A questão da “sinodalidade” na Igreja | Parte 2

Motivados pelo novo Sínodo (outubro de 2021 – outubro 2023) com o tema “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão“, na 1ª parte deste artigo refletimos sobre o que é “sinodalidade”.

Na 2ª parte, vamos refletir sobre os pilares da sinodalidade: comunhão, participação e missão.

“Deve-se revalorizar entre nós a imagem cristã dos seres humanos”, destacando a liberdade como valor fundamental. “Esta liberdade é a um tempo dom e tarefa. Ela não se alcança verdadeiramente sem a libertação integral e é, em sentido válido, meta do ser humano segundo nossa fé, uma vez que ‘para a liberdade é que Cristo nos libertou’ (Gl 5,1) a fim de que tenhamos vida e a tenhamos em abundância, como ‘filhos/as de Deus e co-herdeiros/as do próprio Jesus Cristo’ (Rm 8,17)” (Documento de Puebla – DP 321).

Ora, “a liberdade implica sempre aquela capacidade que todos temos, em princípio, de dispor de nós mesmos, a fim de irmos construindo uma comunhão e uma participação que hão de se plasmar em realidades definitivas” (DP 322). Isso acontece em três planos inseparáveis: a relação do ser humano com o mundo como cuidador (jardineiro), com as pessoas como irmão/ã e com Deus como filho/a (cf. ib.).

Portanto, é através da unidade indissolúvel desses três planos que “aparecem melhor as exigências de comunhão e participação que brotam desta dignidade. Se no plano transcendente se realiza em plenitude nossa liberdade pela aceitação filial e fiel de Deus, entramos em comunhão de amor com o mistério divino e participamos de sua própria vida. O contrário é romper com o amor filial, repelir e desprezar o Pai. São duas possibilidades extremas  que a revelação cristã chama graça e pecado” (DP 326): graça individual e graça social ou estrutural; pecado individual e pecado social ou estrutural.

“O amor de Deus que nos dignifica radicalmente se faz necessariamente comunhão de amor com os outros seres humanos e participação fraterna; para nós, hoje em dia, deve tornar-se sobretudo obra de justiça para com os oprimidos, esforço de libertação para quem mais precisa. De fato, ‘ninguém pode amar a Deus a quem não vê, se não ama o irmão a quem vê’ (1 Jo 4,20). Todavia a comunhão e a participação verdadeiras só podem existir nesta vida projetadas no plano bem concreto das realidades temporais” (DP 327). 

Como Igreja somos chamados a continuar a missão de Jesus de Nazaré no mundo de hoje. “A missão evangelizadora é de todo o Povo de Deus. Esta é sua vocação primordial, ‘sua identidade mais profunda’ (Evangelii Nuntiandi – EN 14). É a sua felicidade. O Povo de Deus com todos os seus membros, instituições e planos existe para evangelizar. O dinamismo do Espírito de Pentecostes anima-o e envia-o a todos os povos. Nossas Igrejas particulares hão de escutar, com renovado entusiasmo, o mandato do Senhor: ‘Ide, pois, e fazei discípulos meus todos os povos’ (Mt 28,19)” (DP 348).Precisamos nos tornar cada vez mais uma “Igreja em saída”.

A Opção pelos Pobres, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a Teologia da Libertação são as três marcas que constituem a identidade do modelo de Igreja que surgiu no contexto da Conferência de Medellín.

A Opção pelos Pobres (Empobrecidos, Marginalizados, Oprimidos, Excluídos e Descartados) indica o caminho que devemos seguir para sermos a Igreja de Jesus de Nazaré: uma Igreja a partir da “manjedoura” e de tudo o que ela significa hoje.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são Comunidades “encarnadas” na vida do povo, são um jeito novo e, ao mesmo tempo, antigo de ser Igreja. São “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” ou “a célula inicial da estrutura eclesial” (Medellín, XV, 10), que transformam a Paróquia em “um conjunto pastoral unificador das Comunidades de Base” (ib. 13). 

A Teologia da Libertação é a leitura – análise e interpretação – à luz da Palavra, que as Comunidades cristãs e seus teólogos, fazem da Práxis (Prática e Teoria) de Libertação.

O método (caminho) utilizado é “ver, julgar, agir” (analisar, interpretar e libertar) e celebrar (cf. Clodovis Boff. A originalidade histórica de Medellín). 

E nós? Qual é o nosso modelo de Igreja? Que Igreja queremos ser? A comunhão e a participação são uma realidade concreta ou são só palavras? Em nossa missão, assumimos o lado dos pobres? Somos de verdade seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré?

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