“Igreja é povo que se organiza, gente oprimida buscando a libertação”.
Foi nas terras da cidade do aço, em Volta Redonda-RJ, que cerca de 1000 romeiras e romeiros participaram da tradicional Romaria das Comunidades, abrindo oficialmente o II Lestão, evento que prepara a delegação para o 14º Intereclesial das CEBs de 2018: CEBs e os Desafios no Mundo Urbano. O Lestão reúne os estados do Espírito Santo, Minas e Rio de Janeiro.
A caminhada partiu da Igreja Santa Cecília, onde está sepultado o corpo do bispo Dom Waldyr Calheiros, que trabalhou incansavelmente pelo fortalecimento das CEBs e pelas ações propostas pelo Concílio Vaticano II. Na concentração da romaria, a memória de Dom Waldyr foi feita como menção profética à Igreja que se compromete com os pobres. Músicas de comunidade animavam o povo de Deus precedendo a celebração do Ofício Divino das Comunidades.
O bispo diocesano, dom Francisco Biasin, destacou que alegria e compromisso são a marca das CEBs. “O que
Num ato histórico a Igreja ecoou um grito de protesto contra o atual governo e suas propostas de reforma, em especial a reforma da previdência e a reforma trabalhista. Os movimentos Sociais e a Igreja afirmam que estamos vivendo um grande momento de retrocesso dos direitos sociais. “Os discípulos de Jesus não podem aceitar que tirem os direitos, especialmente dos mais pobres”.
Na romaria se juntou o Movimento Cristãos pela Democracia, a CUT e outros movimentos sociais. Em todo o percurso Gritos de Fora Temer e não à Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista foram ouvidos. Ao longo da caminhada transeuntes e motoristas de ônibus e carros particulares recebiam matérias explicativos sobre as trágicas conseqüências das reformas do governo.
A Romaria seguiu até a igreja Nossa Senhora da Conceição, onde foi celebrada a missa de abertura do evento. Antes, porém, os romeiros fizeram uma parada no Memorial dos Trabalhadores, onde está à estátua de Dom Waldyr para reafirmar as palavras de ordem e luta por direitos.
“Vamos companheiros, marcar mais um ponto, ficar mais bonito e fortalecido com esse encontro”.
No segundo dia de encontro, sábado (22), o Lestão, que foi realizado no Colégio Nossa Senhora do Rosário, em Volta Redonda, contou com a assessoria do bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, dom Joel Portella Amado, que partilhou sobre as transformações na sociedade e “os desafios do mundo urbano”, tema que será tratado no 14º Intereclesial das CEBs a ser realizado em janeiro de 2018, em Londrina. Sua contribuição foi sobre o olhar para a cidade a partir do compromisso da Igreja.
No primeiro momento dom Joel refletiu sobre o passo ver, ou seja, enxergar a realidade de um lugar. Mas enfatizou que não é fácil definir o que é uma cidade, devido às pluralidades, ambiguidade e contínua transformação.
“As cidades apresentam, em linha de continuidade, desafios que se tornam maiores de acordo com o tamanho da cidade. Primeiro desafio: a cidade é diversificada, plural, não tem um estilo de vida, um jeito de ser. Segundo, a mobilidade – a cidade está sempre em processo de transformação e as pessoas estão se movimentando na cidade. E o terceiro, sem dúvida nenhuma entre os muitos desafios, toda a situação da pobreza, exclusão e da marginalização, que desafia nossa atenção de cristãos”, explicou dom Joel. Em suas falas o destaque presente dos 10 anos de Aparecida e a importância de se aprofundar no documento de Aparecida que defende a rede de comunidades e reafirma o compromisso com os pobres.
