Campanha da Fraternidade Ecumênica – 2021 O Diálogo Amoroso nos caminhos de Emaús

Como já conversamos na Coluna anterior, neste ano de 2021 teremos, durante o tempo litúrgico da Quaresma, a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE-2021). A Comissão do CONIC escolheu como Tema da CFE 2021 “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. O Lema, tirado da Carta aos Efésios, é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). O Objetivo Geral da CFE 2021 é convidar as comunidades de fé e as pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, através do diálogo amoroso testemunhando a unidade na diversidade. Esta proposta de um diálogo amplo e desarmado como caminho de superação da violência e de construção de relações para a prática do Amor está fundamentada biblicamente no episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Hoje vamos conversar sobre isto.

O texto de Lucas narra um encontro de Jesus com dois amigos, dois discípulos, na tarde do dia da Páscoa. Este encontro acontece na estrada que leva a Emaús, uma pequena cidade. O texto mostra que os discípulos estão com medo, muito medo. Contrariando as recomendações de Jesus (cf. Lc 24,49), eles estão fugindo de Jerusalém, da comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. Estão vivendo uma situação de fuga, de descrença, de desânimo. Eles se desencantaram com Jesus e com a proposta dele. Uma proposta que, um certo dia, os levou a sair de Emaús e a trilhar o caminho com Jesus. Só que este caminho os levou até o mistério da cruz. E eles não estavam preparados para isto. A morte de cruz matou neles a esperança. Com medo da cruz e da perseguição, resolveram fugir.

Sabemos que um deles se chama Cléofas. Não sabemos o nome do outro. Mas, como o texto evangélico nos informa que este Cléofas era casado e que sua mulher se chamava Maria (cf. Jo 19,25), podemos deduzir que no caminho da desobediência e da fuga para Emaús estava um casal de discípulos: Cléofas e Maria. Então Jesus se aproxima e começa a caminhar com eles. Através da prática de um diálogo amoroso, Jesus quer levá-los a vencer o medo, se reencantar com a mensagem do Evangelho e trazê-los de volta para a comunidade. Uma tarefa nada fácil.

O ponto de partida de Jesus é fazer-se de ignorante, de bobo. Ele começa a conversa provocando e perguntando: “do que é que vocês estão falando?”. Eles ficam admirados com a ignorância dele. Como é que um peregrino que veio para a Páscoa não sabe o que aconteceu na cidade nestes últimos dias? E Jesus confirma que não sabe de nada, inocente. E pede: “contem para mim!”. Eles então se abrem e contam todos os acontecimentos relacionados a Jesus. Seu julgamento, sua paixão, morte e sepultamento. E concluem desesperados e frustrados: “Nós esperávamos que ele fosse o libertador, mas…” (cf. Lc 24,21).

Segundo Lucas, este seria o primeiro passo para iniciarmos um diálogo amoroso: aproximar-se das pessoas, principalmente as cansadas, desesperadas, frustradas e desencantadas com a fé, com a política, com a economia, com a pandemia. Saber escutar as diferentes realidades da vida delas, os problemas que invadem o cotidiano e que, por vezes, dificultam a fé nas Palavras de Jesus. Saber fazer as perguntas certas para que elas possam desabafar suas angústias, medos e frustrações. Manter uma conversa que ajude as pessoas a olhar a realidade com um olhar mais crítico. Entender as dificuldades é um primeiro passo para enfrentá-las e superá-las.

Continuando sua conversa com o casal, Jesus começa então a usar a Bíblia. Não para dar aulas ou fazer cursinhos que encham a cabeça das pessoas com informações inúteis ou, pior ainda, a decorar determinados versículos para serem usados em ocasiões propícias. Jesus usa a Bíblia para iluminar a situação crítica que fazia sofrer aquele casal. O texto bíblico serve para clarear a situação pela qual eles estavam passando naquele momento. Jesus busca situá-los dentro do mistério de Deus que passa pela cruz de Jesus. Olhar para a dinâmica do projeto de Deus, mostrando que a história não tinha escapado das mãos de Deus, apesar do episódio do Calvário. Por mais que os fatos contrariassem esta impressão, a cruz aconteceu “conforme as Escrituras”. Assim, com a ajuda da Bíblia, Jesus transforma os fatos que nos parecem sinais de morte em sinais de vida e de esperança. Tudo aquilo que nos impede de caminhar, a Palavra é capaz de transformar em força e em luz para a caminhada.

Mas a Bíblia, por si mesma, não é capaz de abrir os olhos das pessoas. Apenas faz arder o coração (cf. Lc 24,32). O que na verdade abre os olhos e faz aquele casal perceber a presença de Jesus é a atitude corajosa deles em acolher e dar abrigo ao desconhecido que caminhava com eles nas estradas de Emaús. Acolher o desconhecido é partilhar com ele a refeição, a casa, a segurança. O que abre os olhos é a partilha. Tanto a partilha que Jesus faz da Palavra ao longo do caminho, quanto a partilha do pão oferecido por Cléofas e Maria. Esta partilha amorosa os levou a descobrir a presença do Ressuscitado no meio deles.

No momento em que é reconhecido, Jesus desaparece. Sua presença física não é mais necessária. Agora Cléofas e Maria experimentam neles mesmos a ressureição, a vida nova que os faz renascer, a reencantar e a caminhar de volta para Jerusalém, para a comunidade. Jesus agora está neles. O diálogo amoroso no caminho de Emaús criou um ambiente orante de fé, de partilha, de fraternidade onde pode atuar o Espírito Santo. O mesmo Espírito que nos faz entender o verdadeiro sentido das palavras de Jesus e a descobrir o Ressuscitando no meio de nós, cada vez que partilharmos do mesmo pão e do mesmo cálice.

 

 

 

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