Catadores/as de material reciclável dos municípios de Aracati, Itaiçaba, Russas, Morada Nova, Limoeiro e Quixeré, interior do Ceará, realizaram no dia 01 de junho, na cidade de Quixeré, a 10ª Macha de Catadores/as do Vale do Jaguaribe. O objetivo era dar visibilidade à categoria, denunciar as condições desumanas e a exploração de seu trabalho, exigir respeito e reivindicar direitos trabalhistas e socioambientais.
A marcha começou na Central de Reciclagem de Quixeré. As caravanas foram chegando com muita animação, vestindo a camisa de sua associação e trazendo faixas, cartazes e bandeiras. Ao som de hinos do movimento de catadores/as: encontros, abraços, sorrisos, cabeça erguida, conversa, café comunitário… Antônia, presidente da Associação de Catadores de Quixeré, acolheu as caravanas que vieram de outros municípios. Falou da importância da marcha e da alegria pela sua realização em Quixeré. Fizemos um momento de oração, recordando que Deus é Catador: cata pessoas nas ruas e nos lixões e recicla vidas, sonhos e forças para a organização e a luta por direitos e dignidade. Diana, da Assembleia de Deus de Itaiçaba, fez uma oração pelos catadores, suas organizações e suas lutas. E Pe. Ivanildo, pároco de Quixeré, invocou a benção de Deus sobre todos os participantes da marcha.
E saímos pelas ruas da cidade cantando, gritando palavras de ordem, denunciando a exploração dos catadores, conversando com a população sobre a importância da coleta seletiva e sobre o trabalho social e ambiental dos catadores, exigindo a não privatização dos resíduos sólidos, remuneração pelo trabalho não pago, fechamento dos lixões com inclusão socioeconômica dos catadores e aposentadoria especial para a categoria. Foi bonito e emocionante ver catadores/as tomarem o microfone e falarem de sua dignidade, de seus direitos: “Somos gente. Olhem para nós como uma pessoa comum. Exigimos respeito pelo catador” (Ozelina – Morada Nova).
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Brasil tem mais de 800 mil catadores/as de material reciclável. De acordo com o Atlas Brasileiro da Reciclagem, 9 de cada 10 kgs de embalagens recicladas no Brasil chega à indústria por meio do trabalho dos catadores e 64% das unidades de triagem municipal são geridas por associações ou cooperativas de catadores. Dos catadores associados em cooperativas, apenas 24% concluíram o ensino fundamental e 2% concluíram o ensino superior; 56% da categoria é formada por mulheres; 79% se declara negra e parda; 64% têm acima de 40 anos e 15% têm acima de 60 anos. Esses dados revelam que se trata de uma categoria de trabalhadores/as pobres, em sua maioria formada por mulheres e pessoas pretas.
Aqui no Vale do Jaguaribe, a Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte acompanha a organização e a luta dos catadores em cinco municípios. São 518 catadores organizados em 5 associações. Eles tiram das ruas e dos lixões toneladas de material reciclável. Com isso, não apenas garantem o seu sustento, mas movimentam a economia de reciclagem, fazendo o trabalho pesado e mal remunerado. E ainda protegem o meio ambiente. Em 2023, só os catadores inseridos no Programa Auxílio Catador, do Governo do Estado, recolheram 752 toneladas em Russas, 205 toneladas em Quixeré, 185 toneladas em Itaiçaba, 1000 toneladas em Limoeiro e 247 toneladas em Aracati.
Além de dar visibilidade à categoria, a marcha fortalece a organização e a luta dos catadores e catadoras na região: identidade de classe, autoestima, sujeito de direitos, consciência e organização política, força social, filhos e filhas de Deus.
A fé no Deus da vida, da fraternidade, da justiça e da paz, reúne catadores/as de diferentes Igrejas e religiões na luta por seus direitos. Se Deus é Pai/Mãe de todos, somos todos irmãos. Se o povo da bíblia falava de Deus como Pastor que cuida das ovelhas, nós também podemos falar de Deus como Catador/a que cata e recicla vida, sonhos, força e esperança. E tudo isso nos anima e nos sustenta na luta. Com Ele, seguimos catando vida, sonhos, força, esperança e reciclando nosso mundo com a força dos pequenos…