Discipulado de mulheres adúltera…Discípula

Escrito no dia 08 de fevereiro de 2021 em memória de Santa Josefina Bakhita – no dia Mundial Oração e Reflexão contra o tráfico de pessoas.

 No Templo, sentado Jesus ensina (João 8,2-11).

Escribas e fariseus arrastam até Ele uma mulher, gritam: Em flagrante adultério a encontramos! Na Lei de Moisés… Na Lei de Moisés: a lapidação, o apedrejamento, para os dois (Dt 22,22-24; Lv 20,10). Flagrante adultério, a mulher estava sozinha, onde está o adúltero, o companheiro? Se for flagrante por que não o levaram também, só levaram a mulher? Jogaram a mulher aos pés de Jesus que nem um lixo.

Jesus ensinava, mas ele era Nazareno, era da Galileia, era mestre? Apesar das dúvidas, ele estava lá no Templo, havia gente ao seu redor escutando o que ensinava.

Escribas, fariseus, conhecedores da Lei, a conhecem de cor e salteado, por que perguntar a Jesus? Por que levar a mulher até ele?

A mulher é adultera não prostituta! Há diferença? Prostituição faz do corpo uma mercadoria. Prostituição é trabalho. Prostituição, exercício de uma profissão. Profissão que a sociedade exige, mas que estigmatiza. Prostituição estigma, exclusão, impureza. A Adúltera ofereceu seu corpo por amor, doou seu corpo no amor, amou e acreditou no amor. Mulher onde está quem te jurava amor? Quem pedia um penhor em nome do amor?

A mulher está sozinha, isolada e solitária no meio de seus acusadores. Quem jurou amor a abandonou. Abandonada, sozinha, desamparada, julgada, objeto usado e descartado. E, agora de novo virou objeto, instrumento, armadilha para colocar Jesus a prova.

Queriam sua opinião: como aplicar a Lei e punir a mulher. Se ele tivesse mandado executá-la, o teriam denunciado aos romanos por usurpar a autoridade jurídica do seu governo; se tivesse dito para soltá-la, iam apresentá-lo ao povo como inimigo da Lei de Moisés.

Escribas e fariseus, homens fazedores de leis, manipuladores de leis, acostumados a moldar as leis segundo seus interesses.

O homem Jesus abaixa-se, escreve na poeira. Abaixa-se, se envergonha de ser homem, não quer ser identificado como homem entre aqueles homens? Não ousa olhar nos olhos a mulher? Se abaixa ao nível da mulher e escreve. O que escreve? O pecado da mulher? Os pecados dos homens?

Escreve no pó. Escreve as leis dos homens que são lábeis, como a escrita na areia. Mudam segundo e seguindo o vento dos interesses. Escreve na poeira a memória de uma lei nascida no chão da libertação, que os homens da lei tornaram escravidão. Escreve a história de uma lei defesa dos fracos e pequenos que tornaram fardo pesado para os fracos e os pequenos, para as mulheres, as fracas e últimas na sociedade deles.

Do chão levantou o olhar, o que viu? Homens, fariseus e escribas apontando o dedo, exigindo: O que dizes?

Do chão levanta o olhar e, as palavras saindo de sua boca: quem não tem pecado …. Voltou a escrever e levantou o olhar o que viu …. Os viu saindo de mansinho, covardes demais para pegar uma pedra e lançá-la executando a Lei de Moisés, a lei deles!

O olhar encontrou o olhar da mulher: olhos que falavam de uma longa história de abusos, de sofrimento, de traição, de humilhação.

A palavra evocou: Mulher quem… Ninguém Senhor!

Mulher… Senhor. Duas palavras, o reconhecimento, a identidade, a dignidade restaurada, restituída. Mulher imagem e semelhança de Deus.

Senhor, mas não Kyrios, que significa dono. Senhor, Deus da vida, Deus na vida.

“Não te condeno… Não peques mais… Vá…”.

Não tem nada para condenar, talvez a adequação ao sistema, a passividade, a omissão, o silêncio de séculos. Talvez a sede de amor, de amar e ser amada. De oferecer o corpo no amor não na obrigação, na culpa…. Talvez…

Olhar de mulher que encontra olhar de homem… Novo jeito de olhar!

Vá, testemunha e anuncia o novo jeito de ser mulher, o novo jeito de ser homem.

Mulher! Anônima. Adúltera. Objeto.
Usada. Traída. Abandonada.
Reconhecimento.
Mulher! Evocação. Vocação. Envio.
Anuncio. Testemunho.
Dignidade.

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