“Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua sob seus pés … estava grávida e gritava entre as dores de parto, atormentada para dar à luz.” (Ap 12,1-2). Contemplo a visão e deixo meu coração voar… mulher, vida, ameaça, conflito, a terra, deserto vão em socorro da mulher, salvam a criança… mulher, criança, vida, esperança, utopia…
E o coração contempla e se deixa tocar, a memória acorda: “Frequentemente, o anúncio de Cristo era feito em conivência com os poderes que exploravam os recursos e oprimiram as populações. Em contrapartida atualmente, a Igreja tem oportunidade histórica de se diferenciar das novas potencias colonizadoras, ouvindo os povos da Amazônia para exercer sua atividade profética com transparência.” Esta palavra nos convoca individualmente e, como mães, esposas, irmãs, amigas, educadoras, catequistas, profissionais, a “agir frente à crise socioambiental sem precedentes”, a uma “conversão ecológica”. Atitude que suscita sentimento de gratidão e adesão ao caminho apontado pelo Sínodo da Amazônia.
E o coração contempla e recorda: “No mundo indígena e ocidental, é a mulher que trabalha em múltiplas facetas, na instrução das crianças, na transmissão da fé e do Evangelho, são testemunhas e presença responsável na promoção humana, por isso é solicitado que a voz das mulheres seja ouvida, que elas sejam consultadas, participem das tomadas de decisões e, portanto, possam contribuir com sua sensibilidade à sinodalidade eclesial.” Mas, ainda uma vez aos grandes proclamas que a mulher assuma sua liderança na Igreja e seja reconhecida a ministerialidade que Jesus confiou as mulheres, o caminho marca o passo e, se fala de criar um ministério ‘ad hoc’, talvez aquele de coordenadora de comunidade. Ministério que na realidade na Amazônia já é exercido por muitas mulheres. Ministério que na realidade mais uma vez vem a enfatizar a discriminação.
No atual modelo de Igreja os ministérios ordenados, inclusive o diaconato permanece inacessíveis às mulheres. E, se por acaso forem abertos correm o risco de ser clericalizados. Parece que esquecemos que o Espirito/Ruah voa livre, aonde quiser suscitando vocação ao serviço ministerial que de fato pode alcançar as batizadas.
Na escuta em preparação ao Sínodo da Amazônia havia uma corajosa proposta de mudança de visão na evangelização e também durante o Sínodo escutamos vozes neste sentido. Nova visão que apontava para uma conversão no modelo de Igreja, vozes que manifestavam a vontade de restituir o ministério às mulheres. Sim restituir porque as evidências históricas e bíblicas atestam a presença ministerial da mulher na igreja primitiva. Restituir, escutando a voz que das comunidades amazônicas saem pedindo o reconhecimento de uma realidade já em ato, dando resposta a exigências concretas vividas pelas mesmas comunidades.
Parece não bastar!
Quando se trata da mulher não há motivações suficientes para derrubar o muro da desigualdade, como se a igualdade que jorra no comum Batismo não fosse suficiente. É difícil acreditar que a dignidade da mulher seja preciosa para Igreja, quando se teme e não se quer partilhar o serviço ministerial, reiterando o privilegio masculino.
Faz notícia que em vários lugares do mundo as mulheres abandonam a prática religiosa mais do que os homens e, um dos motivos é o não reconhecimento da igualdade nas estruturas eclesiais.
Há poucos dias uma amiga italiana me escrevia: “Esperávamos que do – fim do mundo, – pela força das nossas corajosas irmãs da Amazônia, um vento novo soprasse até nós, o vento renovador da corresponsabilidade e do caminhar juntas, uma ao lado dos outros. Ainda não! Foi mais uma oportunidade perdida? A quem nos convida a pacientar respondemos que etimologicamente a paciência nos remete a uma situação patológica, doente, que provoca sofrimento. Uma situação da qual é legitimo desejar sair. Amando a Igreja, persistimos em pedir. Porque uma Igreja que não reconhece igual dignidade aos próprios filhos e filhas, inexoravelmente perde a credibilidade quando apela para o reconhecimento da dignidade dos povos e da casa comum”.
15 de agosto de 2021, Festa da Assunção de Nossa Senhora. Festa do verbo esperançar. Uma Mulher é sinal: já vive no céu novo e terra nova. Mulheres na Amazônia são sinais de presença que já nos fazem vislumbrar o Novo Rosto da Igreja da Amazônia, da Igreja Universal. Festa que faz despontar a interrogação: a Assembleia Eclesial Latino Americana e o Sínodo da Sinodalidade permitirão ao Espirito/Ruah voar livre?