A razão para esta reunião, como reconheceu Maurício López, Secretário Executivo da REPAM, “é continuar as reuniões de trabalho realizadas desde a fundação da rede para garantir que as redes internacionais que são parte deste processo ajudem amazonizar o mundo”. López insiste na necessidade que que “redes internacionais assumam um papel de liderança em seus respectivos países”, tudo numa perspectiva de buscar “a defesa dos direitos humanos, para pressionar as empresas ou investimentos que têm um impacto sobre as atividades extrativas em toda a Pan-Amazônia.”
Junto com esta dimensão, o Secretário Executivo da insiste REPAM que a reunião é um bom momento para tentar “gerar uma reflexão sobre o Sínodo Pan-Amazônico, sobre quais são as implicações desse modelo de desenvolvimento predominante no mundo, que é um sistema que não dá mais, que precisa ser mudado, todos chamados a uma sobriedade feliz, seguindo o chamado do Francisco Papa em Laudato Si, e onde redes internacionais fazem o trabalho de incidência e sensibilização para incentivar mudanças que nos permitirá possibilidades de futuro”.
Tem sido importante a presença de representantes da Rede Eclesial da Bacia do Congo, que tem trabalhado em conjunto com REPAM desde há vários anos, em um esforço conjunto destes pulmões do Planeta, mencionados na Laudato Si, a Bacia do Congo e a Amazônia, que são vitais para o futuro do planeta.
O encontro serviu para refletir sobre quais são as respostas que a Igreja pode e deve oferecer na Amazônia para o futuro, qual é o papel dos povos amazônicos em tudo isso, e como as redes internacionais podem fazer visíveis as urgências existentes, o que pode permitir um trabalho em conjunto, como Igreja, à luz da chamada Papa Francisco, um aspecto que também tem insistido Maurício López.
Eles têm mantido reuniões com alguns escritórios do governo, pedindo ao governo alemão para ratificar a Convenção 169 da OIT, que teria uma implicação muito importante globalmente pelo peso estratégico deste país no mundo, dando um exemplo muito importante para os países que não o ratificaram, reconhece o Secretário Executivo da REPAM.
Nesse sentido, tem acontecido reuniões com organismos que trabalham na defesa dos direitos humanos, onde a REPAM apresentou um relatório sobre os resultados de todo o processo de acompanhamento, mostrando casos diferentes sobre a violação dos direitos humanos, tentando apresentar e denunciar várias situações e tendências que estão ocorrendo ao longo da Pan-Amazônia, diante das quais a Igreja também quer responder resolutamente na defesa da vida, na promoção da dignidade humana e no trabalho de denúncia profética.
A reunião também foi um bom momento para avançar, a partir da equipe de comunicação da REPAM e equipamentos de comunicações de algumas dessas redes internacionais, no lançamento de uma campanha conjunta em defesa da Amazônia à luz do Sínodo.
Representantes dos povos da Amazônia também estiveram presentes em Berlim. Eles são dois líderes do território, que fizeram o processo de formação da Escola para a Promoção, Proteção e Cumprimento da Rede de Direitos Humanos, que aconteceu dois anos e meio atrás, Rosildo da Silva, representando o povo Jaminawa Arara, do Acre, e José Orlando da Silva Araújo, que vive em Buriticupu, Maranhão, representando a Rede Justiça nos Trilhos.
José Orlando denunciou o impacto da mineradora Vale e como sua comunidade “sofre grandes impactos devido à atividade da mineração”, situação comum no chamado Corredor Carajás, onde os rios foram assoreados, dificultando a agricultura e a pesca, há rachaduras nas casas, e a empresa, associada com as autoridades públicas, infunde medo através de processos contra líderes comunitários.
O líder do movimento denunciou a falta de lugares de passagem na linha férrea, o que levou a muitos acidentes e algumas mortes de pessoas e animais. Ao mesmo tempo, ele observou que “a empresa já prometeu muitas vezes emprego e desenvolvimento para a região, mas até agora nenhum deles veio”.
O líder indígena denuncia que “nosso povo sofre desde o tempo da colonização. Esquecemos a nossa língua porque fomos criminalizados”. Por isso, ele disse que “eu vim para Berlim para exigir direitos e para que possamos recuperar o passado e construir a nossa comunidade para o futuro da nova geração”. Para isso, eles estão construindo uma escola indígena, que permita a formação no local e a perseverança dos jovens na aldeia. Da mesma forma, ele insistiu sobre a questão das terras indígenas, tanto as já demarcadas como aquelas que não são, não esquecendo os povos indígenas em isolamento voluntário, que vivem na região entre Brasil e Peru e que “também são discriminados, como nós estávamos há 150 ou 200 anos atrás “.
Rosildo da Silva destacou que “o trabalho com a Igreja Católica é muito importante”. Ele diz que “a Igreja pode oferecer uma oportunidade para os povos indígenas para continuar sua luta, juntamente com o Papa, como ele nos diz na Laudato Si, cuidar da casa comum, e também com a REPAM”. O líder indígena também destacou a importância do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, pedindo “a Igreja Católica para apoiar ainda mais a equipe do CIMI, para que tenham mais proteção e não acontecer nada de ruim com aqueles que estão ajudando, falando sobre a importância da Amazônia, da vida e da biodiversidade.
Fotografia de capa: Site da REPAM