XIV Encontro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Taiobeiras, norte de Minas Gerais

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são na igreja e na sociedade sinal de fé cristã e libertação. Na sua caminhada profética e missionária, as CEBs defendem vida digna para todos/as, justiça e direitos iguais. Que o acesso à terra, à água, ao alimento, à saúde e à educação de qualidade seja para todos/as. Assim como o direito de ir e vir, trabalhar e se divertir, direito de conviver com a família, comunidade e sociedade.

Inspirados pela palavra que nos convoca para o compromisso cristão e chamados a ser igreja em saída, as CEBs da Paróquia São Sebastião de Taiobeiras realizam domingo, dia 28 de julho de 2019, o 14º Encontrão com o tema: “CEBs e Políticas Públicas – Vida e Dignidade no Campo e na Cidade”. Participaram mais de 400 pessoas vindas das Comunidades Eclesiais de Base de Taiobeiras, Indaiabira, Salinas, São João do Paraíso, Novorizonte e Rio Pardo de Minas.  

Celebramos os 30 anos de caminhada de nossas CEBs aqui do município de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, na Arquidiocese de Montes Claros. Foram recordadas a vida e a história de nossas comunidades e de tantas pessoas que participaram da construção desta história conduzindo a bandeira das CEBs e os Roteiros de Reflexão que motivaram e continuam motivando os Círculos Bíblicos e a organização das comunidades ao longo dos últimos 30 anos.

Celebramos também o dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural. Mulheres e Homens incansáveis, que, com carinho, cultivam a terra e produzem o alimento para o sustento das famílias do campo e da cidade. O encontro teve inicio na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Taiobeiras e seguimos em marcha passando pelos bairros Nossa senhora de Fátima e Santos Cruzeiro até o Centro de Formação São Sebastião, onde continuamos o 14º Encontrão das CEBs. Tivemos a alegria de contar com a assessoria de Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional dos Leigos do Brasil; do frei Gilvander Luís Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT); e do Artista Popular Sebastião Estevão, nosso querido Farinhada. Estiveram presente as Irmãs religiosas da Paróquia de Taiobeiras e da Paróquia Santo Antônio, de Salinas, também representantes do movimento sindical, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Geraizeiro, Escola Família Agrícola (EFA) Nova Esperança, associações e mandatos populares. Foi um marcante momento de celebração, formação e animação com apresentações culturais envolvendo os jovens e o grupo cultural “As Mineirinhas”, inclusive.

 “Estamos muito felizes, com a presença de todos. Somos CEBs, povo corajoso. Hoje é um dia muito importante: 30 anos de Caminhada das CEBs na Paróquia de Taiobeiras e celebrando o dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. Era para ser um dia de pura alegria, mas vivemos as tristezas pelas perdas de grandes conquistas sociais. Somos convidados a sermos como o Trem das CEBs que anda pra frente, lembrando que precisamos caminhar com um olho na Bíblia e outro na vida”, disse Geraldo Caldeira Barbosa, diretor do STR de Taiobeiras.

Nossa assessora Sônia refletiu conosco, entre tantas que coisas que “é com grande alegria que nos reunimos mais uma vez neste chão, neste turrão norte mineiro. Para refletir sobre Espiritualidade das CEBs. Poderíamos começar perguntando: O que é espiritualidade? Espiritualidade é o que estamos vivendo aqui hoje, que fala da vida, da realidade, embasadas na Palavra de Deus, no direito e na Justiça. Quando falamos de espiritualidade falamos de Deus que caminha conosco. A espiritualidade das CEBs tem Bíblia na mão e na vida. As músicas das CEBs falam da vida em comunidade. A espiritualidade das CEBs não deve se comparar a samambaia, nem ao abacaxi, nem ao abacate. Precisamos assumir em nossas vidas a espiritualidade modelo laranja, Igreja organizada com muitas comunidades, dentro do mundo como as sementes dentro da laranja. Tudo junto, gosto e sabor. Precisamos ter a espiritualidade de Jesus Cristo, que não fez distinção de ninguém, juntamente com o grande incentivador de uma Igreja em saída, o Papa Francisco. As celebrações de nossas igrejas nem sempre trabalham a realidade.  A ausência de saúde, água e políticas públicas clamam, pois se não estava bom, agora se tornou pior. Devemos ter cuidado com a maneira em que usamos o nome de Deus. Concluiu com musica “ninguém solta a mão de ninguém.”

