A misericórdia é mais importante do que o culto
Francisco Orofino e Carlos Mesters
A mensagem central das leituras deste domingo é a conhecida parábola do Bom Samaritano. Jesus reafirma um ensinamento da Escritura: nossa salvação depende da nossa prática. Somos chamados a viver a verdadeira justiça que se revela na Palavra de Deus e se expressa concretamente em atos de compaixão e de misericórdia. A primeira leitura, tirada do Deuteronômio, mostra que a Palavra está ao alcance de todos. Basta colocar em prática estes ensinamentos. No seu esforço de comunicar-se conosco, Deus se expressa com tanta clareza que ninguém pode alegar ignorância dizendo: “eu não sei o que fazer!” Cantada no Salmo de Meditação, a Palavra de Deus pede justiça, fraternidade, igualdade, alegria e paz. Compete a cada um de nós se lançar nesta missão.
O texto é baseado nas leituras desse domingo: Dt 30,10-14/ Sl 68(69)/ Cl 1,15-20/ Lc 10,25-37.
Na parábola Jesus torna mais clara a proposta do Reino escondida nas palavras da Escritura. Um doutor da Lei quer colocar Jesus à prova e desmascará-lo diante de todo o povo. Ele provoca Jesus para uma discussão teológica sobre a salvação. Jesus desvia a discussão teórica para um caso bem prático Diante da pergunta do doutor da Lei, que quer saber “quem é o meu próximo?”, Jesus, com muita habilidade, constrói um quadro marcante. Ele começa contando que um homem qualquer descia de Jerusalém para Jericó. Na estrada deserta, cheia de curvas, ele cai nas mãos de assaltantes que “levaram tudo dele, bateram nele e o deixaram quase morto”. É uma situação bem concreta que exige uma tomada de posição. Ou seja, se você encontrasse na beira de uma estrada um homem desconhecido, completamente nu, ensanguentado e desacordado, você pararia para ajudá-lo? Antes de julgar o sacerdote, o levita e o samaritano, o ouvinte deve ser sincero consigo mesmo e responder a esta pergunta fundamental.
Continuando sua narrativa, Jesus traz para a parábola dois funcionários do culto no templo de Jerusalém. Embora deixando bem claro que ambos viram o caído, Jesus não nos diz por que o sacerdote e o levita não fazem nada para ajudá-lo. Pode até ser que os dois tenham suas boas justificativas, assim como nós também temos boas justificativas para não ajudar pobres, mendigos e feridos que nos procuram nos momentos mais inconvenientes. De qualquer maneira, os funcionários do culto estão impedidos legalmente de tocar em sangue para não serem contaminados e assim ficarem impedidos de celebrar.
Passa então um samaritano. Sabemos que os judeus odeiam os samaritanos. E, ao que tudo indica, o caído é um judeu. Novamente, com muita habilidade narrativa, Jesus abre espaço para o representante dos excluídos. O samaritano vê, move-se de compaixão, cuida das feridas, coloca o homem em seu próprio animal, leva-o até uma hospedaria e passa a noite toda cuidando dele. É uma ação concreta de uma pessoa que abre mão de sua viagem para viver em função de uma pessoa desconhecida. Terminando sua narrativa, Jesus se volta para o doutor da Lei e pergunta diretamente: “na tua opinião, quem foi o próximo do que estava caído?”. Há aqui uma inversão da pergunta. O doutor tinha perguntado “quem é o meu próximo?”. Jesus diz que a verdadeira pergunta deve ser “de quem eu sou o próximo?”. O doutor da Lei responde de maneira certa: é aquele que teve misericórdia. Em sua parábola Jesus ensina que se quisermos alcançar a vida eterna, temos que nos aproximar dos outros com o coração cheio de misericórdia. Próximo é quem sabe se aproximar e ajudar aqueles e aquelas que precisam.
Foto de capa: site notícias uol.