Promover uma pastoral transfronteiriça, que rompe muros e edifica o Reino na Amazônia

Por Luis Miguel Modino


Na Amazônia, existem elementos que não fazem parte da vida dos povos originários, um deles são as fronteiras entre os países, que frequentemente dividem as pessoas, inclusive as famílias. O Sínodo da Amazônia, por meio do Trabalho, pede à Igreja da Amazônia que responda a esse desafio, “formar equipes específicas nas dioceses e paróquias, e planejar uma pastoral de conjunto em regiões de fronteira”, como recolhe o número 62.

Não podemos esquecer como o mesmo documento nos diz que “a fronteira constitui uma categoria fundamental da vida dos povos amazônicos. É o lugar por excelência do agravamento dos conflitos e das violências, onde não se respeita a lei e a corrupção mina o controle do Estado, deixando campo livre a muitas empresas para uma exploração indiscriminada”, nos diz o número 129, que exige “incentivar e fortalecer o trabalho em redes de pastoral de fronteira, como caminho de ação pastoral social e ecológica mais eficaz”.

Seguindo essas sugestões do Instrumentum Laboris, entre os dias 5 e 7 de setembro, realizou-se em Tabatinga, estado de Amazonas, uma reunião da Diocese de Alto Solimões, que foi a anfitriã, e os vicariatos de Letícia (Colômbia) e São José do. Amazonas (Peru). Havia 80 participantes, incluindo leigos e leigas, religiosas e religiosos, padres e seus bispos, Dom Adolfo Zon, Dom José de Jesus Quintero e Dom José Javier Travieso.

O objetivo, como o padre Alfredo Ferro lembrou aos presentes, era “encontrar-se como tríplice fronteira, como pessoas com sua diversidade, como Igreja, é um espaço para preparar o Sínodo, refletir sobre o Instrumento Laboris (dar-lhe algumas contribuições) e trocar nossas realidades – desafios – esperanças que nos permitam nos projetar como igrejas fronteiriças”. Foi algo que os bispos também insistiram, que viram a reunião como uma oportunidade de ouvir, porque “quero levar a voz de tantas pessoas e de vocês ao Sínodo para descobrir o que Deus está nos pedindo como Igreja na Amazônia”, disse Dom José Javier Travieso. Tudo isso seguindo o que o Papa Francisco nos convida, “escutar, mesmo aquelas vozes dissonantes”, enfatizou Dom Adolfo Zon, porque o desafio é “que possamos nos sentir muito próximos e nos sensibilizar ao cuidado do meio ambiente, para que tudo isso o que nos rodeia possa ser preservado”, concluiu Dom José Quintero.

De fato, não é a primeira vez que essas Igrejas se reúnem, já que outras reuniões já foram realizadas, motivadas pela mobilidade humana, pastoral juvenil ou projetos binacionais, entre outros. Acima dos temas “é necessário quebrar os muros que nós mesmos estabelecemos como Igreja”, disse a irmã Guaracema Tupinambá. Dessa forma, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM tem um papel importante, principalmente através do Eixo Fronteiras, conforme explica Verónica Rubi, uma das coordenadoras desse eixo, que afirmou que “cada um é Igreja porque estamos construindo o Reino desde diferentes serviços missionários”.

A realidade dessas três Igrejas é muito ampla, algo que os presentes foram descobrindo, destacando alguns elementos e desafios, como a inculturação, a valorização das culturas, a falta de planos pastorais e unidade de critérios, a falta de conscientização sobre o cuidado de Casa Comum, narcotráfico e drogadição, grandes distâncias, necessidade de presença pastoral, com maior destaque aos leigos, ser Igreja profética, insistindo em políticas públicas, modelos de produção sustentável, migração para as cidades, acompanhamento para jovens, entre muitos outros.

A partir dessa realidade, foi feito um chamado a assumir a tripla conversão proposta pelo Sínodo para a Amazônia, eclesial, que recupera a memória do passado, gera estruturas que têm vida que as anima, sustenta e recria, faz realidade uma Igreja em saída, missionária e nada acomodada, elementos fornecidos pelo padre Yilmer Pérez. Uma conversão ecológica, baseada na Laudato Si, que, segundo Alfredo Ferro, que nos desafia a admirar, reconhecer, agradecer, amar, porque tudo está interligado e ao mesmo tempo ameaçado pelo pecado que explora a Casa Comum, coloca em primeiro lugar a economia, o antropocentrismo e o relativismo moral, sendo desafiados a recuperar a história e as raízes. Também uma conversão sinodal que, segundo Dom Adolfo Zon, expressa participação e comunhão em vista da missão, valorizando a escuta e o diálogo como um compromisso na busca da vontade de Deus, discernir em conexão com a realidade e permanecer em constante oração. .

Os povos indígenas também manifestaram o que esperavam da Igreja, confiando que o Sínodo para a Amazônia é um impulso nessas esperanças. Começaram agradecendo o apoio da Igreja aos povos indígenas, seu trabalho formativo evangelizador, e pediram um trabalho desde a pastoral indígena, respeitando a cultura, para aprofundar os problemas da Amazônia e o que está acontecendo nela, que a Igreja seja companheira de luta, denunciando as Igrejas que desejam catequizar sem respeitar aquilo que lhes é próprio. Os povos indígenas dizem que não querem esquecer sua cultura, língua e espiritualidade. Eles também pediram à Igreja que apoiasse os indígenas que vivem na cidade e que um dia um indígena desta região possa celebrar a Eucaristia em seu próprio idioma.

O encontro também serviu para refletir sobre alguns elementos presentes na região, como a realidade urbana, um fenômeno mestiço e imparável, sem serviços básicos, com violência, tráfico de drogas, prostituição; a saúde integral, que valorize a sabedoria ancestral e a medicina natural, e combata a poluição e o desmatamento, promovendo o cuidado com a natureza do bem-viver, conhecendo a medicina natural para todos os tipos de doenças; justiça social e bem-viver, porque tudo o que é necessário para viver está na Amazônia, mas ameaçado após a chegada da doença do dinheiro; vida e cultura no território, que promove o cuidado; o modelo predatório, cada vez mais presente, promovido por grandes empresas, que destrói o meio ambiente e a vida das pessoas, diante de modelos autossustentáveis; direitos humanos, em uma realidade em que muitos líderes são assassinados; migração, fenômeno global presente na Amazônia, que atinge pessoas em busca de uma vida melhor, que também está presente no mundo indígena; corrupção, também presente no cotidiano, na Igreja, na família, que deve ser combatida pela educação na família e a catequese.

O Sínodo para a Amazônia é um tempo de graça que pode impulsionar, promovendo o diálogo intercultural, novos ministérios, uma celebração da fé, através de sacramentos e liturgia mais inculturada na realidade amazônica e indígena, com missionários dispostos a formar líderes, um diálogo ecumênico, que se traduz em novos relacionamentos e celebrações comuns, e atenção prioritária à família e às comunidades.

O encontro serviu para ver propostas concretas para essa tríplice fronteira, buscando momentos para realizá-las e os responsáveis ​​por coordená-las. Essas propostas abrangem atividades no campo da ecologia, juventude, receptora de muitas das sugestões, combate ao tráfico humano, escolas comuns de formação, continuação dos encontros comuns, redes de comunicação transfronteiriças, entre muitas outras propostas que mostram que o processo sinodal tem plantado sementes de novos caminhos, que estão gradualmente se tornando concretos, o que nos permite continuar sonhando, vivendo com esperança.

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