Desafios da Formação nas CEBs

Na coluna anterior conversamos sobre o tema da Formação nas CEBs ao longo de sua existência. Agora queremos refletir sobre os desafios e dificuldades destes processos formativos.

É com a bagagem teológica do Concílio do Vaticano II, com a eclesiologia de comunhão de todo o Povo de Deus, que cristãos leigos e leigas reconhecem e denunciam o clericalismo, a centralização e o autoritarismo de muitos clérigos. Estes, mais recentemente, têm sido formados numa perspectiva diferente, mais característica do período pré-conciliar. Temos estado algumas vezes diante de cristãos leigos e leigas que têm formação teológica mais sólida que a de certos presbíteros. Este descompasso causa tensões e, às vezes, afastamentos.

Outro campo de dificuldades é que muitas pessoas das CEBs são impedidas de participar de atividades formativas por falta de recursos para deslocamentos, pela intensa jornada de trabalho a que são submetidas, ou por questões familiares. Em especial as mulheres têm mais restrições para frequentar cursos intensivos, que exigem viagens ou pernoites fora de casa, pelos cuidados com a família e/ou por atitudes machistas de seus parceiros. E, em geral, jovens também necessitam de apoio financeiro para ter acesso a estas formações.  Nem sempre as paróquias e comunidades podem ou se dispõem a arcar com estas despesas.

Uma contradição é que em certas realidades são sempre as mesmas pessoas que têm disponibilidade ou oportunidade de participar de atividades de formação. E isso acaba por criar uma “elite” melhor formada nas CEBs. Algumas destas pessoas passam a se considerar melhores que as outras da comunidade, e até se distanciam da “base”. Também há animadores/as que têm atitudes autoritárias. Tudo isso é um sério limite à equidade, à fraternidade, à sororidade e à democracia no próprio interior das comunidades. Aliás, a temática dos relacionamentos humanos no seu interior é uma das lacunas nos processos de formação das CEBs.

Por outro lado, muitas das propostas de formação foram feitas (e continuam sendo) “para as CEBs”, e não “com as CEBs”. Sem ouvir a opinião daqueles e daquelas a quem estas propostas se destinam.  Isso deu e dá origem a programas de formação que não dialogam com as necessidades do grupo, com a realidade concreta das comunidades, formulados de cima para baixo. E com pouca eficácia. Este fenômeno expressa uma das faces de práticas pouco democráticas de agentes de pastoral em relação às pessoas das CEBs, mesmo quando são formações realizadas com as melhores intenções. Nada mais distante da pedagogia freireana.

Também é preciso abordar outra gama de dificuldades e desafios. Mesmo buscando meios dialogais e incorporando músicas, poesias, fotografias, filmes, algumas vezes a formação nas CEBs assumiu uma linguagem excessivamente racionalista, baseada principalmente na palavra, oral ou escrita. Em certas ocasiões, a formação foi realizada de forma assimétrica, como na educação bancária, tão criticada na dinâmica da educação popular. Atualmente, no âmbito das CEBs e da Pastoral Popular, se prefere falar em “processos formativos”, para destacar que a formação nunca é concluída, para ninguém. E mais do que “cursos ou encontros de formação”, cada vez mais se usa a expressão e a prática das “rodas de conversa”.

A partir de 2020, em razão da pandemia da COVID-19 e as exigências de distanciamento físico, as CEBs passaram a utilizar os recursos das redes digitais e a transmissão via internet para atividades de formação, encontros e reuniões, além de celebrações e de atividades de cuidado mútuo. Isto evitou a paralisação total do trabalho de formação, mas é um campo em que as CEBs estão engatinhando e que demanda aprendizado. Muitas atividades que eram realizadas de forma presencial, envolvendo despesas com viagens e hospedagem, passaram a ser feitas em modo remoto. Tudo indica que a utilização das redes digitais e da internet nas CEBs e na pastoral popular veio para ficar, mesmo depois da pandemia. Mas será preciso cuidado para evitar excessos, a sobreposição de oportunidades oferecidas, sem abandonar a alegria e as trocas afetivas típicas dos encontros presenciais.

Superar estas contradições é um desafio constante. Assim como a busca de referenciais analíticos complementares aos usuais na formação das CEBs. Em geral, a Sociologia e a Teologia Bíblica e Pastoral têm sido fundamentais nos programas de formação. Mas seria muito bem vinda a ampliação deste universo de conhecimento, com a inclusão de aspectos da Antropologia Social, da Psicologia, da Comunicação, por exemplo.  Para fortalecer uma cultura de participação, de solidariedade e de compromisso social.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal das CEBs

 

 

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