O Papa Francisco faz continuamente um apelo a ser uma Igreja Samaritana, que cura as feridas daqueles que mais sofrem. Podemos dizer que a Igreja de Roraima está fazendo realidade o desejo do bispo de Roma, realizando um trabalho, por meio de pastorais, organismos, paróquias e áreas missionárias, que permite de algum modo diminuir o sofrimento dos imigrantes venezuelanos.
Entre os organismos e pastorais que trabalham no acompanhamento dos imigrantes cabe destacar o trabalho do Centro de Migração e Direitos Humanos – CMDH, administrado pela diocese, o Instituto para as Migrações e Direitos Humanos – IMDH, que depende das irmãs Scalibrinianas, o Serviço Jesuíta para os Migrantes e os Refugiados – SJMR e a Pastoral da Criança, do Migrante e a Cáritas.
Uma das grandes dificuldades encontradas pelos venezuelanos é obter documentos que lhes permitam estar no país e poder trabalhar. Até a semana passada só eram atendidas 40 pessoas por dia na Polícia Federal para emitir documentos. O número foi aumentado para 80 nos últimos dias, mas ainda é insuficiente para as mais de 500 pessoas que chegam todos os dias em Boa Vista.
Como reconhece Ronildo Rodrigues, do escritório do IMDH, eles tentam acompanhar os processos para que as crianças possam ter acesso à saúde e educação, destacando nas suas palavras o alto índice de crianças desnutridas, um aspecto que também aponta a irmã Telma Lage do CMDH, especialmente os indígenas warao. Outro problema é a presença de adolescentes e jovens sem documentos sozinhos nas ruas da cidade, o que favorece as várias formas de exploração e não torna possível encontrar trabalho de carteira assinada.
Desde o Serviço Jesuíta para os Migrantes e os Refugiados, onde também funciona Fé e Alegria, que acompanha diariamente 120 crianças imigrantes, o Padre Agnaldo Júnior diz que precisamos de um primeiro trabalho de escuta, aconselhamento e banir os mitos que acompanham os imigrantes e que criam um clima de medo entre eles. Após esse primeiro momento, desde o SJMR estão sendo realizados vários cursos de garçom, vigia, manicure, pedicure e português, entre outros, que podem incentivar a integração no mercado de trabalho.
Nesse sentido, os jesuítas fazem um trabalho de intermediação entre os empresários de todo o Brasil e imigrantes em busca de emprego, auxiliando no desenvolvimento do currículo ou entrevistas via Skype, sempre com quem tem carteira de trabalho para impedir a exploração, uma prática muito comum no estado de Roraima, onde muitos aproveitam a necessidade dos outros, chegando a pagar dez reais por um dia de trabalho ou apenas um prato de comida. Recentemente, o coordenador do escritório do SJMR foi ameaçado de morte por seu trabalho com os imigrantes e teve que deixar a cidade.
A cada dia aumenta o número de venezuelanos que querem voltar para a Venezuela, motivados por situações de extremo sofrimento, mães com filhos pequenos que passaram meses vivendo nas ruas por falta de espaço nos abrigos. Aqueles que vivem nas ruas cada dia sentem mais medo da reação da população local, pois a tensão cresce a cada dia, até o ponto de ter medo de falar espanhol na rua. Muitos deles se reúnem em barracos improvisados nas proximidades dos albergues, onde vivem em condições degradantes, esperando por uma vaga que dificilmente aparece.
A Pastoral do Migrante, formada por um grupo de umas dez pessoas, iniciou nos últimos meses um trabalho mais aprofundado diante da avalanche de imigrantes. A Irmã Valdiza Carvalho, insiste na necessidade de capacitação para o trabalho dentro das próprias comunidades católicas, onde nem todo mundo tem uma atitude de acolhimento aos imigrantes e existe xenofobia. É importante saber acolher o irmão que chega.
A religiosa scalibriniana diz que há um esforço conjunto com a Polícia Federal e o Exército para facilitar a carteira de trabalho, especialmente dos imigrantes que vivem fora da capital e muitas vezes têm que percorrer longas distâncias para chegar, que por outro lado supõe um alto custo. Por outro lado, estão realizando, em parceria com diferentes instituições, cursos de português, o que facilita o processo de integração dos imigrantes. Também destaca as celebrações da Eucaristia em espanhol em algumas paróquias e comunidades.
O trabalho da Cáritas está mais relacionado com o processo de interiorização no país, junto com outras Caritas de diferentes dioceses e com o apoio da Cáritas brasileira, dos Estados Unidos e da Cáritas Internacional. Este processo de interiorização acontece em três eixos, o primeiro seria o contato com a Igreja da Venezuela, o segundo o envio de imigrantes para diferentes partes do Brasil, onde são acolhidos e acompanhados pelas Cáritas diocesana e a geração de renda no próprio Estado de Roraima. Até agora, mais de uma centena de pessoas foram enviados com recursos da diocese, uma tarefa necessária levando em consideração o excesso de burocracia do projeto de interiorização desenvolvido pelo governo brasileiro e cujo objetivo principal é tirar os mais vulneráveis de Roraima.
Outro problema que sugerido pela Cáritas, é o de mulheres com crianças pequenas perambulando nas ruas. Um trabalho de abordagem está sendo realizado para favorecer um diálogo que possibilite a busca de alternativas. Nesse sentido, reconhece-se que um dos principais problemas sofridos pelos imigrantes é a falta de informação. Junto com isso, especialmente nas comunidades da Igreja Católica, é necessário realizar um trabalho de aproximação, criar laços e ajudar a uma integração mais rápida da população imigrante.