Discipulado de Mulheres: O Perfume encheu a casa

“Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, muito caro,
ungiu com ele os pés de Jesus
e os enxugou com seus cabelos.
A casa se encheu com o perfume”.
(João 12,3).

Ungir, enxugar os pés com os cabelos, gestos de muita ousadia e intimidade.

Maria costumava sentar aos pés de Jesus, para escutá-lo (Lc 10,39; João 11,32). Havia espiado: os aprendizes de discípulo sentavam aos pés de seus mestres. Havia ouvido: sentar aos pés do mestre era uma frase técnica que indicava estar no caminho do discipulado. Havia visto e ouvido, desejado… Desejo, anseio profundo guardado em seu coração, acalentado longamente, mas, secreto.

Era proibido às mulheres estudar e ter nas mãos os rolos sagrados. Desde pequena, na sinagoga no lugar das mulheres escutando as Palavras crescia desejo ardente de tomar nas mãos os rolos, ler, estudar, enfim ser discípula. Não podia, era negado, era caminho somente para homens.

Até que Jesus passou por Betânia e sua irmã Marta, rompendo as tradições o acolheu em sua casa. Ela ousou e o Mestre acolheu, e se tornou discípula com outras que já trilharam o caminho do discipulado (Lc 8,1-3).

“O Mestre está aqui e te chama”, dissera-lhe sua irmã Marta. E, Maria “ao ouvir, levantou depressa, se dirigiu a ele… caiu aos seus pés” (João 11,28-29.32). Chamar, ouvir, seguir, estar aos pés, o caminho do discipulado, Maria viveu tudo isso. Viveu e foi além.  Foi discípula e profetiza: sentada aos pés, escutar seu projeto, ungir e consagrar seu projeto.

Ungir com perfume abundante e precioso: radicalidade do amor.

Derramar, ungir, como será derramado até a última gota o sangue “daquele que amou e amou até o fim” (João 13,1).

Ungir para preparar para luta e na traição, fortalecer na dor, no abandono, na paixão. Ungir para realizar a unção do corpo que não poderá ser feita, por causa da Páscoa. Ungir para antecipar a entrega total e radical.

Ungir, derramando todo o perfume, declarar seu amor; afirmar que entendeu seu projeto, sua proposta; assegurar a fidelidade e radicalidade; confirmar que a memória será mantida; garantir continuidade.

“A casa se encheu com o perfume”: a casa, a comunidade que guarda e vive a memória de Jesus seu Mestre, enche de perfume o mundo inteiro. Permanece nos cabelos de Maria: a discípula, a profetiza.

“Pobres sempre tereis entre vós, a mim não me tereis” (João 12,8). Casa, comunidade, ouvintes que ao fazer memória da mulher do perfume recordarão o agir de Jesus, recordarão seu chamado e apressadamente se levantarão para encontrá-lo, se jogar aos seus pés, escutá-lo e refazer seus sinais, repetir o gesto de derramar todo o perfume, o perfume precioso de Jesus, o perfume abundante do seu projeto.

“Levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés…” (João 13,4-5).  Ungir os pés, lavar os pés… Assim como ela fez, ele fez. Assim nós devemos lavar, ungir os pés… “Não tem amor maior que dar a vida para seus amigos e amigas” (João 15,13).

Maria, através do teu gesto delicado e forte, aquele perfume não mais é perfume que antecipa a morte, agora é o perfume que anuncia a Ressurreição.  É o perfume que se expande através de quem resiste na luta e se põe a serviço dos fragilizados, na escuta dos últimos da terra. Maria continua a expandir teu perfume nos nossos pés assim conseguiremos abater muros, abrir portas, destelhar nossas igrejas. O perfume da Ressureição não pode ser enclausurado deve expandir-se para desmontar nossos medos e prudências, abrir novos caminhos, conduzir nosso esperançar nas pegadas do Ressuscitado, ser perfume derramado no universo em quem busca Vida.

A casa encheu-se de perfume!
Perfume de nardo
Para fortalecer
Superar os medos
A solidão,
A incerteza do futuro.
Infundir coragem
Na provação
Na traição
Na solidão
Na entrega.
Perfume do amor,
Amorosidade,
Fidelidade, compartilhar,
Estar com…
Unção de profeta.
Viveu o amor até o fim
Ungido, fortalecido, amado.
No perfume que se expande
Permanece nos cabelos
Permanece no ar
Expande …

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