Fórum das Águas de Manaus: Quando vamos parar de poluir?

Por Luis Miguel Modino

O Cuidado da Casa Comum tem-se convertido numa urgência à qual todos somos chamados. A chegada do Papa Francisco tem mostrado um novo olhar sob uma atitude que tem sido esquecida secularmente em algumas culturas. Por isso, como nos lembra o Documento Preparatório para o Sínodo da Região Pan-Amazônica, “quando tivermos consciência de como nosso estilo de vida e nossa maneira de produzir, comerciar, consumir e desejar afetam a vida do nosso ambiente e de nossas sociedades, só então poderemos iniciar uma transformação com horizonte integral”.

A Amazônia é uma região onde aos poucos a poluição tem-se tornado uma realidade cada vez mais preocupante. Diante dessa situação, o SARES – Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Ambiental, impulsionou a criação do Fórum das Águas, onde representantes de diversos coletivos e instituições do ámbito político, social e eclesial se encontram para refletir sobre as problemáticas existentes que mostram a degradação ambiental cada vez mais presente em Manaus e em diferentes regiões da Amazônia.

Falar de água é ecoar as palavras que o Jesuíta Paulo Tadeu Barauasse, Coordenador Geral do SARES, pronunciava na última reunião do Fórum, que aconteceu em Manaus neste 20 de julho: “temos que ver a água como dom, não como mercadoria”. Nesse sentido, o Documento Preparatório do Sínodo da Amazônia, coloca que a água é “elemento articulador e integrador” na região amazônica, insistindo que o “Batismo responsabiliza a comunidade de fé pelo cuidado deste elemento como dom de Deus para todo o planeta”.

Nesse sentido, o SARES, que está vinculado ao plano apostólico da Companhia de Jesus, busca contribuir para o despertar da consciência ambiental e compromisso com a Amazônia, através de troca de conhecimento e educação socioambiental na construção de uma sociedade sustentável. Daí o tema da reunião do Fórum das Águas: O que estamos fazendo para salvar os igarapés? Quando vamos parar de poluir?

A poluição em Manaus, a maior cidade da Amazônia com mais de dois milhões de habitantes, tem chegado em limites alarmantes. Os pequenos rios que atravessam a cidade, que são conhecidos como “igarapés”, tem-se tornado autênticos lixões, o que também é conseqüência do descaso do próprio poder público, que não respeita as leis ambientais, ignorando o tratamento de esgoto, o que aumenta os riscos da população, nem só no plano ambiental como no social.

Junto com isso a abertura de estradas ilegais na floresta da região metropolitana, uma situação que tem piorado nos últimos anos com a construção da Ponte sob o Rio Negro, uma infra-estrutura que só responde aos interesses particulares de grupos políticos e econômicos. Por isso, o Foro insiste na necessidade de conscientizar a  população ao respeito dessa problemática do Cuidado da Casa Comum, começando pelas escolas.

Essa tarefa tem-se tornado mais complicada nos últimos anos em conseqüência da fragmentação dos diferentes organismos e instituições, o que debilita a luta e faz mais urgente o bom funcionamento de instâncias como o Fórum das Águas, pois isso vai fazer mais efetivo o controle social, a cada dia mais debilitado. Se faz necessário abordar as questões que aparecem no transfundo e se perguntar onde nos remite a questão da água e as dimensões dessa temática.

Nesse sentido, a implicação da sociedade e da própria Igreja resulta fundamental. Sirva como exemplo que nos Seminários sobre a Laudato Sí organizados pela REPAM-Brasil nos últimos dois anos em todas as regiões da Amazônia brasileira, a poluição dos rios e das águas foi uma das problemáticas mais presentes. Um dos elementos que mais influenciam nesse sentido são os grandes projetos, que provocam que o capital determine as ações a serem desenvolvidas na Amazônia.

 

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