Discipulado de mulheres
Maria de Magdala

Ainda o sol não despontou, Maria de Magdala não consegue ficar em casa, deve ir ao sepulcro, ver, tocar mais uma vez o corpo de Jesus, o Mestre, Aquele que a fez sonhar, que abriu seus horizontes. Aquele que se aproximou dela com um ‘que’ diferente dos outros homens e, lhe deu a coragem de voar.

Morreu, acabou, mas no fundo uma pequena luz bruxuleia. Tem que ir lá onde o corpo foi posto. Ir ao jardim como a Amada do Cântico vai à busca do Amado (Ct 3,4). Vai, mas não encontra o corpo, os olhos velados pelas lágrimas não reconhecem, a certeza da morte vela olhos e coração, não reconhece.

Moço, levastes o corpo, me diz, eu vou buscar… Maria… Mestre!  Na agitação da busca, no anseio de encontrar o corpo do Mestre morto, um chamado, a voz, o reconhecimento. A ovelha reconhece a voz do Belo Pastor. A discípula reconhece a voz do Mestre. A Amada reconhece a voz do Amado. Abraçar, beijar, sentir, ouvir, tocar, apalpar, a intimidade mais uma vez. Mas não é mais tempo de intimidade, é tempo de ir aos irmãos e irmãs anunciar: Jesus, o Mestre vive! Apostola Apostolorum!

A hora de ir pelo mundo, não é mais o tempo de ficar abraçando o Mestre, o Ressuscitado. Ir pelo mundo anunciar: a Novidade vive. Novidade, Nova Criação: no jardim o homem novo e a mulher nova. A Boa Nova da vida em igualdade, em parceria, no serviço, na partilha, na unidade, no amor, recomeça.

E, acorda a memória de outros encontros, das outras Marias: Maria a Mãe, a Mulher; Maria de Betânia, mulher do perfume e profecia. Memória de Marta, intrépida na busca da saúde, intrépida no crer. Memória de Samaritana, parceira na evangelização. Memória da Adúltera, excluída, marcada, mulher vida nova.

Encontros que marcam a hora de desvendar o mistério. Mistério que é Ministério do corpo da mulher assinalado pela fluidez, pelo transbordar do amor. Ministério antecipação, universalidade, empatia no amor, da profecia, da gratuidade, da oblação geradora de vida, do anúncio da vitória da vida sobre a morte. Mistério que é fluidez, dinamismo, abundância, transformação, vida.

Tem que nascer de novo, tem que nascer do alto (3,3). A mulher como ninguém entra em sintonia com Jesus: ela entende de gestação, de parto de nascimento. Ela vive em seu corpo a dor e alegria do mistério da vida.

Vem, chegou o dia de adorar a Deus em espírito e verdade. És renascida, vá e não volte a pecar mais. Adorar, espírito, verdade, renascer: é alguém que não usa a lei em favor de seus interesses, começo de relações novas.

Acredito! Tu és o Cristo! Tu és a ressurreição! Ousadia de mulher que quando ama rompe barreiras, preconceitos, penetra no âmbito exclusivamente masculino, ocupa espaços, assume, exercita o poder dando-lhe novo sentido: o sentido da vida.

E tendo amado os seus os amou até o fim. Amor sem medida: quebra o vaso, derrama o bálsamo, perfuma a casa inteira, que até hoje nos perfuma. Cheiro que anuncia, profetiza a radicalidade, a totalidade do amor. Amor que sintoniza com o amado intuindo até o mais profundo seu sentir, seu projetar, seu esperar.

Mulher eis teu filho! Amor materno, oblação, útero que acolhe os filhos gerados pelo Filho. Amor materno que ensina ao coração do Filho a se tornar útero que gera, gesta, dá à luz a comunidade: Do coração aberto pela lança saiu sangue e água.

Mulher porque choras? Mulher a quem procuras? Mulher… Maria! No jardim Eva, a mãe dos viventes. No jardim Maria de Magdala chora, busca, escuta a voz. Ouve um chamado, um nome. Nome novo, nome da nova mulher: Apostola Apostolorum.

No terceiro dia no jardim
Chorosa estava Maria
Procurando um morto
Procurando um sonho
Procurando…
Jardineiro, roubaram meu homem
Jardineiro, roubaram meu sonho
Jardineiro, roubaram meu Mestre.
Maria, o nome ressoa
A memória acorda
A identidade desperta
No jardim a harmonia revive
No jardim mulher-homem
No jardim cara a cara
Na igualdade
Na reciprocidade
Na alteridade
Na relação
Mulher e homem poema de Deus
Presença que abençoa
Abençoa a Luz
Abençoa a Vida
Abençoa o Sábado
Jesus Göel!

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