Quando na Praça São Pedro Jorge Mario Bergoglio foi anunciado Papa da Igreja Católica, estava assistindo TV na cantina dos funcionários da PUC-Rio. Ao meu lado um aluno de graduação em teologia, conhecia apenas de vista, e que diziam ser um conservador, amarrou a cara e saiu quando o argentino apareceu na sacada. Não entendi. Creio que ele esperava outro nome. Mas hoje entendo perfeitamente.
Confesso tinha ouvido falar bem pouco do emérito de Buenos Aires, achava que ele não era cotado para ser Papa. Mas sua aparição vestido de forma mais singela, dando boa noite e pedindo para rezar por ele, fez uma luzinha ser acessa no coração. Algo me dizia que com ele seria diferente.
No mesmo ano de sua eleição, na ocasião da JMJ no Brasil (2013), escrevi um pequenino texto com o seguinte título: “A visita do pastor e sábio”. Ao reler percebi que o escrito não só foi confirmado como superou toda e qualquer expectativa. Hoje preciso tomar cuidado para não cair em uma espécie de “papolatria”. Reproduzo um bom trecho aqui:
“Mas no Domingo, quando assisti a entrevista no Fantástico, quando simbolicamente ele fez o gesto de uma mãe que segura uma criança no colo, voltei à minha juventude quando com muito entusiasmo admirava bispos como D. Helder, D. Luciano Mendes, Dom Mauro Morelli idoso ainda cheio de sabedoria, e outros tantos. Quando, utopicamente, acreditava que a Igreja tinha um papel fundamental para ajudar a construir um mundo melhor. Uma Igreja não centrada em uma “salvação das almas”, mas preocupada com a vida eterna que começa aqui e agora.
Lembrei-me de duas palavras de dois papas. De João XXIII no discurso de abertura do Concílio Vaticano II que disse: Nos nossos dias, porém, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade… E do Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi: E acrescentemos ainda mais alguns outros sinais deste amor. O primeiro é o respeito pela situação religiosa e espiritual das pessoas a quem se evangeliza: respeito pelo seu ritmo que não se tem o direito de forçar para além da justa medida; e respeito pela sua consciência pelas suas convicções. Elas hão de ser tratadas sem dureza.
Francisco é o Papa da delicadeza. Pode-se discordar de uma colocação aqui e acolá, mas ele se demonstrou um grande Pastor e Sábio.
Pastor porque não está preocupado, fundamentalmente, com o certo ou o errado, mas com a vida e o bem estar das ovelhas. Podem-se citar inúmeras frases, em apenas cinco meses de pontificado, nas quais se percebe a sua intenção de criar, como ele bem diz: UMA LÓGICA DO ENCONTRO. Que alegria quando Walmir Junior, no teatro municipal do Rio, que foi meu aluno na PUC, abraçou e foi abraçado calorosamente pelo Pastor. Um Papa que toca e se deixa tocar porque não é um monarca, não é rei, não é príncipe, é aquele que apascenta as ovelhas.” (Publicado no Jornal Pilar da Diocese de Duque de Caxias, RJ, em agosto de 2013).
E ele sábio porque fala ao coração. E diga-se de passagem, com uma teologia que faz jus ao nome: a fé pensada e pensante, a interseção entre os seres humanos, a natureza e Deus, sem necessidade de demonstração de rigor acadêmico para se fazer relevante no meio do mundo.
E de lá para cá, só cresceu o meu desejo de abraçar este grande irmão. Mas sou apenas um teólogo de periferia. Um “mendigo de Deus”, isto é, um pedinte que tenta agradecer ao fato de falar algo sobre Ele. Talvez consiga algum dia ir à Praça São Pedro e ver ele de longe.
Mas este abraço seria também para afirmar que as intuições de dez anos atrás não só se confirmaram como foram além. É difícil caminhar com uma instituição onde há forte presença de “fiscais de alfandega”, de “generais de exércitos derrotados”, de gente que quer luxo e riqueza, e que preferem “se agarrar às próprias seguranças” para não correr o risco de se “acidentar ou enlamear-se” na lama das periferias territoriais e existenciais. Em aspas expressões de Francisco.
Sim Francisco, você trouxe esperança em meio a uma crise civilizatória. Nas universidades falam do Papa ecológico. No meio do povo se percebe a alegria de ter uma Papa tão próximo. Os povos originários sabem que podem contar com o Bispo de Roma para defender suas vidas. E aos pobres é anunciado o ano da graça do Senhor.
E nestes dias nos convoca para CAMINHAR JUNTOS: Sínodo. Convida-nos a unir nossas forças para responder aos desafios do tempo como irmãos e irmãs e não como senhores e escravos. Sim, meu irmão mais velho, nestes tempos apocalípticos, possamos proclamar como no livro bíblico escrito em meio a perseguição: “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,4).
Um forte e caloroso abraço daqui de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, RJ, Brasil.