Junho é tempo de festa no Nordeste: Santo Antônio, São João, São Pedro, quadrilha, fogueira, milho, forró… E muitas comunidades camponeses celebram nesse período a Festa da Colheita. Aqui na Região do Vale do Jaguaribe, sertão do Ceará, tivemos três festas da colheita com comunidades acompanhadas pela Cáritas Diocesana: 19 de junho na comunidade de Baixinha (Potiretama); 26 de junho no assentamento Pedra Branca (Ibicuitinga); 29 de junho na comunidade Baixa do Juazeiro (Tabuleiro).
A Festa da Colheita é, antes de tudo, ação de graças pelos frutos da terra e do trabalho de homens e mulheres que, com resistência, criatividade e muito suor, tiram da terra o “pão de cada dia”. Mesmo vivendo numa região semiárida e de agronegócio – onde a terra e a água estão cercadas; onde o veneno contamina as pessoas, o solo, a água, o ar, as abelhas, a produção; onde as políticas públicas têm dois pesos e duas medidas (bolsa para os camponeses e política hídrica-ambiental-econômica para o agronegócio) – muitas famílias plantam e colhem uma variedade enorme de produtos: feijão, milho, batata, macaxeira, melancia, jerimum, frutas, verduras etc.
Embora a colheita seja sempre motivo de alegria (mesa farta, renda familiar, alimentos novos e saudáveis etc.), a Festa da Colheita é promovida por organizações camponesas que lutam por terra e água, que defendem seus territórios, que desenvolvem tecnologias e práticas alternativas de produção e comercialização. Em Potiretama, foi organizada pela Rede de Intercâmbio de Sementes. Em Ibicuitinga, pelas associações comunitárias. Em Tabuleiro, pelo coletivo Comunidades que Sustentam a Agricultura Familiar e por associações comunitárias. Sempre com o apoio de instituições parceiras na região: Cáritas Diocesana, Escola Família Agrícola Zé Maria do Tomé, Sindicato de Trabalhadores/as Rurais, Fórum pela Vida no Semiárido, paróquia.
Isso faz da Festa da Colheita celebração e fortalecimento da agricultura familiar e das organizações e lutas camponesas na região: tecnologias alternativas de produção, casas de sementes e rede de intercâmbio de sementes, coletivo produtivo “comunidades que sustentam a agricultura”, grupos de economia popular solidária, feiras populares, lutas em defesa do território (denúncias na imprensa e nos órgãos púbicos, mobilização de rua, audiência pública, mesas de negociação etc.). A Festa da Colheita dá visibilidade aos processos e lutas camponesas no território. É bonito escutar os relatos e testemunhos de lideranças locais; ver as fotos e imagens da produção e comercialização, dos encontros, das mobilizações; testemunhar o protagonismo de novas lideranças.
Nunca é demais destacar o aspecto comunitário da Festa da Colheita. É uma festa das comunidades e é uma festa comunitária. Tanto em sua preparação, quanto em sua realização. A preparação fica por conta das organizações e lideranças camponesas: dia, local, espaço, programação, mobilização. Já a realização envolve muitas famílias na preparação e partilha dos alimentos e reúne muita gente da comunidade local e da região. No centro da festa está a grande mesa da partilha. Cada família leva algum alimento. É muita fartura! E o ambiente descontraído e alegre de conversas, risos, música, dança, comida e animação das crianças fortalece ainda mais os laços comunitários.
Por fim, essa festa tem uma dimensão espiritual e eclesial muito importante: ação de graças a Deus pelos frutos da colheita, fortalecimento dos vínculos fraternos e das lutas por direito. Tudo isso é fruto do trabalho e da luta cotidiana de homens e mulheres. Mas é também dons de Deus e obra de Deus em nós e através de nós. A Festa da Colheita tem sempre um momento de oração. Em Potiretama foi a benção dos alimentos. Em Ibicuitinga foi uma celebração eucarística. E em Tabuleiro foi uma bonita celebração ao redor da grande mesa da partilha. A oração do Pai Nosso e a benção e partilha dos alimentos expressam bem a ação de graças a Deus, a dimensão fraterna e comunitária da fé e a missão de construir um mundo mais justo e solidário.
Na Festa da Colheita, celebramos e compartilhamos muitos frutos: alimentos, saberes, vida comunitária, consciência, organização, lutas e conquistas, lideranças, fé, esperança… Tudo isso fortalece a resistência e as lutas camponesas. Anima a continuar semeando, colhendo e compartilhando…