, em um mesmo território pastoral não há uma articulação conjunta do trabalho de evangelização, mas uma lógica de concorrência bem típica da sociedade de consumo na qual estamos inseridos.
Tudo indica que a articulação em “rede de comunidades”, como o documento n. 100 da CNBB apontou, seja o caminho mais profícuo para enfrentar o desafio atual. As CEBs, da década de 1960, pós-Vaticano II, até hoje, têm procurado fazer exatamente isso. E agora, o processo sinodal retoma tal perspectiva.
O elemento central é o comunitário, não há dúvida. A questão é como articular este elemento. A percepção que a equipe do Iser Assessoria acumulou nestes anos é que não existe um modelo único de CEB que possa ser reproduzido em todo lugar. Contudo, é possível, de forma essencial, identificar três características que podem ser encontradas nas diversas configurações em que as comunidades se apresentam.
- A centralidade da Palavra de Deus
A Palavra ilumina, motiva, inspira, fundamenta todo o Caminho. Em torno da Palavra, se vive a dimensão litúrgica, catequética e sacramental, mas não do mesmo modo em todo lugar. Por isso, algumas comunidades podem ter todos os elementos que configuram uma vida intensa de comunidade, ou apenas alguns que permitem a unidade ao Querigma – paixão, vida, morte e ressurreição de Jesus – mas, se não há a Palavra, não há comunidade.
- Os mecanismos de participação
Seja em uma única comunidade ou no conjunto das comunidades reunidas em paróquia, devem-se fomentar formas de decisão coletiva, planejamento pastoral, projetos de evangelização que justificam a missão em perspectiva de saída para as periferias geográficas e existenciais. O processo sinodal relembrou tal necessidade com força. Esperemos que em breve o Código de Direito Canônico confirme esta necessidade missionária. Mas é importante lembrar que mesmo o Código atual não impede a sinodalidade. A questão é que a interpretação dele não tem se dado em chave com uma eclesiologia do Povo de Deus, conforme preconiza o Concílio Vaticano II.
- A solidariedade política
Por fim, a terceira perna do tripé, sem a qual a comunidade cristã não se sustenta, e Bento XVI indica claramente isso na encíclica “Deus é Amor”, é a dimensão da solidariedade, do amor testemunhado concretamente. Podemos chamar, na experiência das CEBs de Solidariedade Política. Sim, a caridade sem política pode facilmente se tornar assistencialismo. Infelizmente, o poder dominador tem transformado a política em um “demônio”, como fosse possível qualquer decisão na sociedade ser tomada sem efetiva estrutura política. PIO XI lembrou, faz tempo, e Paulo VI e Francisco repetiram, que “a política é forma mais nobre de fazer a caridade”.
Sim, esta terceira característica é complexa, pois pode gerar posições de exclusão, de tensão, de escolhas difíceis. Contudo, o poder dominador gosta, usando um ditado antigo, de “jogar fora o bebê junto com a água”, isto é, jogam foram o mais importante para evitar comprometimento com o Caminho do Jesus Cristo, pois tal Caminho exige uma adesão profunda ao Projeto do Reino de Deus, traduzido, entre outras opções, na “opção preferencial pelos pobres”. E não há mais o que contestar sobre a dimensão evangélica, e evidentemente eclesiológica, de tal opção.
Para as CEBs, fica o desafio de continuar o processo mantendo os elementos chaves de sua identidade. É isso que agora veremos no Agir.
- AGIR: O CAMINHO SE FAZ CAMINHANDO
Não há precisão quanto ao momento exato no qual as CEBs passaram a existir na realidade eclesial. Contudo, segundo a pesquisa de Solange Rodrigues, socióloga que pertenceu ao Iser Assessoria e faleceu em 2021, pode-se afirmar que oficialmente a sigla aparece no Plano Nacional da Ação Evangelizadora da CNBB, aprovado em 15 de novembro de 1965, por influência do Pe. Caramuru. Em 2025, os Intereclesiais completaram 50 anos. No livro “Cebs, fundamentos e desafios”, esta informação está detalhada.
Mas muita coisa aconteceu neste período. Como já foi constatado, a conjuntura não é mais a mesma. Assim sendo, uma pergunta que aparece com frequência nos encontros e seminários é: como fazer agora?