Por fim, ele destacou pontos que a Igreja não pode abrir mão em sua caminhada:
1º Anúncio do Reino de Deus;
2º Uma pastoral diversificada, porém unida;
3º O valor da Pessoa Humana acima de tudo;
4º A dimensão afetiva na cidade;
5ª O valor do Diálogo em todas as instâncias;
6ª Diálogo na dimensão inter-religiosa;
7ª A questão do compromisso pela justiça social
Dom Joel destacou ainda que a Igreja precisa se adaptar a essas transformações. Que a chamada pastoral tradicional está muito acostumada a clarezas, definições e quando chega até as grandes cidades há um embate da uniformidade diante da realidade ambígua. Lembrou também que é preciso superar as poucas experiências eclesiais no mundo urbano, a incapacidade de importar ações do rural para o mundo urbano, a dificuldade de manter o jeito do passado na atualidade e, sobretudo, atuar na urgência evangelizadora, usando a criatividade.
“Precisamos encontrar formas de viver a experiência eclesial no mundo urbano. Ir encontrando formas de viver essas experiências”. Ainda de acordo com o bispo, é preciso propor a mudança, porém preservando características importantes para evangelização, como: recomeçar a partir de Jesus e o Reino de Deus; Ser uma pastoral diversificada, porém unida; Resgatar o valor da comunidade e da vivência em grupo; Priorizar qualquer tipo de diálogo; Evitar conflitos com outras religiões e manter o compromisso pela justiça social.
Em cima da assessoria do dom Joel, aconteceu a popular fila do povo, momento de debate e flexão que o povo de Deus, provocados pela assessoria apresentam. Também é um espaço de apresentar desafios que a Igreja ainda precisa se abrir.
Mão na massa
No período da tarde, os delegados e delegadas, além de convidados/as do Lestão se dividiram em grupos de trabalho para o passo “mão na massa”, onde discutiram as diferentes realidades, separados pelos temas. Os grupos foram apelidados de gerência respeitando a história e cultura da Cidade de Volta redonda: Tecnologia de informação e comunicação, meio ambiente e sustentabilidade, mobilidade, educação, saúde, arte/cultura/esporte e lazer, moradia, afetividade e sexualidade, violência e trabalho.
Esse momento é considerado um dos mais ricos, pois em pequenos grupos é possível não só ouvir os clamores do povo que sofre, mas apontar pistas de ações para as comunidades e suas realidades.
No domingo, último dia, foram formados dois grandes grupos separados por Leste 1 e Leste 2 para traçar as ações que serão desenvolvidas ao voltar para casa. O encontro terminou com uma Celebração Eucarística, seguida de almoço.
A Celebração Eucarística foi presidida pelo bispo de Luz (MG) dom José Aristeu Vieira, concelebrada por todos os
Ao final do evento foi emitida uma Nota Pública em repúdio ao massacre de Camponeses em Colniza, MT.
Leia abaixo:
Nota Pública em repúdio ao massacre de Camponeses em Colniza, MT.
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) reunidas em Volta Redonda, RJ, no seu Encontro “Lestão das CEBs”, nos dias 21, 22 e 23 de abril de 2017, com mais de 300 representantes de CEBs de MG, ES e RJ, vêm repudiar o massacre de 9 trabalhadores camponeses na gleba Taquaruçu, no município de Colniza, em Mato Grosso, no último do dia 20 de abril de 2017. Este massacre, hediondo e cruel acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional – parlamentar, jurídico e midiático -, com agressões tão graves aos direitos fundamentais do povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente ilegítimo, Temer, numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais – indígenas, quilombolas, etc.. – como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos.
Conclamamos todas as forças vivas da sociedade a lutar por justiça agrária, urbana e socioambiental, de forma que “toda bota que pisar o inocente, toda veste manchada com o sangue dos pobres sejam devoradas pelo fogo” (Isaias 9,4). Estaremos na luta por direitos até que “o direito corra como água e a justiça como um rio caudaloso” (Amós 5,24).
Nós nos solidarizamos com as famílias camponesas vítimas desse massacre, repudiamos esse crime hediondo de jagunços e mandantes e exigimos a prisão, julgamento e a punição dos responsáveis por este massacre.
Assinam essa Nota Pública, os representantes das CEBs de MG, ES e RJ presente no Lestão das CEBs.
Volta Redonda, RJ, Brasil, 23 de abril de 2017