O Encontro Internacional “Novos paradigmas para um outro mundo possível. Evitar o desastre ecológico. Construir a sociedade do bem viver” foi realizado durante o Fórum Social Mundial, na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, nos dias 14 e 15 de março.
Este Encontro se insere no âmbito do Projeto Novos Paradigmas desenvolvido pela Abong e pelo Iser Assessoria em parceria com as agências internacionais Misereor, Fastenopfer e DKA e, para o encontro, com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo e da União Europeia e em parceria com a Rede Diálogos em Humanidade. Estiveram presentes representantes de todas estas instituições. Havia também organizações parceiras de vários países da América Latina, num total de mais de 50 pessoas convidadas.
O Encontro teve mesas redondas na parte da manhã dos dois dias, que tiveram um caráter mais teórico, conceitual. Na parte da tarde, houve 12 oficinas para os participantes falarem das práticas alternativas que estão desenvolvendo em seus locais, em seus países, cada uma sobre uma temática específica: energia, água, democracia, resíduos, agroecologia, mineração, mulheres e economia solidária, resistência urbana, educação, juventudes, mobilidade sustentável e ODS (objetivos desenvolvimentos sustentáveis).
O tema da primeira manhã foi “Novos Paradigmas para a sociedade do bem viver: quais os elementos necessários para novos paradigmas de sociedade/economia/meio ambiente?” Os expositores foram uma representante dos povos indígenas, Sonia Guajajara, Ladislau Dowbor (São Paulo), Tania Ricaldi (Bolívia), Natalia Quiñonez (El Salvador) e Edgardo Lander (Venezuela).
Falou-se da experiência e da luta dos povos indígenas na defesa de seus territórios e do meio ambiente, assim como dos ataques de que são vítimas. Tratou-se da questão econômica mais grave do nosso continente, a desigualdade social e o papel central dos mercados financeiros na atualidade. Foi citada a vitória do povo salvadorenho que conseguiu, em 2017, depois de um longo processo, proibir a mineração de minerais metálicos no país. Insistiu-se na necessidade de buscar um outro tipo de economia, que atenda às necessidades da população e não destrua as condições ambientais.
Nas oficinas à tarde, tratou-se de expor e debater as práticas desenvolvidas pelos vários parceiros presentes, segundo sua área específica de trabalho. No caso da agricultura, falou-se das várias experiências onde a produção é agroecológica, com alimentação saudável, falou-se das energias renováveis que estão sendo utilizadas, inclusive por comunidades indígenas, de energia solar ou energia eólica. Valorizou-se o processo democrático que é empregado, pois as comunidades discutem antes e, depois de aprovar alguma iniciativa, são elas que gerem sua realização.
Na segunda manhã, o tema foi “Desafios e Alternativas para a transição para outro mundo. Passos e estratégias de transição: o que fazer? com quem fazer? Quais as principais mudanças? Quem serão os sujeitos das mudanças?” Os expositores foram Patrick Viveret (França), Ricardo Petrella (Itália), Lindomar Terena (liderança indígena do Brasil) e Pablo Solon (Bolívia).
Algumas das afirmações feitas: uma alternativa sistêmica deve articular todas as dimensões – ser anticapitalista, antiextrativista, antiprodutivista e superar o antropocentrismo. Não há seres humanos de um lado e natureza do outro: os seres humanos são também parte da natureza. Precisamos superar o produtivismo, mas também precisamos resolver a questão do emprego.
À tarde foram feitas oficinas sobre outras temáticas – juventudes, resistência urbana, mobilidade sustentável, educação e ODS.
Houve, igualmente, durante o Encontro, a divulgação do banco de dados de práticas alternativas. Ele foi criado há dois anos pelo projeto Novos Paradigmas que o tornou disponível para o público num site (praticasalternativas.org.br). Além disso, se associou à iniciativa de uma ONG boliviana – “Almanaque do Futuro” – que recolhe experiências alternativas em quatro países de fala espanhola (almanaquedelfuturo.wordpress.com/espanol). De modo que já há um acervo virtual disponível para ser consultado, que inclui experiências do Brasil e de quatro países latino-americanos.
A principal ideia que fica deste Encontro é que existem outros paradigmas para pensar a sociedade, a economia, a vida no Planeta. Não são só reflexões teóricas, existem práticas alternativas em diferentes áreas, desde a energia, a agricultura, a produção e a reprodução da vida, que não destroem as condições naturais e que contribuem para o bem viver. É possível viver de outra maneira, de forma saudável e solidária, democrática e participativa. Estas práticas devem se tornar políticas públicas para poder atender às necessidades de todas e todos.
Abaixo, links sobre algumas oficinas realizadas no Fórum Social Mundial.