Como reconhece João Gutemberg Mariano Coelho Sampaio, religioso marista que coordena o Eixo de Formação da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, “a Guiana francesa tem um isolamento com os outros países da Pan-Amazônia devido à língua francesa”. Junto com isso, ele descobre como vantagem o fato de que “a traves dela, se abrem as portas a Europa, numa linha de solidariedade”.
Desde a REPAM se vê como uma necessidade o fato de “criar a consciência do valor da Amazônia para toda a humanidade”. Por isso, “essa conotação internacional é um canal eficaz, eloquente, que faz que instituições internacionais vão se conectando em favor da defesa e do cuidado da Casa Comum, superando uma lógica de divisão para entrar no dinamismo de construção de redes, de conexão e de inter-relacionamento entre os povos”.
As palavras do irmão João Gutemberg surgem depois de um encontro de trabalho que durante uma semana reuniu na Guiana Francesa representantes de Secour Catolique, Caritas França, REPAM, e organismos locais, tendo a presença do bispo local, Dom Emanuel Lafont. O religioso marista define esses dias, onde se fizeram presentes pessoas chegadas da França e do Brasil, junto com outras do local, como “uma experiência baseada numa forte espiritualidade e no relacionamento fraterno muito positivo”.
Dentre as discussões, o representante da REPAM no encontro, destaca “os grandes diálogos estabelecidos em favor da missão, das questões socioambientais”, insistindo na importância de “termos vivido essa experiência profundamente espiritual e, ao mesmo tempo, muito incisiva em favor do bem comum, enquanto instituições cristãs, católicas, como Caritas e REPAM, diocese e Igreja local”.
Podemos dizer, segundo João Gutemberg, que “a REPAM vai se estabelecendo em toda a Pan-Amazônia de uma maneira crescente, no seu devido tempo e de acordo com as inspirações do lugar”. Na Guiana Francesa, a motivação no momento é a realização de uma assembleia territorial, que vai acontecer nos próximos meses e que poder ajudar a tomar uma consciência maior sobre a importância do cuidado da Casa Comum e dos povos indígenas.
O bispo local, Dom Emmanuel Lafont, tem insistido nisso nos últimos meses, pois até poucos anos atrás os habitantes do litoral não tinham consciência da existência de povos na região amazônica da Guiana Francesa. Além disso, o bispo tem denunciado numa carta pastoral escrita alguns meses atrás que o governo francês não reconhece os direitos dos povos indígenas nem suas lutas ancestrais. Junto com isso, pedia uma maior atenção para com esses povos.
O governo francês nunca deu uma resposta à carta do bispo de Cayenne, uma atitude seguida pelos meios de comunicação, dado que isso poderia gerar polêmica com os governantes. Mesmo assim, o impacto tem se mostrado nas denúncias realizadas pelos povos que sofrem as consequências da mineração.
Esses encontros são momentos determinantes, pois são recolhidas “as muitas iniciativas de ordem sócio pastoral, socioambiental, na justiça socioambiental”, segundo João Gutemberg. Desde essa perspectiva, ele percebe que “Secure Catolique e Caritas França têm portas abertas e uma missão muito clara de estabelecer diálogos entre organizações”. Tudo isso pode ajudar a ter maior incidência em seus propósitos. Essa dinâmica se vê facilitada pelo fato de que “os agentes de Secour Catolique são bem aceitos e podem promover o aprofundamento desses diálogos em muitas forças do bem que vão se organizando nesta parte da Amazônia”, conclui o irmão marista.