As experiências e desafios das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a análise de conjuntura do país marcaram ontem (sexta, dia 22) a programação do primeiro dia de seminário para assessoras e assessores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Com o tema “As CEBs e os desafios de ser Igreja no mundo urbano”, cerca de 45 pessoas participam do evento, que ocorre na Casa de Retiro Assunção, em Brasília. O seminário é organizado pelo Iser Assessoria e Setor CEBsda CNBB e se estende até domingo (23).
As experiências e desafios enfocaram, à tarde, realidades dos municípios de Mundo Novo (MS) e Cuiabá (MT) e da cidade-satélite de São Sebastião (DF). No primeiro, as CEBs chegaram no começo dos anos 80, voltando-se para a questão da terra e da leitura popular da Bíblia. Estimularam o/a leigo/a como protagonista de sua história, para atuar na igreja e na sociedade (sindicato, movimento social e partido político). Hoje em dia, há dificuldade de renovar lideranças por conta do modelo espiritualista de religião e dependência em relação aos padres.
“Mas temos uma luz: as CEBs cumprem o que prega o Papa Francisco, sendo uma Igreja em saída. Nossa presença é mais viva onde há luta social”, comentou Odete Aparecida de Souza, 47 anos, assessora do regional Oeste I, que atua em Mundo Novo, pertencente à Diocese de Navirai.
Maria da Costa Rossi, 51 anos, recordou dos anos 90, quando as CEBs em Cuiabá (MT) se faziam a partir de padres que andavam de bicicleta procurando o povo em ocupações urbanas, debaixo de lona, para fazer comunidade. As missas eram nas casas, havia Romaria das Trabalhadoras e Trabalhadores, Grito dos excluídos, parceria com a Pastoral da Juventude e movimentos populares. Hoje as iniciativas acabaram ou foram reduzidas e o trabalho se concentra mais nos grupos de reflexão. “Apesar disso há uma equipe que se esforça e tenta retomar a força das CEBs. Precisamos descobrir como chegar até a juventude”, observou Maria, que assessora o Regional Oeste II.
Já o padre redentorista Mário Rodrigues Paim, 68 anos, trouxe a experiência que está tendo na Arquidiocese de Brasília, em São Sebastião. A cidade possui histórico de CEBs e apoio da igreja, mas há dificuldade de assumir a caminhada atualmente. Tem 16 comunidades e o maior problema é a falta de escritura de terreno, além da precária infraestrutura, violência e desemprego. “Diante dessa realidade apostamos nos trabalhos sociais, grupo teatro, via sacra e agora queremos investir numa Caravana de Direitos Humanos”, pontuou Paim, assessor do Regional Centro-Oeste.
Conjuntura
“Crise”, “golpe” e “criminalização”. Essas palavras foram usadas por Carlos Daniel Seidel, 50 anos, da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, numa análise de conjuntura que ressaltou a gravidade do momento histórico no mundo. A crise aparece nos setores eclesial, social, político e econômico. Os golpes se dão a partir de deposições de governantes eleitos pelo voto popular, como no Brasil, Paraguai e recentemente na Coreia do Sul. E a criminalização se refere aos movimentos sociais. “Vivemos um momento de eliminação de direitos determinado pela reunião dos 28 maiores conglomerados empresariais do planeta, que investem numa nova onda de privatizações”, explicou.
Apesar disso, é necessário se opor a esta frente conservadora. E a melhor forma é construir um projeto popular de sociedade que leve em consideração um outro modelo de desenvolvimento, “baseado no bem-viver, que é a ideia de uma ecologia integral”.