O tema da CF-22 é Fraternidade e Educação. O lema é “Fala com sabedoria; ensina com amor” (Pr 31,26).
Este lema, tirado do livro dos Provérbios, é uma sugestão interessante para uma reflexão sobre a Educação. O livro dos Provérbios se encerra com um poema que enaltece o papel da mulher na sociedade israelita (Pr 31,10-31). É um poema alfabético, ou seja, cada estrofe começa com uma letra dento da sequência do alfabeto hebraico. É, portanto, uma peça literária muito bem construída. Já na primeira estrofe (Pr 31,10) a mulher é definida como “forte” ou “talentosa”, ressaltando a sua presença dentro da dinâmica de vida dentro de uma casa israelita. Ao longo do poema certas características desta mulher são destacadas: eficiência, capacidade, esperteza, segurança, confiança, empenho, dedicação. Ela está totalmente voltada para a manutenção da casa.
Entre estes trabalhos enumerados no poema está a formação e educação das crianças. Naquela sociedade, uma criança pertencia à Mãe desde o seu nascimento até a idade adulta. Cabia a Mãe formar para a vida. A Mãe era a única professora que uma criança tinha. Ela transmitia a língua, os costumes, as tradições, a religião, as devoções, a história, a fé. Uma criança se tornava aquilo que a Mãe transmitia a ela. Por isso mesmo aquela mulher que eleva a voz do meio da multidão e diz para Jesus “Feliz as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” (Lc 11,27) ela na verdade está elogiando Maria. É como se ela dissesse: “Rapaz, você é bom porque tua Mãe te educou bem!”
Foi neste ambiente caseiro que Jesus se criou. É bom lembrar que antes de Jesus ser um formador ou um educador, ele foi formado dentro de sua casa, por sua Mãe. Mas também pelo pessoal de sua aldeia de Nazaré. Nesta escola/comunidade Jesus ia crescendo em “sabedoria, estatura e graça diante de Deus e das pessoas” (Lc 2,52). Ao longo deste seu crescimento Jesus pode observar o trabalho dentro de casa, o trabalho na roça, as dificuldades da vida camponesa, a ocupação do exército romano, as taxas e impostos dos governantes, a pobreza, as doenças, a dor, a miséria e a morte. Também via a manipulação da religião por parte das autoridades religiosas, que escondiam a presença direta de Deus por trás de uma cortina espessa de normas e de leis, de obrigações e de imposições que tornavam impossível para o povo a total fidelidade aos preceitos da Torá. Mas também via a fé do povo que se reunia na sinagoga em busca de alento e de consolo, buscando forças para resistir às dificuldades e esperança de um futuro melhor para si e para os seus.
Numa palavra, Jesus testemunhou durante um bom tempo, lá em Nazaré, que o povo pobre e humilde das aldeias era como um rebanho sem pastor (cf. Mt 9,36-37; Mc 6,34). Percebia as dificuldades das pessoas diante de seus líderes religiosos, que as consideravam como ignorantes e pecadoras (Jo 7,49; 10,34). Percebia que as autoridades religiosas impediam as pessoas de entrar no Reino porque detinham as chaves e não permitiam que ninguém entrasse (Mt 23,13).
Grande parte de sua vida Jesus passou em Nazaré, nas cidades à beira do lago de Genesaré, caminhando pelas estradas da Galileia. Ele participou da religiosidade resistente dos pobres e comungava da esperança difusa do povo que em breve chegaria o tempo da libertação prometido pelos profetas desde os tempos mais antigos (cf. Lc 1,71-73). Foi dentro desta realidade conflitiva, complexa e tensa que ele foi se formando. Crescendo e se formando dentro deste ambiente onde sobressaíam a exploração econômica das aldeias, a desintegração crescente da sociedade, a manipulação religiosa e os diferentes brados de revoltas, encabeçadas por zelotes, sicários ou mesmo bandidos, foi que Jesus deu um rumo para sua vida. Diante de tudo o que ele estava vendo, Jesus resolveu se tornar um educador popular itinerante, indo de aldeia em aldeia com uma mensagem simples e direta: “cumpriu-se o tempo. O Reino de Deus está próximo. Mudem de vida e acreditem no Evangelho” (Mc 1,15).
Ao longo de toda a sua vida pública Jesus fez exatamente isso: falou com sabedoria e ensinou com amor! Vamos aprofundar esta missão de Jesus numa próxima Coluna.