Responder a esta pergunta não é nada fácil, pois justamente por conta de uma conjuntura complexa, as respostas se multiplicam. Para nós, em sintonia com muita gente que passou pelos seminários, fica a convicção de que não é mais possível reproduzir a dinâmica das CEBs como no século passado.
Nossa sugestão, a partir de uma organização conceitual feita pelo sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, é levar em consideração três tipos de presença que hoje se pode observar no que tange as CEBs: dioceses/paróquias sem CEBs; dioceses/paróquias com CEBs; e dioceses/paróquias de CEBs.
Infelizmente não existe uma pesquisa recente que dê conta de como exatamente se encontra a realidade das comunidades de base pelo Brasil. Aqui, nos serviremos das observações vindas das pessoas que participaram dos diversos encontros, seminários, incluindo relatórios dos Intereclesiais, sobretudo o último realizado na diocese de Rondonópolis.
- Dioceses/paróquias sem CEBs
Constata-se que existem dioceses nas quais não há presença efetiva de comunidades que se configuram no perfil de CEBs. Há inclusive situações de grande perseguição.
Contudo, mesmo em dioceses onde esta configuração se faz presente, é possível que pessoas ou grupos tenham simpatia pelas comunidades de base. Cabe então buscar reunir, mesmo que sejam poucas, aquelas pessoas que, em comunhão com Igreja Católica e o Papa Francisco, queiram promover o debate e provoquem a igreja diocesana a levar em consideração tal possibilidade no caminho evangelizador. Evidentemente, não é fácil, pois a compreensão eclesiológica é o principal obstáculo, como visto no VER deste texto.
Mas é preciso afirmar com força que o direito dos batizados de se encontrar como Povo de Deus não pode ser impedido. É possível que não haja nenhuma estrutura de apoio, restando muitas vezes somente às próprias casas das pessoas. Trata-se de um revigoramento daquilo que os cristãos fizeram nos primeiros dois séculos, como bem relatam Mesters e Orofino.
Neste caso, é legitimo uma comissão de CEBs na perspectiva de tentar implantar uma pastoral de comunidades em uma determinada diocese ou paróquia.
- Dioceses/paróquias com CEBs
Este talvez seja o perfil com maior presença. Pelo relatório dos intereclesiais e os depoimentos de articuladores/as e assessores/as, há um número significativo de dioceses com alguma presença de CEBs. Contudo, pode-se observar que as comunidades não compõem um quadro estrutural da organização pastoral. Existem dioceses onde algumas paróquias se estruturam como redes de comunidades. E ainda paróquias onde uma comunidade ou outra se entende como uma comunidade que se encontra no perfil de CEB.
Neste caso, comissões de CEBs precisam fazer o esforço de articular as comunidades que existem e não apenas manter uma presença representativa em organismos diocesanos.
Todos devem buscar, ainda que encontrem muita resistência, demonstrar que uma pastoral de comunidades está em plena comunhão com a Igreja. Cremos que certa ousadia, sobretudo dos presbíteros ou mesmo de bispos se faz necessária. A pressão para ceder aos mecanismos de uma pastoral baseada apenas em apelo emocional é muito grande em nossos dias. É preciso correr o risco, inclusive, de diminuição da arrecadação econômica, pois muitos fiéis podem migrar para paróquias midiáticas.
Faz-se necessário ter dioceses/paróquias verdadeiramente sinodais como resposta pastoral que atinge as raízes da cultura, como enfatiza a Evangelii Nuntiandi (EN) ainda em 1975. Evangelizar é ir raízes da cultura e não passar um “verniz superficial”. Temos assistido muita gente com “lata” de verniz nas mãos, com grande sucesso midiático. O futuro vai cobrar caro quando, por baixo do verniz, o cupim estiver corroendo a tradição profunda de um cristianismo que tem como suporte fundamental o Caminho de Jesus de Nazaré.
