Nos meus últimos tempos no ministério, na celebração de Corpus Christi, realizávamos uma pequena procissão para manter o costume e concentrávamos maior atenção na preparação de mesa da partilha. No final da celebração, do lado de fora da capela, na rua, montávamos uma grande mesa com quitutes mineiros: bolos, roscas, biscoitos, sucos e frutas.
Nesta mesa todos podiam participar, doando e compartilhando ou simplesmente se fartando. Catávamos “Pão em Todas as Mesas”, “Se calarem a voz dos profetas” e outros mais. Era uma grande festa da partilha, uma verdadeira Eucaristia ao estilo das parábolas do Reino. Sentíamos o Cristo presente na alegria do banquete, na doação e vida fraterna nas Comunidade Eclesiais de Base. Este nos parecia um sinal mais eficaz e verdadeiro de nossa fé. Uma expressão da Palavra proclamada no Evangelho de João, no Sinal da Partilha dos cinco Pães e dois Peixes. Em meus desenhos, sempre retrato este sinal, como evocação de uma nova economia baseada na partilha e solidariedade. Ela sim traz a vida, em contraposição à economia neoliberal, do egoísmo e individualismo que mata.
No Evangelho de João o tema do dinheiro aprece duas vezes, uma no contexto da expulsão dos vendilhões e outra na partilha dos pães peixes. Lá o gesto de Jesus denunciava a hierarquia do Templo que explorava principalmente os pobres oferecendo a eles, por dinheiros, os favores de Deus. E aqui, nos cinco pães partilhados, outra denúncia, a da economia. O pão, alimento e vida, só é recebido dentro da lógica do mercado mediante um preço. Por isso, o gesto de levar o povo para o deserto, num novo Êxodo, se completa no ensaio de nova Economia, baseada na doação do pouco e na fraterna partilha. Os pães de cevada eram o alimento dos pobres. O menino era o sinal dos pequenos do Reino, em seu gesto aponta para a nova humanidade solidária.
Por isso meus desenhos sempre trazem os Cinco Pães e Dois Peixes, sinais na Nova Economia Solidária, Eu-caristia, Boa Graça.