Era uma morte anunciada, que ele tinha assumido como próxima, após várias tentativas. Desde a serenidade que nascia da fé naquele que tinha sido condenado a morte injustamente, o Padre Josimo levou até o final aquilo que o sustentou ao longo dos seus 33 anos de vida, o amor aos mais pobres, que se fizeram presentes na sua vida nos pequenos agricultores expulsos de suas terras pelos grandes fazendeiros da região, os mesmo que encomendaram sua morte.
O Brasil estava saindo do tempo da ditadura, o sistema que hoje alguns querem de volta. Eram tempos similares aos que hoje vive um país onde, cada vez mais, os poderosos se sentem livres para agir fora da lei, amparados por um governo subserviente do poder econômico, que não respeita a Constituição e quer se erigir como o único poder, desrespeitando as instituições democráticas e insultando e denigrindo que o critica e enfrenta.
Mas a memória do Padre Josimo nunca morreu, ele continua vivo em todos os que hoje lutam pela terra, pela agricultura familiar, defendendo o direito a tirar da terra seu sustento. Também a Igreja faz memória dele todos os anos, organizando a Romaria da Terra e das Águas Padre Josimo, que em 2019 comemorou sua XVI edição.
Neste ano
Com a participação de diferentes convidados, está sendo um momento de reflexão e oração, tendo como pano de fundo aquilo que sempre determinou a vida do Padre Josimo, a luta pela terra e a defesa dos mais pobres. Inspirados na exortação do Papa Francisco sobre o Sínodo para a Amazônia, a reflexão teve como elemento inicial a situação pela qual o mundo está passando hoje, a pandemia da COVID-19, se questionando se depois do coronavírus tudo vai voltar ao normal, uma pergunta importante, pois a atual realidade está nos levando a refletir sobre a necessidade do cuidado, da Casa Comum e das pessoas, especialmente dos mais fragilizados.
Lutar nunca foi crime, mesmo que os que mandam se empenhem em colocar isso na cabeça do povo, também dos que são vítimas da opressão. Isso é sinal de um povo que resiste diante de um grade sofrimento, fruto de torturas e humilhações, uma realidade muito presente na vida do povo brasileiro, especialmente dos mais pobres, e que levou o padre Josimo a lutar contra todas as cercas.
Essa reflexão, presente na Semana da Terra e das Águas Padre Josimo, se enlaça com outro dos temas presentes, a escravidão, uma realidade ainda hoje presente no Brasil, às vezes de forma explícita, outras sob o amparo de leis injustas, como aquelas recolhidas na última reforma trabalhista, que acabou com muitos dos direitos conquistados ao longo de décadas, o que tanto está se manifestando no tempo atual de pandemia, que está deixando claro que os trabalhadores perderam seus direitos definitivamente.
As mulheres e os jovens são no Brasil atual dois dos coletivos que sofrem as consequências de uma sociedade cada vez mais marcada pela injustiça. Isso deve levar a refletir a partir dos seus sonhos e desafios, os mesmos que tem sustentado a luta de todos os que acreditam e creem que existe um Deus maior, que também sustentou a vida do padre Josimo. Como lembrava Xavier Plassat, da Comissão Pastoral da Terra do Tocantins, se referindo ao inspirador da semana, “ele teve que resistir a grandes poderes”. Ë por isso, que seguindo o espírito dos romeiros, o Padre Josimo continua alimentando as lutas, agora de modos diferentes, mas sempre com um mesmo objetivo, a defesa dos excluídos.