- Dioceses/paróquias de CEBs
Tudo indica que hoje o número é bem reduzido. Mas existe, mesmo que não apareça no organograma diocesano, a sigla CEBs. Talvez a diocese que melhor simbolize este processo seja Cachoeiro do Itapemirim, onde toda a estrutura diocesana se organiza a partir das comunidades de base. Evidentemente que não se pode constatar em tal diocese uma caracterização perfeita dos três pilares apresentados neste texto, mas todas as mais de mil comunidades são reconhecidas como de base. Nesta diocese, ocorrerá o 16º Intereclesial.
Outras dioceses pelo Brasil procuram se articular como rede de comunidades. Porém, a tensão entre os modelos de pastoral, sobretudo advindas de presbíteros mais jovens que acreditam estar renovando a pastoral, superando modelos considerados por eles atrasados, diante do mundo de hoje, produz obstáculos para configurar uma pastoral de comunidades.
Aqui, é preciso acreditar com força em uma Igreja Sinodal. Somente garantindo a sinodalidade seremos capazes de superar a crise civilizatória que estamos vivendo. Nas dioceses onde houver tal esforço, não se fazem necessárias “comissões de CEBs”, pois estão incorporadas na estrutura diocesana.
A força contrária é enorme, e não é por acaso. Os impérios do poder dominador estão ruindo e, como se sabe pela história, em momentos assim o sofrimento é grande. A perseguição pode tomar grandes proporções. Quem poderia prever, por exemplo, que um Papa sofreria tanta crítica como Francisco tem sofrido? Mas não uma crítica consistente que pode ser feita a qualquer papa em qualquer tempo, mas críticas grosseiras e agressivas e, pior, muitas vezes vindas do próprio interior da Igreja Católica.
Mas devemos agir com persistência e determinação, acreditando na força das sementes do Reino que sempre frutificam no momento certo. Perseverar na proposta das Bem-Aventuranças, do Caminho da vida, morte e ressurreição Daquele que passou neste mundo fazendo o bem: o Senhor Jesus.
Conclusão
Precisamos ser simples como as pombas e espertos como as serpentes. Ora, neste sentido, se faz necessário avaliar o caminho, verificar se as instâncias de articulação estão em sintonia com uma perspectiva de manutenção de uma organização sinodal de fato. Verificar se não estamos querendo ocupar um lugar de poder, ainda que fragilizado, a qualquer custo. Efetivar a presença das juventudes não com cotas, mas dando o protagonismo que eles e elas têm condição de exercer.
Dar leveza às instâncias de organização. Não exigir mais do que é possível, reconhecendo, inclusive, muitas vezes, a nossa pequenez. É preciso aprofundar uma espiritualidade de minorias abraâmicas.
Reconhecer a lógica simbólica do povo, não pedindo deles grandes análises da realidade, mas fidelidade ao Caminho de Jesus. A transformação do mundo depende da política, mas é preciso caminhar junto com o povo e não para ou pelo povo. Nossos métodos nem sempre levam este princípio em consideração. Temos assistido, infelizmente, gente do mal que percebeu isso há bastante tempo e está conquistando mentes e corações, pois nesta “sociedade do cansaço”, como diz Byung-Chul Han, a força do simbólico é fundamental.
Com um “realismo esperançoso”, como diria Suassuna, vamos em frente, pois somos “derrotados de uma causa invencível”, como afirmava Pedro Casaldáliga.
Vale a pena terminar esta reflexão com um parágrafo de São Paulo VI no número 79 da EN, no capítulo final:
“E acrescentamos ainda mais alguns outros sinais deste amor. O primeiro é o respeito pela situação religiosa e espiritual das pessoas a quem se evangeliza: respeito pelo seu ritmo que não se tem o direito de forçar para além da justa medida, e respeito pela sua consciência e pelas suas convicções. Elas hão de ser tratadas sem dureza.”
Elas hão de ser tratadas sem dureza.
Equipe ISER ASSESSORIA (Ivo, Névio, Celso e Thiesco)
Bibliografia:
RODRIGUES, Solange S. (org.). CEBs e Mundo Urbano – Perspectivas no pontificado de Francisco. Rio de Janeiro: Iser Assessoria, 2016.
________________ & CARIAS, Celso P. CEBs e Igreja em saída. Rio de Janeiro: Iser Assessoria, 2018.
___________________________. CEBs, fundamentos e desafios. Belo Horizonte: Senso, 2020.