Celebramos no dia 14 de novembro o Dia Mundial dos Pobres. Esse dia foi instituído pelo Papa Francisco em 2016 para recordar à Igreja a “predileção de Jesus pelos pobres” e para que “as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e mais carentes”.
Esse apelo evangélico de Francisco ecoa com muita força no atual contexto de crescimento da pobreza e da miséria em nosso país. Se a desigualdade social sempre foi a característica mais determinante de nossa sociedade, ela se tornou ainda mais dramática e escandalosa nos últimos tempos com a redução/destruição das políticas sociais nos governos Temer-Bolsonaro e com a pandemia da Covid 19. Estudo realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional revela que mais de 50% da população brasileira vive em situação de insegurança alimentar. Dados do Ministério da Cidadania (junho de 2021) indicam que 23% da população brasileira vive em situação de pobreza ou miséria. No Nordeste esse índice chega a 40%.
O mais grave e escandaloso é que isso se dá num contexto de recordes de safra do agronegócio e de lucro dos grandes bancos. Enquanto o Brasil volta ao mapa da fome, o agronegócio e os bancos se enriquecem cada vez mais. O município de Limoeiro do Norte – CE, por exemplo, com o segundo maior PIB agropecuário do Estado, tem 35% de sua população vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza. Mais de 50% do orçamento federal esse ano já foi gasto com juros e amortizações da dívida “pública”. Isso mostra que crescimento econômico não significa melhoria de vida da população e que a política econômica do país está voltada para os interesses dos grandes grupos econômicos. E exige empenho de todos na luta por uma política econômica que esteja a serviço das necessidades da população.
É muito importante o esforço e a criatividade de cada pessoa/família para garantir o seu sustento: produção, comércio, serviços, arte, bicos etc. É muito importante a solidariedade de nossas comunidades, de outras igrejas e religiões e de outros grupos da sociedade com essas pessoas/famílias em situação de pobreza ou miséria: alimentos, medicamentos, necessidades emergenciais etc. E são muito importantes as experiências e articulações de economia popular solidária no campo e na cidade: tecnologias sociais, agroecologia, feiras populares, cooperativas etc.
Mas nada disso substitui a necessidade e o dever do Estado de elaborar e garantir uma política econômica voltada para a satisfação das necessidades da população. Uma política econômica que articule ações emergenciais (Bolsa Família, Bolsa Catador, equipamentos sociais para população de rua etc.) e ações mais estruturais (reforma agrária e urbana, reforma tributária, proteção ambiental, direitos trabalhistas, geração de emprego, moradia, saúde, cotas para negros etc.) com a macropolítica econômica do país (voltada para as necessidades do povo e não para os grandes grupos econômicos) e o empenho por uma nova ordem econômica mundial (taxação do mercado financeiro, justiça ambiental, organismos políticos de controle da economia etc.). Cada uma dessas medidas tem a sua importância. Basta pensar no impacto que um programa como o Bolsa Família tem na vida das famílias beneficiárias e na economia local. No Vale do Jaguaribe – CE, por exemplo, ele atinge cerca de 38% da população. Mas ele precisa estar articulado com outras ações mais estruturais e com a macropolítica do Estado.
Todos sabemos que isso não é fácil nem se dá de uma hora para outra. É preciso muito empenho e organização dos setores populares e articulação com outras forças da sociedade. Não podemos nos iludir, esperando que essa mudança venha das classes dominantes e das forças políticas que representam seus interesses. Ela vem de baixo, da resistência e das lutas cotidianas do povo. Ganha força na medida em que vai gerando e fortalecendo articulação dos setores populares, sensibilizando outros setores da sociedade, interferindo nos rumos da política nacional e fortalecendo a solidariedade internacional. Está em jogo uma forma de entender (mentalidade) e de organizar (política) a economia que esteja a serviço da satisfação das necessidades do povo e não dos interesses dos grandes grupos econômicos: Uma economia a serviço da vida!