1° Encontro Latino-americano de Juventudes das CEBs
Por Frei Marcos Sassatelli

“Qual é a Igreja e a sociedade que sonhamos?

O que precisamos fazer para tornar os sonhos realidade?”

(Jovens das CEBs) 

Nos dias 7 e 8 de março deste ano de 2020, aconteceu o 1° Encontro Latino-americano de Juventudes das CEBs, na cidade de Guayaquil, Equador. Participaram 40 Jovens de 11 países.

O Encontro – uma novidade neste ano em que comemoramos 40 anos de caminhada continental das CEBs – foi considerado o primeiro passo do 11º Encontro Continental das CEBs, acontecido logo em seguida – 9 a12 de março – no mesmo lugar.

Para fazermos a memória desse 1ª Encontro, a jovem Gabriela Silva – do Regional Sul 2 da CNBB (Estado do Paraná) – vai nos guiar. Seguimos o seu apaixonante relato.

O 1º dia de Encontro “começou com uma dinâmica que propunha em nós os despertares de todos os sentidos e a tomada de consciência dos corpos, dos contos e dos cantos como lugares de partilha da fé e da vida”.

Ao longo do dia, “as Juventudes de cada país presente apresentaram, através de um ‘stand’ as ações concretas que realizam em suas Comunidades por todo o Continente. Para nós, Juventude brasileira – à qual pertence também a Pastoral da Juventude – foi um espaço que nos permitiu partilhar a Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência Contra a Mulher: a nossa forma de agir concretamente frente à realidade patriarcal que gera opressão e morte para tantas mulheres”.

Em seguida, “fomos provocadas e provocados à olhar para essas realidades e ‘sentipensar’ juntas e juntos a partir de quatro lentes que nos propõe o Papa Francisco em sua encíclica ‘A Alegria do Evangelho’:

  1. A unidade prevalece sobre o conflito. Somos chamadas e chamados a encarar os conflitos de frente e a superá-los através da unidade. Mas não uma unidade a qualquer custo, e sim uma unidade pluriforme que respeita toda a nossa diversidade.
  2. A realidade é mais importante que a ideia. É preciso olhar além do culto às ideias e permitir que a realidade agregue força e sentido aos nossos sonhos e ideais.
  3. O todo é superior à parte. O desafio se dá em lutar cotidianamente mantendo um olhar global, e saber equilibrar a nossa militância próxima e diária com o horizonte que se mostra ao longe.
  4. O tempo é superior ao espaço. É necessário gerar processos duradouros que ultrapassem a volatilidade de eventos e ações imediatas”.

Por fim, “as atividades oficiais do dia terminaram com o reconhecimento de jogos e atividades lúdicas como ferramentas de resistência e fé em nossa América e uma noite cultural que nos confirma que as artes de todos os países presentes são caminhos que geram unidade na pluralidade de idiomas, formas e culturas de nossa América Latina”. “Soy esta tierra, Soy esta gente, Soy mi memória, Y soy esta história”.

O 2º dia “começou com a canção: ‘Tece, tecedora, tua história e teu lutar’. Nesse dia 8 de março, dia de luta pela vida das mulheres, companheiras e companheiros jovens das CEBs de toda a América Latina deram juntas e juntos as mãos e dançaram uma ciranda, a nossa ciranda, pela vida de tantas mulheres que são diariamente violentadas e mortas sob o sistema patriarcal”.

O caminho (método) desse segundo dia – levando em conta todos os clamores juvenis de nossa América levantados no dia anterior – “foi atrever-nos a sonhar. Qual é a Igreja e a sociedade que sonhamos? Cremos em uma Igreja acolhedora, inter-geracional? Uma Igreja missionária, libertadora, que seja pobre para os pobres? Uma Igreja comprometida com a luta do seu povo? Uma igreja-sociedade interligadas em vista do bem comum? (em quéchua: “Shuk shunkulla, shuk makilla, shuk yuyalla” – uma só força, um só pensamento, um só coração). Quais são os obstáculos que ainda impedem esse sonho? O fascismo, o capitalismo, o patriarcado, o individualismo? Os sistemas que só geram morte e dor? O clericalismo, o tradicionalismo, a hierarquia que subjugam e deslegitimam o serviço missionário dos animadores, lideranças e membros de nossas Comunidades? A indiferença e a falta de empatia? A negligência com nossa Casa Comum e com os povos que primeiro habitaram a nossa ‘Abya Yala’?”.

As/os Jovens sonham e buscam saídas – pistas concretas – para realizar os seus sonhos. Perguntam: “O que precisamos fazer para – finalmente – tornar os sonhos realidade?”.

Respondem: “É necessário abraçarmos a fidelidade criativa para com o Projeto de Jesus. O Projeto de um Reino de justiça, de amor e de solidariedade, onde todas as pessoas tem lugar. Não há tarefa mais urgente que tecer, junto ao nosso povo, as redes da justiça que nos sustentam, alinhavando a utopia com os fios dos nossos sonhos”.

Concluem: “Para findar esse fim de semana intenso e com sabor de Comunidade, celebramos juntas e juntos a Missa Dominical ao redor do painel de sonhos que construímos como Juventudes das CEBs de nossa América. O coração canta a alegria de nos sabermos arte e parte do Novo Céu e da Nova Terra”.

Parabéns, Jovens das CEBs, pelo seu testemunho! A fé e a garra de vocês renovam a nossa esperança e nos dão – desde já – a certeza da vitória!

(Fonte: https://cebsdobrasil.com.br/1-encontro-latino-americano-de-juventudes-das-cebs/ e https://cebsdobrasil.com.br/2o-dia-de-encontro-jovens-cebs/. Cf. também: https://www.ihu.unisinos.br/596909-jovens-das-cebs-sonhadores-com-o-reino-e-comprometidos-com-o-cuidado-da-casa-comum).

Na pandemia do coronavírus (covid-19) – que surpreendeu e abalou o mundo – sigamos as orientações da Organização Mundial da Saúde e das autoridades sanitárias locais. Todos e todas somos responsáveis! “Tenho esperança na humanidade. Vamos sair melhores” (Papa Francisco). Com fé em Deus – que é Amor – unidos e unidas na oração.

Marcos Sassatelli, Frade dominicano

Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)

Professor aposentado de Filosofia da UFG

E-mail: mpsassatelli@uol.com.br

Goiânia, 01 de abril de 2020

Sair da versão mobile