As CEBs e a Fratelli Tutti de Francisco

Acabei de ler a última Carta Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti (Todos Irmãos). Fiquei maravilhado!

Ouso dizer que é a melhor complementação para a Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II (1962-1965), sobre o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo.

Francisco opta, enfaticamente, por um “giro linguístico”: deixa de lado a retórica essencialista, de conceitos abstratos-metafísicos típicos de setores católicos pré-modernos, e incentiva a “pragmática” do diálogo, da busca de consensos, tendo a dignidade de toda a pessoa humana como referência valorativa fundamental.

Para isso, o documento reabilita a mediação política como recurso fundamental para a promoção da fraternidade e da amizade social, com uma forte referência aos direitos humanos e a finalidade de fundo só será alcançada se estes estiverem no centro.

Ao ler a Carta, não deixei de imaginar a contribuição real das CEBs para a sua realização. Por isso escolhi alguns pequenos trechos onde nossas comunidades se fazem relevantes neste projeto que é, simultaneamente, “local e global”.

“8. Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: ‘Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (…); precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos!’ (…)”.

“36. Se não conseguirmos recuperar a paixão compartilhada por uma comunidade de pertença e solidariedade, à qual saibamos destinar tempo, esforço e bens, desabará ruinosamente a ilusão global que nos engana e deixará muitos à mercê da náusea e do vazio. (…)”

“53. Esquece-se de que ‘não há alienação pior do que experimentar que não se tem raízes, não se pertence a ninguém. Uma terra será fecunda, um povo dará frutos e será capaz de gerar o amanhã apenas na medida em que dá vida a relações de pertença entre os seus membros, na medida em que cria laços de integração entre as gerações e as diferentes comunidades que o compõem, e ainda na medida em que quebra as espirais que obscurecem os sentidos, afastando-nos sempre uns dos outros’”.

“67. (…) A parábola [do Bom Samaritano] mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum. (…)”.

“152. Nalguns bairros populares, vive-se ainda aquele espírito de ‘vizinhança’ segundo o qual cada um sente espontaneamente o dever de acompanhar e ajudar o vizinho. Nos lugares que conservam tais valores comunitários, as relações de proximidade são marcadas pela gratuidade, solidariedade e reciprocidade, partindo do sentido de um ‘nós’ do bairro”.

São apenas alguns números do documento que escolhi para partilhar com vocês, mas penso que nossas comunidades deveriam se apropriar deste texto, juntamente com a Evangelli Gaudium e a Laudato Si, como um programa de ação.

Leia o primeiro artigo de Sérgio Coutinho através do link: https://portaldascebs.org.br/2020/10/27/e-as-comunidades-de-base-como-vao-as-cartas-do-pe-comblin-de-1976/

 

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