De 9 a 12 deste mês de julho/24 aconteceu na PUC Minas, em Belo Horizonte -na modalidade presencial e online – o 36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), cujo tema foi: Economia e Inteligência Artificial: Desafios à Sociedade e à Religião.
Os subtemas do Congresso foram:
- Inteligência Artificial: das técnicas às implicações sociais;
- Política Econômica e Democracia participativa em tempos digitais;
- Pós e Transumanismo: questões teológicas;
- Desenvolvimento tecnológico e qualidade de vida: realces;
- A Comunicação entre interesses econômicos e serviços à construção social;
- A utopia religiosa da Casa Comum e desafios da economia global;
- Considerações sobre o 36º Congresso Internacional da SOTER.
O tema e os subtemas, muito atuais, foram tratados e aprofundados por Professores/as Universitários/as – Doutores/as em diferentes áreas do Conhecimento – com a contribuição, nos debates, de membros do Congresso. O conteúdo das Conferências e Palestras foi abrangente e muito valioso.
Como sócio da SOTER e participante online do Congresso, parabenizo – na pessoa da presidente da Sociedade, Dra. Clélia Peretti – a Equipe de Coordenação e todas as Equipes de Serviços. Foi muito bom! Valeu a pena!
No intuito de colaborar, permito-me fazer agora – no espaço de um artigo – algumas reflexões críticas construtivas.
Por ser o Ser humano histórico – situado (no espaço) e datado (no tempo) – toda Práxis humana (Prática e Teoria dialeticamente unidas) não é neutra, mas tem lado.
A questão da “não-neutralidade” ou da “não possibilidade da indiferença social” (socioeconômica, sociopolítica, socioecológica, sociocultural e sociorreligiosa) refere-se a todos os momentos do processo do Conhecimento: comum (a maioria dos nossos Conhecimentos, mesmo dos Cientistas, são do Conhecimento comum), científico, filosófico e teológico.
Devido, porém, ao extraordinário desenvolvimento das Ciências, a questão da não-neutralidade é particularmente sentida e debatida quando se trata do Conhecimento científico em sentido estrito (em sentido lato, todo conhecimento metódico e sistemático é conhecimento científico).
Ora, a “não-neutralidade” do Conhecimento refere-se não somente ao uso que se faz do Conhecimento (crítica externalista), mas também ao contexto específico do Conhecimento, ao próprio ato de conhecer (crítica internalista). Elimina-se, assim, a separação entre conhecer e valorar ou entre saber e agir. Mostra-se que o Conhecimento é Fato social (socioeconômico, sociopolítico, socioecológico, sociocultural e sociorreligioso).
O Conhecimento filosófico e teológico é – podemos dizer – o horizonte no qual o Conhecimento científico ganha profundidade de sentido (Filosofia e Teologia das Ciências).
A Filosofia e a Teologia da Libertação partem sempre do Ser humano histórico, mesmo sabendo que o Ser humano é também um Ser meta-histórico: “já-e-ainda-não” neste mundo (passando de uma situação de vida menos humana para uma situação de vida mais humana) e “além-da-morte” na Eternidade (Plenitude da Vida, Páscoa definitiva).
As palavras “da Libertação” são um lembrete: elas nos recordam que a Filosofia, a Teologia e as Ciências da Religião – para serem humanas e, portanto, éticas – devem ter lado: o dos Pobres (empobrecidos, marginalizados, explorados, oprimidos, excluídos e descartados).
Portanto, a Opção pelos Pobres não é “preferencial” (uma Opção entre duas ou mais possiblidades), mas é o Caminho que leva à Vida. Jesus de Nazaré entrou nesse Caminho desde o seu nascimento como “sem teto” na manjedoura até a morte na Cruz. Todos e todas – inclusive os ricos – são convidados/as a entrar no Caminho que leva à Vida. Um exemplo: no Evangelho – convidados por Jesus – Zaqueu, homem rico, partilhou seus bens e entrou nesse Caminho; o jovem rico não teve a coragem – ao menos naquele momento – de fazer o mesmo e foi embora triste.
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). “Eu vim para que todos e todas tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Como Cientistas da Religião, Filósofos e Teólogos da Libertação, devemos testemunhar com a vida – prática e teórica – que a nossa Opção é a Opção pelos Pobres, que o nosso lado é o lado dos Pobres. Por isso, o ponto de partida e o eixo central (a espinha dorsal) de todo Encontro e Congresso de Ciências da Religião, Filosofia e Teologia deve ser a Opção pelos Pobres. Meditemos!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Goiânia, 15 de julho de 2024