Na conclusão da Semana de Oração pela Unidade Cristã (13-20/05) o convite renovado para “testemunharmos nossa esperança” e “cooperação no campo social” (UR 12). A unidade dos cristãos, seguidores de Jesus e discípulos missionários é unidade na “comunhão no Espírito Santo” (2Cor 13,13; DAp 155).
“A mão de Deus nos une e liberta” é o tema da Semana e da Celebração Festa de Pentecostes; inspirado no hino de Moisés e Miriam, que canta a vitória sobre as forças que ameaçam o seu povo e proclama a grandeza de Javé que redime seu povo para a liberdade (Ex 15,1-21).
A unidade só pode ser acolhida por quem decide pôr-se a caminho rumo à meta que hoje poderia parecer bastante distante (Papa Francisco). O Espírito Santo está presente na Igreja como sempre, mostrando os caminhos de seguimento de Jesus. Jesus não deixou nenhum programa de evangelização, mas prometeu que o Espírito estaria presente para mostrar de que maneira podemos atualizar a vida dele nas mais diversas circunstâncias da história (Conblin; Jo 14,26;16,13-15).
A Festa de Pentecostes acontece no Ano do Laicato, no qual lembramos que os leigos são “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5,13-14); o sal da paróquia e a luz da Igreja (F.Orofino). Colocamo-nos no rumo dado à caminhada da Igreja a partir do Vaticano II, que situa os leigos como sujeitos da evangelização, numa Igreja em saída, vivificadores do mundo, testemunhas da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, um sinal do Deus vivo (LG 38).
Aos cristãos leigos que vivem sua fé na dimensão pessoal, eclesial e política nas Comunidades Eclesiais de Base, a celebração do Espírito Santo é sempre um novo começo a partir da presença viva de Jesus no meio de nós, pois, somente “Ele ocupa o centro da Igreja” (Pagola), impulsiona a comunhão e renova nossos corações.
Nossos leigos já expressavam na Síntese das contribuições da Igreja à Conferencia de Aparecida (Doc.Participação, cap V) a necessidade de insistir mais na vida comunitária, em comunidades de rosto humano.
Uma Igreja viva e profética, que tem nas CEBs um novo modo de ser Igreja e um meio privilegiado de articulação entre fé e vida, cristianismo e cidadania. Comunidade eclesial como o lugar do encontro e da vivência da fé cristã; ministerial, cada qual contribuindo com seu dom. Paróquias: rede de comunidades que partilham o poder em inúmeras instâncias, do conselho comunitário até a assembleia diocesana. CEBs que tem como marca a Comunhão; celebram a vida do povo; valorizam e evangelizam a partir da religiosidade popular; com a base na Palavra de Deus e comprometidas com o povo.
Fé encarnada no itinerário da pessoa que crê:
O testemunho de um leigo e sua comunidade, unidos na fé, no coração da Amazônia, chamou minha atenção neste inicio de ano e gostaria de relatá-lo, pois, nossas Comunidades Eclesiais de Base são Igreja de Jesus de Nazaré que nasce do Povo pelo Espírito de Deus. Com Papa Francisco reafirmamos: o Povo é sujeito e a Igreja é o Povo de Deus a caminho na história, com alegrias e dores; sentir com a Igreja é para mim, pois, estar neste Povo.
Diante das dificuldades, teve vontade de desistir, pois na estação das chuvas até de avião fica difícil se locomover e o custo é muito alto. Em linha reta são 214,9 km de Lábrea a Humaitá e 204,18 km de Humaita/AM a Porto Velho/RO. De moto, Antônio e seu filho, Bruno, percorreram 230 km de estrada sinuosa e difícil, sendo 183 km de chão e muita lama. Correram risco como ele mesmo descreve: – Gastei quase 12 horas de viagem, fora as travessias nas balsas. Foi difícil chegar a Humaitá, cada atoleiro era uma incerteza e insegurança. A BR é isolada, tem animais, até onça eu vi, foi uma experiência única. Dormi em Humaitá na noite de 19 e no dia 20 seguimos de ônibus para Porto Velho, após 04h de viagem chegamos a Porto Velho, sabendo que na volta repetiríamos tudo, por amor as CEBs e a Missão que nos conduziram para essa aventura missionária.
À pergunta se valeu a pena ter participado do encontro das CEBs, Antônio respondeu: – Enfrentei esse desafio de ir de motocicleta de Lábrea a Humaitá, numa BR perigosa e complicada, mas valeu a pena ter participado da Ampliada, o envolvimento com o regional e com os articuladores de outras dioceses me ajuda no amadurecimento da fé e vivência cristã, é sempre um aprendizado novo, me motiva a ser mais ainda uma Igreja em saída. Cada encontro é uma experiência. Nenhum encontro é igual ao outro, cada encontro é um crescimento, a gente chega em casa ou na comunidade com o coração mais ativo. E percebo que ao passar dos anos, nós articuladores estamos melhores: discutimos, planejamos e estamos interligados e unidos.
Mas esse leigo de fé, que em sua sofrida viagem pela floresta, rumo ao Encontro das CEBs, acreditou em sua missão: – Rezei muito e pedi a Deus para me ajudar durante o trajeto. Pensei em desistir. Pedi oração da minha paróquia, prelazia e da minha família. Cai algumas vezes na lama, mas a força da Oração e da Fé me ajudou. Como sempre, tive o apoio da minha comunidade e da diocese. Dom Santiago e meu Pároco me animaram a participar da Ampliada. Tive ajuda também do meu Regional. Também gastei do meu bolso, mas isso não importa, o que importa mesmo é o Reino de Deus agora e aqui no meio do meu povo. Estamos na batalha independente do recurso, somos motivados pelos nossos pastores a arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa. Não é fácil um leigo missionário, principalmente quando você trabalha e precisa viajar para visitar as comunidades ou participar de encontros longe da sua cidade; você enfrenta resistências e incompreensões, mas acredito que sempre conseguirei, tendo Deus na minha frente e me dando sabedoria. A formação e partilha da vida em grupo e principalmente num espaço como a Ampliada Regional das CEBs, me ajuda na comunidade e no meu trabalho.
Que a Solenidade de Pentecostes nos permita discernir os sinais do Espírito que continua guiando os passos da Igreja, com seu rosto missionário, “para que anunciemos com alegria e entusiasmo a Boa-nova do amor de Deus em Cristo, como o que enche de sentido o coração do ser humano, também nesta vida” (Clodovis Boff).