Frei Gilvander, outro assessor nosso, iniciou sua fala dizendo: “Dia é tempo de luz. Noite é tempo de trevas. As palavras dia e Deus parecem, são primas irmãs. Logo, dizer ‘bom dia’ é dizer ‘bom Deus”. Precisamos trabalhar uma sociedade que valorize a gratuidade. Destacou quatro pontos necessários para se ter Políticas Públicas: 1) Superar o medo e encher-nos de Coragem e Fé; 2) Honrar Jesus Cristo, mártir e preso político na sua época; honrar os antepassados; 3) Lutar por justiça, atacando o mal pela raiz. Não basta sermos pessoas solidárias; 4) Devemos ser parecidos com o Bom Pastor do Evangelho de João (Jo 10), que, por amor ao próximo convida o rebanho para sair do redil (curral) e ir para campo aberto em vida de pastagens abundantes, o que passa pela luta por direitos, por cidadania. Infelizmente, a maioria dos líderes religiosos, atualmente, sejam padres ou pastores, estão convidando o povo para ficar entocado dentro das igrejas. Assim, estão sendo falsos pastores. O correto é convidar o povo para ‘para fora’ para o espaço do público e lutar pelos direitos, associando as dimensões espiritual e social da fé cristã. Precisamos colocar em prática o Jesus da missão toda, primeira parte solidária, curas partilhas, misericórdia, compaixão; a segunda, luta por justiça e denúncia das injustiças. O Medo é o contrário de Fé. Sinônimo de fé é coragem.  Ótimo remédio para vencer o medo é participar de lutas concretas. “Povo unido jamais será vencido. Povo organizado jamais será pisado.”

O momento da partilha dos alimentos, na hora do almoço, nos fez recordar a partilha dos pães, narrado no Evangelho de Lucas 9,10 -17 e também em Mateus, Marcos e Lucas. O alimento vindo das comunidades e trazido gratuitamente foi suficiente para alimentar mais de 400 pessoas e ainda sobrou “12 cestos”.  O mesmo se deu na partilha dos 30 bolos que as comunidades trouxeram para a festa dos 30 anos de história e caminhada das CEBs na paróquia em Taiobeiras. A partilha não acontece somente no alimento, mas também na luta em defesa dos Direitos Humanos fundamentais. Neste sentido foi elabora, lida e aprovada uma carta em defesa do Quilombo Lapinha, município de Matias Cardoso, no norte de Minas Gerais, onde 170 famílias se encontram injustamente ameaçadas de despejo. A Carta propõe a suspensão do despejo até que seja encaminhada Negociação série e idônea na Mesa de Mediação de conflito do Estado de Minas Gerais.

O encontro teve o encerramento marcado pela celebração participativa da Eucaristia com muita animação com entrada dos vagões do Trem das CEBs, bandeiras de todas as comunidades, os bolos como oferta, fruto do trabalho e da mãe terra e a imagem da mãe Aparecida que nos inspira, protege e nos impulsiona para a luta em defesa dos empobrecidos – os preferidos do Deus da vida -, cumprindo a profecia do Magnificat: “Ele agiu com a força de seu braço, dispersou os arrogantes de coração; derrubou dos tronos os poderosos e exaltou os humildes; encheu de bens os famintos e despediu os ricos sem nada” (Lc1,51-53).

Durante o Encontro foi homenageado o Padre Ernesto de Freitas Barcelos.

 Na porta do céu / Tira esse avental / E entra logo Ernesto / Camarada justo e fiel /A casa é tua / Descansa / E não me leves a mal: Da voz rouca / Da pouca saúde da perna / Da viagem breve / Do peso (leve) / Do preço (caro) da coerência / E da licença pra partir.

(Poesia escrita pelo Padre Antônio Claret)

Taiobeiras, norte de MG, 28 de julho de 2019.

Sair da versão mobile