Para os cristãos, liberdade de pensamento é pensar como Jesus pensou: livre!
Por Carlos Jardel

Sem a pretensão de aprofundar a história, mas sim com a extrema necessidade de provocar reflexões nos dias atuais, é necessário lembrar que a “Liberdade de Pensamento” é um tema muito caro! Sempre foi e sempre será! Basta que qualquer pessoa se debruce na linha do tempo, inclusive passando a vista em Jesus de Nazaré, que foi uma das personalidades mais livres e libertadoras que já caminhou pela face da terra, para constatar o quanto esse assunto vem sendo o motor da quebra e da construção de paradigmas, resultando nas grandes revoluções que o mundo já teve. Revoluções, diga-se: dolorosas e sangrentas

Bom, cabe aqui destacar, por exemplo, o próprio surgimento do cristianismo e – em tempos não muito remotos – a famigerada Revolução Francesa, o evento da Declaração Universal dos Direitos Humanos e, no Brasil, a nossa jovem Constituição Federal de 1988, ambas assegurando a Liberdade de Pensamento, juntamente com a liberdade de se expressar, como elementos fundamentais e indispensáveis para a dignidade da vida humana em todas as suas dimensões.

É óbvio que outros acontecimentos, com seus respectivos protagonistas, em várias épocas da história, somam-se ao processo de busca pelo amadurecimento da liberdade de pensamento. Neste caso, não se pode deixar de fora a herança intelectual da antiga Grécia, berço da sociedade ocidental e palco das grandes reflexões existenciais…

Mas, voltando para a parte que diz respeito ao jovem de Nazaré, que é a parte que deveria tocar os cristãos dos dias atuais, assim como tocou os seus primeiros seguidores, a reflexão sobre liberdade de pensamento precisa ser sobre “como pensou e como viveu Jesus” e como deve se pensar as condições de seu discipulado na Igreja, na sociedade e no mundo, a partir da centralidade de sua proposta contida no Evangelho.

Ora, Jesus viveu livre e por isso pensou livre. E, por pensar livre, viveu ensinando a pensar livre, mostrando os valores da liberdade e também o preço que a liberdade cobra. É isso que se verifica, por exemplo, no episódio da prostituta em risco de apedrejamento nos conformes da lei, quando Jesus no imediatismo da circunstância, exclamou com muita clareza e segurança: quem dentre vós não tem pecado que jogue a primeira pedra! Porém, mais forte deve ter ecoado: quem dentre vós é capaz de tomar a liberdade de pensamento para contrariar uma injustiça social impetrada num documento religiosamente rígido que renega a dignidade humana? Cá pra nós: quem tem a capacidade de pensar e agir assim nos dias atuais?

Por isso, é grave imaginar Jesus de uma forma que não seja proporcionando a liberdade de pensamento aos seus seguidores. O apóstolo Paulo, que não conviveu com ele, é a prova disso, quando ousou questionar e condenar o comportamento de uma das figuras mais próximas de Jesus, Pedro. “Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável”. É o que diz o relato de Paulo aos membros da comunidade de Gálatas ( 2:11-14), quando Pedro se negou a sentar na mesa com os gentios, considerando que a proposta de Jesus era limitada aos judeus.

Nas entrelinhas desses dois episódios destacam-se ainda o peso da responsabilidade de se pensar bem antes de agir. Não pode ser qualquer pensar, tem que ser para criar consciência que gera vida, que salva vidas e que coloque a dignidade das pessoas acima de qualquer convenção que reduza os valores da existência humana. Jesus poderia ter utilizado qualquer outro argumento e assim ter colaborado com a execução sumária da mulher. O apóstolo Paulo também poderia ter acatado as ideias de Pedro, excluídos os gentios e estabelecido lastimavelmente fronteiras no amor do Deus de Jesus e, quem sabe, ter levado o cristianismo a padecer no estômago dos leões romanos.

Não resta dúvidas que a liberdade de pensamento de Jesus, ao ser observado como se deve, fornece a coragem necessária aos seus discípulos, para que, sem preconceitos, atualizem a Boa Nova no mundo, identificando os condenados ao apedrejamento social e resgatando-os à dignidade, bem como situando os que carregam em suas mãos as pedras da injustiça.

Em outras palavras, podemos dizer que, para os cristãos, liberdade de pensamento significa exercer o profetismo: denunciar as injustiças e anunciar o Reino de Deus que está entre nós através dá mesma consciência que teve Jesus.

Nesses tempos tecnologicamente pandêmicos e de desgovernos, urge a necessidade dos cristãos se colocarem ao dispor do mundo com a postura pensante e livre que o evangelho incita, sobre o risco de não cumprirem sua missão e assim fortalecerem as estruturas que aprisionam e matam as pessoas, sobre tudo os mais pobres.

Carlos Jardel dos Santos

Leigo da diocese de Tianguá-CE

Regional Nordeste I

 

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