Por Roberto Malvezzi (Gogó)
O melhor critério para avaliar o atual governo, que compreende todos os envolvidos no golpe de 2015, é a fome. São mais de 100 milhões de brasileiros em insegurança alimentar e 19 milhões na miséria absoluta. Ao sepultar o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) o atual governo também ressuscitou a sede.
Podemos trazer junto os irmãos siameses da fome, como a invasão dos territórios ancestrais, o desemprego, a derrubada da legislação trabalhista retirando as garantias mínimas ao trabalhador, a desindustrialização, quem sabe alguma contribuição da pandemia, embora ela esteja no mundo inteiro e só aqui o desemprego e a fome tenham avançado em números tão altos. Faz parte desse rosário a destruição dos bens naturais desse país.
A fome não rouba o sono dos donos do poder. Foi atribuída a Josué de Castro a famosa frase: “metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come””. Millôr Fernandes ironizou a frase de Josué: “metade passa fome, metade faz regime”. Convenhamos, Millôr estava certo.
Voltaram os pedintes, os flanelinhas dos faróis, cresceu o povo de rua, gente furtando comida, gente disputando ossos nos lixões ou desmaiando de fome nas filas do país. Quem passou a vida na luta pela superação da fome, da sede e da miséria, literalmente a luta por um copo de água limpo e um bom prato de comida, evidentemente todos os dias sente a amargura da derrota. Nesse momento da história, fomos vencidos. Mas, a derrota real é dos que passam fome.
Jesus disse bem-aventurado porque “tive fome e me destes de comer” (Mt 25,35). E amaldiçoada porque “tive fome e não me destes de comer” (Mt 25,42). Portanto, esse é o critério último do julgamento religioso-ético-político de um governo. Há nessas frases uma dimensão sociopolítica, não só individual.
Esse é o Evangelho da Fome.